Bolsa cai quase 3% com mercados contaminados por tombo de moeda turca

Dólar bate R$ 3,86; EUA anunciaram intenção de dobrar tarifas ao aço importado da Turquia

Operadores na Bolsa de Nova York
Operadores na Bolsa de Nova York - Associated Press
Anaïs Fernandes
São Paulo

A Bolsa brasileira afundou nesta sexta-feira (10) e quase zerou os ganhos do ano, contaminada pela aversão a risco no exterior após os Estados Unidos anunciarem ampliação de tarifas à Turquia. 

O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas, recuou 2,86%, para 76.514,35 pontos. Na semana, acumulada queda de 6,04%, interrompendo seis semanas no azul. No ano, conseguiu segurar ligeira alta de 0,15%.

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou nesta sexta que autorizou o Departamento de Comércio americano a dobrar as tarifas sobre aço e alumínio importados da Turquia, em medida que agravou a crise cambial vivida pela lira turca.

A moeda tombou 14,63% ante o dólar neste pregão. No ano, perde 41,10%.

"O movimento da lira turca preocupa praticamente a todos", escreveu a corretora H.Commcor em relatório. "Os investidores acionando o 'modo pânico' em meio à preocupação com a solvência daquele mercado", acrescentou.

Das 31 principais divisas do mundo, 29 se desvalorizaram em relação à moeda americana. As exceções são o dólar de Hong Kong, que demonstrou estabilidade, e o iene, que avançou 0,25%.

Em relação ao real, o dólar subiu 1,57%, para R$ 3,864. No dia, chegou a bater R$ 3,874. A moeda acumula alta de 3,6% em relação ao real na semana e de 16,6% no ano.

"A Turquia, como emergente, contagia os demais países do grupo quando sua moeda é atacada. Mas a aversão a risco é mundial. Todo mundo corre para um lugar seguro, que é o dólar. O investidor não quer ficar esperando o final de semana para ver o que acontece na segunda-feira. É melhor estar comprado em dólar e depois, eventualmente, desfazer posição do que sofrer uma surpresa na próxima semana", diz Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

Lá fora, os maiores mercados globais fecharam no vermelho. Em Wall Street, o Dow Jones, principal índice de Nova York, caiu 0,77%, enquanto o S&P 500 recuou 0,71%. O índice de tecnologia Nasdaq perdeu 0,67%.

Na Europa, a Bolsa alemã caiu 1,99%, a francesa recuou 1,59% e a britânica ficou em baixa de 0,97%. O BCE (Banco Central Europeu) está preocupado com a exposição de alguns dos maiores financiadores da área de câmbio à Turquia —principalmente BBVA, UniCredit e BNP Paribas— em vista da queda acentuada da lira.

"A crise [da Turquia] é reflexo da indisciplina fiscal e um balanço de pagamentos fragilizado. Existe a possibilidade de risco sistêmico no sistema financeiro europeu que é o grande financiador do governo e das empresas turcas", disse a Guide Investimentos em seu relatório.

CENÁRIO LOCAL

Internamente, investidores repercutiam também o desempenho dos candidatos no primeiro debate eleitoral entre presidenciáveis, que aconteceu na noite de quinta-feira (9) na Band.

Segundo analistas, a avaliação do mercado é que o clima foi morno e seu candidato preferido, Geraldo Alckmin (PSDB), precisaria ter uma postura mais ativa.

"O debate não foi ruim, mas foi possível perceber por que Alckmin apareceu atrás de Jair Bolsonaro (PSC)  em pesquisa divulgada durante a semana: parece existir uma lacuna de comunicação entre Alckmin e a população", diz Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do Banco Ourinvest.

André Perfeito, economista-chefe da Spinelli, ressalta que a alta nas taxas de juros de longo prazo indica investidores preocupados com o cenário local, e não apenas refletindo a aversão a risco no exterior. "O dinheiro ao longo do tempo costuma ser uma questão mais interna, e aí teria o efeito do debate de ontem", afirma.

As taxas de juros para janeiro de 2019 subiram de 6,66% para 6,765%, enquanto contratos com vencimento em janeiro de 2021 foram de 9,16% para 9,55%.

O CDS (credit default swap, termômetro do risco-país) subiu 5,12%, para 236,996 pontos.

O dia também foi marcado por divulgação de balanços corporativos. Das 67 ações do Ibovespa, 61 caíram.

A B2W, dona da Lojas Americanas, liderou as perdas, com recuo de 9%, seguida pela própria Americanas, que caiu 7,56%. A Lojas Americanas reportou nesta sexta lucro líquido de R$ 26,3 milhões no segundo trimestre, baixa de 58% ante mesmo período de 2017.

A Natura cedeu 7,06%, também entre os piores desempenhos, após divulgar queda de 80,5% no lucro líquido do segundo trimestre, para R$ 31,8 milhões de reais, afetada por custos relacionados à rede de lojas The Body Shop e despesas financeiras.

As ações da BRF recuaram 6,41%, depois de a gigante de alimentos reportar prejuízo líquido de R$ 1,574 bilhão no segundo trimestre, com fortes perdas em decorrência de operações da Polícia Federal envolvendo a empresa e impactada pela paralisação dos caminhoneiros.

A Usiminas fechou em queda de 7,27%, após um gasômetro da usina em Ipatinga (MG) sofrer forte explosão nesta sexta, paralisar altos-fornos e deixar feridos.

Na outra ponta, a Suzano avançou 3,82%, beneficiada pela valorização do dólar.

Com Reuters

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