Democracias dão menos lucro no mercado mundial de títulos de dívida
As ditaduras vivem um momento quente no mercado mundial de títulos.
Nos últimos 12 meses, os títulos de dívida nacional de países emergentes sob governo autocrático ofereceram retorno médio de 15%, ante apenas 8,6% para os títulos de países em desenvolvimento considerados democráticos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Eles também registraram retornos melhores ao longo dos últimos 24 meses, ainda que a vantagem desapareça caso o período computado seja mais longo.
Apesar de todos os aspectos negativos comuns aos regimes autoritários —abusos dos direitos humanos, restrições à liberdade de expressão—, em muitos casos regimes autocráticos podem ser compensadores para os detentores de títulos dispostos a fechar os olhos a esse tipo de coisas, em razão da estabilidade que oferecem.
O fenômeno não é necessariamente novo, mas dois acontecimentos recentes serviram como lembrete dos ganhos e perdas desproporcionais que uma situação como essa pode disparar.
Em 12 de abril, os credores da Venezuela, país classificado como "não livre" pela organização Freedom House, de Washington, obtiveram excelente retorno quando o presidente Nicolás Maduro honrou o pagamento de US$ 2,5 bilhões em títulos da dívida, ainda que o país esteja enfrente problemas para bancar suas importações de alimentos.
Dois dias antes, El Salvador, que vive sob regime democrático há 25 anos, decretou moratória devido a uma disputa entre o presidente e um partido da oposição que impediu que fosse honrado um pagamento de US$ 29 milhões a um fundo de pensão.
"Os investidores tipicamente encaram os títulos de um regime autocrático de maneira muito negativa e atribuem a eles uma alta probabilidade de calote", disse Victor Fu, diretor de estratégia para mercados emergentes soberanos na Stifel Nicolaus & Co.
Mas, "em um regime autocrático, que o governo continue no poder é considerado mais importante do que garantir o bem-estar do povo. Como um calote na dívida provavelmente aumenta a probabilidade de o governo ser derrubado, o partido governante fará todo o possível para impedir acontecimentos negativos na frente do crédito".
Ao longo dos 12 últimos meses, os investidores em títulos nacionais venezuelanos denominados em dólares obtiveram retornos de 55%. Isso representa mais de 34 pontos percentuais de vantagem sobre os títulos de Gana, o país democrático com melhor desempenho nesse indicador.
SEMILIVRE
A Turquia, que a organização Freedom House classifica como "semilivre", pode ser o mais recente exemplo dos benefícios que os regimes autocráticos conferem aos detentores de títulos de dívida.
O governo cada vez mais autocrático do presidente Recep Tayyip Erdogan já se provou amistoso para com os credores, segundo Fu, e seus títulos de dívida denominados em dólares superaram a média dos emergentes em 2017, depois de rebaixamentos que causaram uma onda de vendas no fim do ano passado.
Dos seis países emergentes que decretaram moratórias sobre suas dívidas no século 21, nenhum foi caracterizado como autocracia plena pela Freedom House.
A mais recente moratória de um país classificado como "não livre" foi a da Rússia, em 1998. O petróleo caíra para perto de US$ 10 por barril, e o país deu o calote em US$ 40 bilhões de títulos de dívida locais. Daquela confusão emergiu, em São Petersburgo, um antigo agente do KGB chamado Vladimir Putin.
"Obviamente os investidores amam a Rússia, com Putin no poder", disse Jim Barrineau, codiretor de títulos de dívida de emergentes na Schroder Investment Management. "Que exista uma democracia não é necessariamente uma condição necessária."
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Calculadoras
O Brasil que dá certo
s.o.s. consumidor
folhainvest
Indicadores
Atualizado em 30/05/2024 | Fonte: CMA | ||
Bovespa | -0,86% | 122.707 | (18h30) |
Dolar Com. | +1,04% | R$ 5,2088 | (17h00) |
Euro | +0,19% | R$ 5,6187 | (18h31) |