Como é o recomeço de quem vendeu a marca

Empresários usam experiência em novos negócios e aprendem a lidar com estrutura mais enxuta

Júlia Zaremba
São Paulo

Começar um novo negócio com a experiência de já ter sido dono de uma empresa ou startup consolidada no mercado pode ajudar no sucesso da nova operação. Mas a bagagem não garante que o trabalho será fácil. 

“Muitas vezes, os desafios serão maiores, já que o empresário não terá mais vários funcionários para fazer tudo para ele”, diz Sandra Fiorentini, consultora do Sebrae-SP. “Agora, ele terá que cuidar da parte financeira, de compras, vendas e, se bobear, vai até embalar os produtos.”

Após vender a sua participação na EasyTaxi, aplicativo do qual é um dos fundadores, em 2014, Tallis Gomes, 30, abriu a Singu, plataforma de serviços de beleza e bem-estar. Saiu de uma empresa avaliada em torno de R$ 1 bilhão para outra que ainda está em seus primeiros passos.

O empresário afirma que a experiência adquirida facilitou as tomadas de decisão. Ele optou por contratar poucos funcionários, mas muito bem qualificados, e não expandir muito o negócio, focando no eixo Rio-São Paulo.  ​

O empresário Tallis Gomes, 30, na sede da Singu, na zona oeste da capital paulista - Eduardo Anizelli/Folhapress

Hoje, Gomes precisa se envolver muito mais em processos operacionais, o que pode ser difícil para quem estava acostumado a dar ordens.

“Somos preparados para sempre ascender na carreira, então recomeçar do zero pode abalar o profissional”, diz Marcus Quintella, especialista em empreendedorismo e novos negócios da FGV. 

Assim como Gomes, o cientista da computação Camilo Telles, 43, também apostou em um nicho diferente do qual trabalhava. Ele é cofundador da Zetks, um sistema de compra de ingressos usado em grandes eventos.

Telles vendeu a empresa em 2012, época em que tinha um faturamento de R$ 100 milhões. Quatro anos depois, abriu a Antecipa, empresa de antecipação de recebíveis, uma forma de linha de crédito. Fatura hoje em torno de R$ 2 milhões, tendo investido inicialmente R$ 450 mil. 

A estrutura é enxuta, com sete funcionários e bases em Salvador e São Paulo. 

Telles afirma que investir dinheiro no desenvolvimento do produto e nos funcionários, em vez de em coisas secundárias, como escritórios elaborados, e saber se comunicar de forma eficiente são algumas das lições que aprendeu e que aplica na Antecipa.

FAMÍLIA

Há quem opte por nichos já familiares. É o caso de Gregory Goldfinger, 28, da família que fundou a Kopenhagen. Com a irmã, Chantal, 30, criou em 2016 a marca de chocolates Gold & Ko., 20 anos após a venda da Kopenhagen.

Foram quatro anos de pesquisas e testes até chegar ao que chama de “chocolate de verdade” da nova marca. Os produtos têm cerca de 35% menos açúcar e em torno de 40% mais cacau que os concorrentes, segundo Gregory. 

Gregory (esq.) e Paulo Goldfinger, da família fundadora da Kopenhagen, na sede da Gold & Ko., na zona oeste de São Paulo - Gabriel Cabral/Folhapress

O pai, Paulo Goldfinger, que foi diretor-geral da Kopenhagen, é um dos investidores e participa do desenvolvimento dos produtos. 

Apesar da semelhança de alguns produtos com clássicos da Kopenhagen, como Nhá Benta, Língua de Gato e Lajotinha, Gregory diz que a Gold & Ko. não tem vínculos com o passado. “Éramos crianças quando a marca foi vendida, e o modelo de negócios é diferente, não temos lojas próprias. Nosso objetivo é pulverizar a distribuição.”

Hoje, a Gold & Ko. oferece 12 produtos com preços entre R$ 3 e R$ 15,90. Os itens são vendidos em 1.700 pontos no Brasil. Em 2017, faturaram quase R$ 2 milhões, e a expectativa para 2018 é chegar a R$ 5 milhões. “O maior desafio é competir com marcas consolidadas”, diz Gregory.

O empresário que vende sua marca deve esperar até cinco anos para abrir um novo negócio no mesmo nicho, diz o advogado Bruno Drago, do escritório Demarest

Segundo ele, a cláusula deve incluir sócios e outras pessoas que ganharam com a venda dos ativos e que têm experiência no negócio. 

O tempo da quarentena pode variar, dependendo do que for acordado entre as partes. Os limites geográficos da restrição também variam.

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