Prefeitura desclassifica vencedor provisório de PPP da luz em SP 

Concorrência de R$ 7,2 bilhões é pela rede de iluminação pública da capital

Funcionários substituem lâmpadas em poste no viaduto do Chá no centro de São Paulo
Funcionários substituem lâmpadas em poste no viaduto do Chá no centro de São Paulo - Edilson Dantas/Folhapress
Taís Hirata
São Paulo

O consórcio Walks  foi desclassificado pela comissão de licitação da prefeitura de São Paulo da concorrência de R$ 7,2 bilhões pela rede de iluminação pública da capital paulista. 

Com isso, o grupo concorrente, liderado pela FM Rodrigues, terá sua documentação analisada para, então, ser declarado o vencedor definitivo do certame. 

Tudo indica, porém, que a batalha jurídica em torno da licitação --que já dura dois anos-- deve prosseguir.

O consórcio Walks já afirmou que pretende entrar com representação no Ministério Público para que o órgão investigue o certame como um todo, segundo o advogado Bruno Aurélio, sócio do escritório Tauil & Chequer Advogados que representa o grupo. 

Além disso, há ao menos três ações judiciais apresentadas pelo Walks  em curso que poderiam afetar a decisão. Caso nenhuma delas tenha efeito, novas ações serão apresentadas, disse ele. 

"[O questionamento] nunca vai parar. Essa licitação não vai ser aberta, e ninguém vai ganhar", afirmou Aurélio. 

Para a defesa da FM Rodrigues, há uma perspectiva de que a disputa se encerre, em uma perspectiva otimista, em até 30 dias, mas é difícil prever um prazo, segundo Antonio  Araldo Ferraz Dal  Pozzo, sócio-fundador do escritório Dal Pozzo Advogados e responsável pela defesa do consórcio da FM. 

"Provavelmente, o perdedor, independente de quem for, nós ou eles, não vai se conformar tão facilmente. Pode ter embates pela frente."

A decisão de desclassificar o consórcio Walks foi tomada nesta quarta-feira (7), com base em uma decisão da 7ª vara da Fazenda Pública.

A comissão considerou que a Quaatro, uma das participantes do consórcio, é inidônea para firmar contratos públicos —já que a Alumini, uma de suas subsidiárias, foi barrada pela CGU (Controladoria-Geral da União) após denúncias feitas no âmbito da Operação Lava Jato.

Além da Quaatro Participações, integram o consórcio a WPR (subsidiária do grupo WTorre) e a KS Brasil Led Holdings. 

O grupo havia saído vencedor da fase de preços, na última semana, com oferta mais barata que a da concorrente FM Rodrigues.

Após o anúncio da decisão, por volta das 12h, advogados da Walks protestaram, criando una confusão na sessão, que durou cerca de três horas.

Na reunião, ainda foram abertos os envelopes com a documentação das garantias de cada consórcio --a análise, porém, pode demorar semanas.

A prefeitura afirma que o consórcio Walks não tem garantias suficientes e já havia tentado barrar sua participação, até então sem sucesso.

IMBRÓGLIO

Na terça, o Walks apresentou um recurso administrativo questionando uma das garantias de sua concorrente, a FM Rodrigues, e pedindo sua desclassificação --a ideia era que, caso fosse desclassificado, tentaria deixar a licitação sem concorrentes válidos. 

O recurso, porém, foi negado na manhã desta quarta.

A abertura dos envelopes, realizada na última semana, ocorreu em meio a uma briga judicial, em que Prefeitura e FM Rodrigues tentavam barrar a participação da Walks.

O anúncio das ofertas só foi feito por determinação da Justiça de São Paulo --nela a Walks saiu vencedora, com proposta de de R$ 23,25 milhões por mês, contra R$ 30,158 milhões ofertados pelo concorrente FM Rodrigues.

A FM Rodrigues critica a participação da Quaatro, que detém 99,9% das ações da Alumini, no consórcio. A Alumini inclusive chegou a dividir a prestação de serviços de luz com a FM Rodrigues até março de 2017, quando foi barrada pela CGU.

A Secretaria dos Serviços e Obras chegou a dizer que a participação da Quaatro era uma espécie de "maquiagem" para a atuação Alumini.

Para o advogado da Walks, existe uma formatação jurídica que distingue controladas e controladoras, e que essa diferenciação seria uma "prática de mercado".

Outra crítica da FM Rodrigues é o preço apresentado pela concorrente, que seria irreal.

"A proposta feita pelo nosso consórcio é séria, correta, sem uma previsão de alteração de preço. Não adianta você estabelecer um preço irreal para ganhar e depois tentar rever lá na frente. Isso é um mal muito comum", afirma Dal Pozzo.  

O Walks rebate a crítica, afirmando que o melhor preço se dá porque o grupo é mais eficiente e consegue comprar melhor, disse Aurélio. 

Enquanto o imbróglio se arrasta, quem opera a rede de luz na cidade é a própria FM Rodrigues, em um contrato temporário emergencial.

O contrato

A PPP está entre as parcerias público-privadas municipais mais volumosas já planejadas no país. Ao longo dos 20 anos de concessão, a previsão é que a prefeitura pague R$ 7,2 bilhões em contrapartidas. 

Em troca, as empresas devem expandir, melhorar e operar a rede de iluminação pública da cidade. 

Hoje, a prefeitura gasta cerca de R$ 13 milhões com iluminação. A projeção é que as despesas caiam cerca de 30% com a parceria. 

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