Descrição de chapéu Independência, 200

Luta de mulheres pela independência inspira podcast e livro

Produções contam histórias de heroínas que defenderam diferentes projetos de emancipação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Belo Horizonte

A tela "Independência ou Morte", finalizada em 1888 por Pedro Américo, se transformou em símbolo da independência do Brasil em vários sentidos, inclusive como uma representação masculina.

A pintura posiciona dom Pedro 1º no centro do quadro, com a espada em riste, rodeado por homens a cavalo que o aclamam.

A consagração dessa imagem tem deixado de lado os demais projetos de independência em voga no período e ocultado a participação de outros agentes nessa luta, como as mulheres.

no canto da pintura, sentada a uma mesa, está a imperatriz Leopoldina, usando um vestido da cor creme. ela é rodeada por homens em roupas formais, que gesticulam na reunião
Tela de Georgina de Albuquerque (1922) ilustra a reunião em que a imperatriz Leopoldina discute a Independência do Brasil - Senado Federal

Relembrar essas personagens é o objetivo do podcast Mulheres na Independência, da Globoplay, e do livro "Independência do Brasil: As Mulheres que Estavam lá", editado pela Bazar do Tempo. As duas produções serão lançadas em agosto: o podcast nesta quarta, dia 3, e o livro no dia 13 (sábado).

No caso do podcast, os episódios, semanais e com duração de cerca de 25 minutos, estarão disponíveis em aplicativos como Spotify e Deezer toda quarta-feira até o dia 7 de Setembro.

As produções travam uma disputa pela memória do bicentenário da Independência por meio da perspectiva de gênero, segundo a roteirista Antonia Pellegrino, idealizadora do podcast e coorganizadora do livro. As iniciativas têm a participação da historiadora Heloisa Starling, que assina a pesquisa ao lado dos pesquisadores do Projeto República (UFMG).

"Uma forma de fazer isso é perguntando: onde é que a gente estava nessa história? Qual foi o nosso papel? Por que ele foi apagado?", questiona Pellegrino.

Foram selecionados seis nomes para o podcast (um por episódio) e sete para o livro.

sentadas num banco, estão Heloísa Starling e Antonia Pellegrino, sorrindo para a foto
A historiadora Heloísa Starling e a roteirista Antonia Pellegrino - Stella Ribeiro/Divulgação

Em áudio, as histórias serão contadas de forma cronológica, compondo um arco dramático que parte da conspiração de Hipólita Jacinta durante a Inconfidência Mineira, em 1789, e alcança o papel político da imperatriz Leopoldina para a proclamação da Independência, em 1822.

Entre Hipólita e Leopoldina, serão apresentadas as trajetórias de Bárbara de Alencar, heroína da Revolução Pernambucana (1817), e de três mulheres que, de diferentes formas, participaram da guerra pela Independência na Bahia: Maria Quitéria de Jesus, Maria Felipa de Oliveira e Urânia Vanério.

São figuras que, como ressalta Pellegrino, foram esquecidas ao longo do tempo ou têm sido pouco lembradas. Ela cita a marisqueira negra Maria Felipa, líder de um dos três batalhões de mulheres que incendiaram dois navios de guerra portugueses na ilha de Itaparica.

"A única história [desses batalhões] que sobreviveu por meio da oralidade foi a de Maria Felipa. Mas tem outras histórias ali que não foram contadas, por apagamentos ou esquecimentos estratégicos", afirma a roteirista.

Outro exemplo é Urânia Vanério, uma garota baiana de apenas 10 anos que escreveu um panfleto contra a tirania da Coroa portuguesa. O nome dela foi descoberto recentemente pela historiadora Patrícia Valim. "É muito bonito lembrar uma mulher que ficou 200 anos no anonimato, falar seu nome e sobrenome, e contar algo que se sabe de sua história", diz Pellegrino.

A única mulher que está no livro, mas não no podcast, é a alagoana Ana Lins, que participou das revoluções de 1817, a Pernambucana, e de 1824, conhecida como Confederação do Equador.

Cantoras e escritoras

Para buscar a comunicação com um público mais amplo, o podcast compõe sua narrativa utilizando-se do formato de microsséries dramáticas.

Além de entrevistas com historiadoras, os episódios trazem extras que dão dinamismo à produção, como a participação das cantoras e compositoras Teresa Cristina e Zélia Duncan.

O livro, por sua vez, busca aprofundar os perfis dessas mulheres. As organizadoras convidaram cinco autoras, escritoras ou historiadoras, para colaborar na escrita: Cidinha da Silva, Marcela Telles, Socorro Acioli, Virgínia Siqueira Starling e a já mencionada Patrícia Valim.

O projeto, que surgiu no último 7 de Setembro e ganhou corpo a partir de janeiro deste ano, inspira ainda três mesas no #FestivalAgora, que ocorrerá nos dias 13 e 14 de agosto no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio).

A obra terá lançamento no dia 13 dentro do festival. "Independência do Brasil: as Mulheres que Estavam lá", livro de agosto do clube de assinatura da Bazar do Tempo, entra em pré-venda no dia 22 e estará disponível nas livrarias a partir de setembro.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.