Crescimento da economia deve dominar o G20
Representantes da sociedade civil e do mundo empresarial saudaram nesta sexta-feira, 14, os bons resultados alcançados pelo G20 na crise de 2008/09, mas deixaram claro que essa etapa está superada e, agora, "a legitimidade e credibilidade do grupo estão em jogo em Brisbane", como diz Tim Costello, presidente do C20.
C20 é a sigla para o braço da sociedade civil engajado no processo das cúpulas do G20. Sua contraparte no mundo empresarial é o B20 (B de "business").
Mas é diferente a perspectiva de ambos os grupos sobre a maneira pela qual o G20 se legitimaria.
Para o C20, "os líderes mundiais precisam concordar com medidas que enfrentem a extrema e crescente desigualdade entre os ricos e os cidadãos comuns".
Para o B20, o problema não está aí, mas na necessidade de reformas tributária, comercial, trabalhista e de produtos.
Traduzindo: a sociedade civil cobra ações do governo contra a desigualdade, ao passo que o mundo empresarial cobra menos presença estatal.
Mas os dois concordam em apoiar o que será o principal resultado da sétima cúpula do G20, que se encerra neste domingo, 16.
Trata-se do compromisso de adotar um pacote de investimentos capaz de fazer o mundo crescer em cinco anos ao menos 1,8 ponto percentual acima do que se previa no final de 2013, quando se iniciaram os preparativos para a cúpula.
Jin Linpeng/Xuinhua | ||
Brisbane (Austrália), onde se reúne, até domingo, o grupo de países conhecido como G20 |
MAIS CRESCIMENTO
Cada país apresentou suas próprias iniciativas, no total de quase mil. O Brasil apresentou sete propostas.
Em tese, se efetivamente implementadas farão a renda mundial aumentar em US$ 2 bilhões, quase um Brasil inteiro.
Mas o aumento em si, embora aprovado pelo C20, pode não ser suficiente.
Para Tim Costello, "é preciso ver os planos país por país para saber se passam no teste dos 20%" (alusão ao fato de que o crescimento deveria beneficiar os 20% mais pobres do planeta).
Paralelamente às iniciativas, a cúpula aprovará a criação de um Núcleo de Investimento Global, uma estrutura provisória para aproximar o setor privado -principal financiador dos projetos- do setor público, que definirá quais tocar.
EVASÃO FISCAL
Um segundo pacote a ser aprovado domingo trata do combate à evasão fiscal.
Será criado um sistema padronizado de informações para evitar que multinacionais lucrem num país mas declarem seus ganhos em outro, no qual a taxação é baixa ou inexistente (os chamados paraísos fiscais).
O empresariado não critica diretamente essa iniciativa, mas, na entrevista coletiva do B20, ficou evidente o temor de que haja uma dupla tributação, no país de origem dos lucros e no país em que os ganhos são declarados.
Também sairá um plano de ação contra a corrupção, que, no entanto, enfrentou dificuldades em um ponto: a China apresentou objeções às iniciativas para identificar quem é, de fato, o beneficiário final de empresas que escondem o proprietário em semi-anonimato, livrando-o da tributação.
O principal ponto em que o G20 ficará devendo é o da mudança climática.
"Como os países do G20 respondem por 80% das emissões globais de gases contaminantes, a mudança climática deveria ser parte formal de sua agenda", reclama Dermot O'Gorman, responsável por Clima e Sustentabilidade no C20.
Mas os negociadores oficiais argumentaram, o tempo todo, que mudança climática é tema para ser tratado na ONU e não no G20.
Haverá, é claro, uma menção à questão no comunicado final, mas muito longe da ênfase pretendida por Dermot O'Gorman.
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