Prévia da inflação desacelera em julho com folga em preços de alimentos

Ainda assim, IPCA-15 foi o maior para julho desde 2004, pressionado por preços de energia e gás

Anaïs Fernandes
São Paulo

Após registrar em junho a maior alta para o mês desde 1995, a inflação dá indícios de que trará algum alívio ao consumidor em julho com os preços dos alimentos retornando à normalidade após o impacto da paralisação de caminhoneiros.

O IPCA-15 deste mês, indicador que serve como uma prévia da inflação oficial do país, desacelerou para 0,64%, informou o IBGE nesta sexta-feira (20). 

A expectativa dos analistas ouvidos pela agência Bloomberg era de 0,73%.

O número mostra uma redução de 0,47 ponto percentual em relação aos 1,11% de junho, mas ainda assim é a maior taxa para um mês de julho desde 2004 (0,93%).

"O patamar ficou mais elevado na comparação com outros anos porque ainda há reflexos da greve dos caminhoneiros. Eles vão se diluindo no tempo, então há espaço para mais quedas, mas não muito distante do que observamos neste mês", diz Joelson Sampaio, professor da FGV EESP (Escola de Economia de São Paulo).

O indicador veio pressionado também pelos preços médios de gastos com a casa, como energia e gás.

No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3%, e em 12 meses, acelerou para 4,53%. 

No mês passado, o IPCA (inflação oficial) avançou 1,26%, pressionado pelo movimento de caminhoneiros que começou em 21 de maio e durou 11 dias. 

Economistas ouvidos pela pesquisa Focus, do Banco Central, projetam que a inflação feche o ano em 4,15%, dentro da meta do governo para 2018, de 4,5%.

ALIMENTOS

Os alimentos —vilões do indicador anterior, quando apresentaram alta de 1,57%— subiram 0,61% em julho.

Essa desaceleração ocorreu, segundo o IBGE, devido ao realinhamento nos preços médios de itens alimentícios após a explosão de junho.

Os alimentos tiveram altas porque muitos produtos ficaram retidos em bloqueios nas principais estradas do país. Centros de distribuição de alimentos e entrepostos passaram dias sem receber carregamentos dos principais produtos, o que fez os preços dispararem diante da falta.

Quando a situação nas estradas se normalizou, houve uma corrida dos consumidores aos mercados para abastecer novamente suas despensas, o que contribuiu para retardar a normalização dos preços.

Entre os itens com as principais variações negativas em julho estão batata-inglesa (-24,8%, ante 45,12% em junho), tomate (-23,57%, ante 14,15%), cebola (-21,37%, ante 19,95%), hortaliças (-7,63%, ante 4,02%) e frutas (-5,24%, ante 2,03%).

"Produtos de ciclo de vida baixo foram fortemente influenciados pela paralisação, como a batata e o tomate. Mas o que aconteceu em hortifrúti foi pontual e os preços estão estabilizando em patamares anteriores à greve", explica Thiago Berka, economista da Apas (Associação Paulista de Supermercados).

Outros produtos, no entanto, seguem em alta, como o leite longa vida (18,3%), o frango inteiro (6,69%) e em pedaços (4,11%), o arroz (3,15%), o pão francês (2,58%) e a carne (1,1%).

Francisco D’Orto Neto, professor de economia da Faculdade Fipecafi, observa ser normal que aumentos de preços aconteçam mais rapidamente do que cortes. "Quem controla faz o repasse rápido para corrigir o problema, mas não abaixa de imediato", afirma.

Segundo Berka, no caso do leite, além do impacto da paralisação de caminhoneiros, que levou a um descarte em massa do produto, pesa também o fato de o segundo trimestre ser um período de entressafra para a categoria. "O risco da produção está ainda escalado desde o ano passado, com produtores saindo do segmento", afirma.

COMBUSTÍVEL

O grupo de transportes registrou alta de 0,79%, bem abaixo dos 1,95% de junho. Isso porque os combustíveis para veículos recuaram 0,57%, com redução nos preços médios do óleo diesel (-6,29%), do etanol (-0,78%) e da gasolina (-0,37%).

Na outra ponta, as passagens aéreas subiram 45,05%. "Alta de passagem aérea geralmente está relacionada a aumento no combustível", diz Sampaio. Os aviões são abastecidos com QAV (querosene de aviação), produto impactado diretamente pela valorização do dólar.

O preço médio dos pedágios avançou 0,46%, apropriando sobretudo, de acordo com o IBGE, reajustes concedidos a partir de 1º de julho em diversas áreas de São Paulo, que variaram de 2,34% a 3,37%.

GASTOS COM O LAR

O vilão de julho deve ser a habitação, que mostrou a maior variação entre os grupos do IPCA-15, acelerando 1,99% e respondendo por quase metade do indicador deste mês.

Os preços médios da energia elétrica avançaram 6,77%, com reajustes nas tarifas em São Paulo, Curitiba, Brasília, Porto Alegre e Belo Horizonte. O item teve o maior impacto individual no índice do mês.

"O modelo energético brasileiro não é eficiente, o que leva a essas reposições constantes de preço", afirma D’Orto Neto.

O botijão de gás subiu 1,36%. No início de julho, a Petrobras autorizou reajuste de 4,38% para o botijão de 13 kg nas refinarias, observa o IBGE.

Para o cálculo do IPCA-15, os preços foram coletados entre 14 de junho e 12 de julho de 2018. O indicador refere-se às famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos.

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