'Errar é humano, trabalhar no IBGE está se tornando desumano', diz sindicato
A Assibge, sindicato nacional de funcionários do IBGE, divulgou nota na noite desta sexta (19) afirmando que a correção dos dados da Pnad "expressa a gravidade da situação a que chegou o IBGE".
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgada ontem, continha erros. O problema teria ocorrido porque o peso das regiões metropolitanas foi superestimado em alguns Estados.
Sob o título "Errar é humano, trabalhar no IBGE está se tornando desumano", o sindicato diz que há uma crise de gestão no instituto.
A entidade afirma ainda que corte feito pelo governo de cerca de R$ 500 milhões do Orçamento das pesquisas para 2015, equivalente a cerca de 70% dos recursos inicialmente previstos afeta diretamente levantamentos como a Contagem Populacional e o Censo Agropecuário.
"Na verdade, a fórmula de poucos recursos humanos e materiais, muito trabalho e intensa pressão por cumprimento de prazos vem sendo utilizada cada vez mais intensamente no IBGE. Seu resultado, em algum momento, acaba sendo a disseminação à sociedade de informações inexatas."
Segundo a nota, desde o encerramento, no final de agosto, da greve de 79 dias, "aumentou ainda mais a pressão para colocar os trabalhos em dia".
No entanto, diz o sindicato,"os recursos e a mão de obra necessários para cumprir o plano de trabalho do Instituto escasseiam a cada dia mais, o que coloca em risco o próprio resultado do trabalho desenvolvido em diversas frentes pelo IBGE".
O MOTIVO
De acordo com o IBGE, os problemas nos dados da Pnad ocorreram porque a Coordenação de População enviou projeções incorretas de sete Estados em que há mais de uma região metropolitana. É o caso de Ceará, Pernambuco, São Paulo, Paraná, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
A Pnad divulga resultados para cada unidade federativa e para nove regiões metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre).
Nos Estados dessas nove regiões metropolitanas, a calibração dos dados é feita considerando a projeção de população para a região metropolitana da capital e para o restante do Estado, separadamente.
No sete Estados afetados pelo erro existem outras regiões metropolitanas, além das localizadas nas capitais.
De acordo com o IBGE, no processo de expansão da amostra da Pnad foi utilizada, equivocadamente, a projeção de população de todas as áreas metropolitanas em vez de usar apenas a projeção da região metropolitana na qual está inserida a capital.
Segundo Cimar Azeredo Pereira, coordenador do instituto, a renda das áreas metropolitanas é maior e o peso delas foi superestimado nos sete Estados. Desse modo, as maiores mudanças ocorreram na renda e no índice de Gini.
INTERFERÊNCIA
O diretor de pesquisas do instituto, Roberto Olinto, disse que não há interferência política na alteração dos resultados.
"A questão se resume a um erro técnico. Não houve a menor pressão nem interferência."
Para a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, apesar do erro, a análise dos dados continua a mesma. "A notícia não mudou. O Gini [medida da desigualdade] segue constante, estável."
A greve, segundo Olindo, não afetou o trabalho da Pnad nem a coleta dos dados, encerrada no começo deste ano.
Ele afirma que o erro foi identificado a partir de contatos de usuários da pesquisa, como consultorias e órgãos de governo. Entre eles, estão o Ipea e Ministério de Desenvolvimento Social.
Para Bivar, se for identificado que algum ato foi intencional, haverá punição.
"Precisamos avaliar o que ocorreu."
'CHOCADO'
Na noite desta quinta-feira, a ministra Miriam Belchior (Planejamento) afirmou que o governo federal "está chocado" com os erros nos resultados da Pnad.
Questionada sobre eventual demissão de Wasmália Bivar, Belchior preferiu não se posicionar. O IBGE é uma entidade vinculada ao Planejamento.
"O governo decidiu duas coisas: constituir uma comissão de especialistas independentes pra avaliar a consistência da Pnad. Segundo, constituir uma comissão de sindicância pra encontrar as razões dos erros e eventualmente as responsabilidades funcionais porque isso aconteceu", disse a ministra.
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