Descrição de chapéu The Washington Post

Amazon vai ajudar empreendedores a criar companhias para entregar seus pacotes

Empresas parceiras serão equipadas com veículos e uniformes portando a marca da Amazon

Demonstração de entrega de pacotes da Amazon
Demonstração de entrega de pacotes da Amazon - Ted S. Warren/Associated Press
Abha Bhattarai
The Washington Post

A Amazon está pedindo ajuda a pequenos empresários para entregar seus pacotes, reduzindo sua dependência quanto ao correio dos Estados Unidos (USPS) e outros grandes serviços de entrega, diante da alta continuada no número de pacotes para entrega.

A companhia de varejo online, que no ano passado despachou mais de cinco bilhões de pacotes por meio de seu programa Prime, na quinta-feira (28) informou que estava em busca de centenas de parceiros, "com pouca ou nenhuma experiência em logística", para que estes criem empresas de entregas, equipadas com veículos e uniformes portando a marca da Amazon. Jeff Bezos, o presidente-executivo e fundador da Amazon, também é dono do The Washington Post.

"A demanda dos clientes é maior que nunca e temos a necessidade de criar mais capacidade", declarou Dave Clark, vice-presidente mundial de operações da Amazon, em comunicado. "Vamos possibilitar que empresas pequenas sejam criadas para tirar vantagem das crescentes oportunidades que existem na entrega de pacotes do setor de comércio eletrônico".

Mas especialistas em questões trabalhistas afirmam que o arranjo permitirá que a empresa colha os benefícios de uma vasta rede de entregas sem que precise arcar com muitos dos riscos e das responsabilidades envolvidos.

A Amazon vem procurando maneiras de reduzir custos no chamado quilômetro final de suas entregas, muitas vezes a porção mais dispendiosa do processo de atendimento de pedidos. No ano passado, ela introduziu o programa Amazon Flex, que permite que motoristas independentes façam turnos de trabalho entregando produtos em suas cidades. A empresa agora permite que entregadores levem pacotes diretamente para dentro das casas de compradores, e em certos casos que os deixem em seus carros estacionados.

A dependência da Amazon quanto a empresas como o USPS, UPS e FedEx, que hoje respondem pela entrega da maior parte de seus pacotes, tem seu aspecto negativo. Houve atrasos em entregas e problemas de falta de capacidade de transporte na temporada de festas, e os custos de transporte são uma das maiores despesas da companhia, especialmente diante da alta dos pedidos sob o programa Prime, que promete entregas gratuitas e em prazo máximo de dois dias.

E há o custo político: o presidente Donald Trump atacou a Amazon em uma série de mensagens no Twitter por "custar muito dinheiro ao correio dos Estados Unidos, que trabalha como seu garoto de entregas". A Comissão Regulatória Postal, uma agência federal independente, revisa os preços dos correios e seu contrato com a Amazon anualmente, para garantir que eles continuem a ser lucrativos para o USPS.

A Amazon criou uma frota com mais de seis mil carretas e quase três dúzias de jatos de carga para reforçar sua capacidade de entrega em longa distância.

Como parte do novo programa que anunciou, cada uma das pequenas empresas poderá ter até 40 veículos de entrega e 100 funcionários, informou a Amazon. A companhia disse que ajudará a manter o custo inicial da criação de uma empresa parceira em cerca de US$ 10 mil, ao oferecer descontos nos veículos, uniformes, e cobertura de seguro. A empresa também vai reservar US$ 1 milhão para ajudar veteranos das forças armadas americanas na criação de empresas de entregas.

Ao usar subcontratados independentes em lugar de empregados da Amazon para entregar produtos, a companhia pode evitar o pagamento de benefícios como horas extras, tributos sobre a folha de pagamentos e seguro-desemprego, disse Benjamin Sach, professor de relações trabalhistas e industriais na escola de direito da Universidade Harvard.

"Essa é uma transferência de risco que vimos nas empresas da economia do frila, com a conversão de pessoas que deveriam ser empregados em prestadores independentes de serviços", ele disse. "Isso cria toda uma série de problemas".

Outros apontaram que os proprietários de pequenas empresas dependeriam completamente da Amazon para trabalhos e remuneração. (A companhia, de sua parte, disse que os donos de empresas com 20 a 40 furgões poderiam lucrar entre US$ 75 mil e US$ 130 mil ao ano.)

"Isso aumentaria o poder de negociação da Amazon, fazendo com que o trabalhador dependesse completamente dela em termos de pagamento, jornada de trabalho e estabilidade", disse Stephanie Luce, professora de estudos do trabalho na Universidade Municipal de Nova York. "Isso representa uma tendência generalizada de ganho de poder pelos empregadores e de recuo nos direitos dos trabalhadores".

Outros comparam as ambições da Amazon a um modelo de negócios de franquia, sob o qual empresas como a McDonald's cuidam de questões de marca e marketing mas deixam as operações do dia a dia aos proprietários locais.

"Existem certas coisas que grandes empresas centralizadas fazem bem, mas outras coisas que o pessoal local conhece melhor, e o último quilômetro do percurso de entrega é uma delas", disse Paul Oyer, professor de economia e empreendedorismo na escola de pós-graduação em administração de empresas da Universidade Stanford.
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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