Fundador da Azul quer nova empresa com passagens baratas e mais espaço

David Neeleman planeja a criação da Moxy, que pode oferecer preços até 50% mais baratos

Nova York | Bloomberg

David Neeleman, empreendedor serial no campo da aviação, está determinado a fazer com que sua nova companhia se destaque em um mercado no qual pequenos e grandes rivais comprimem seus passageiros de classe econômica em cabines cada vez mais apertadas.

A companhia de aviação de preços baixos que ele propõe, com o nome provisório de Moxy, planeja oferecer aos passageiros novas maneiras de personalizar suas experiências de viagem: do espaço na cabine à comida e tarifas. 

David Neeleman, fundador da Azul, com dois modelos pequenos de avião da marca azul e da United nas mãos
David Neeleman, fundador da Azul em conferência em São Paulo; com histórico bem-sucedido na aviação, ele planeja mais companhia - Paulo Whitaker/Reuters

O fundador da Azul e da JetBlue Airways agora quer criar uma companhia de aviação "tecnologicamente avançada", operando uma mistura de rotas curtas e longas, todas com o A220, o mais recente jato de fuselagem estreita da Airbus.

Neeleman quer levar adiante o seu histórico de criar companhias de aviação bem-sucedidas, em um setor repleto de fracassos.

Ele cofundou a Morris Air nos Estados Unidos, e a vendeu à Southwest Airlines. Também criou a WestJet, no Canadá, e a Azul, no Brasil, e é parte de uma sociedade que detém participação de 45% na companhia nacional de aviação de Portugal, a TAP.

Investidores e concorrentes estão de olho, enquanto o novo projeto de Neeleman ganha forma –começando por um acordo anunciado em julho para a aquisição de 60 jatos A220, desenvolvidos pela Bombardier e conhecidos anteriormente como Série C.

A companhia ingressará em um mercado no qual quatro grandes concorrentes estão envolvidas em uma batalha feroz com operadores de baixos preços como a Spirit Airlines e a Allegiant Air.

"Creio que provavelmente exista no mercado o espaço para uma companhia de preços ultrabaixos mas não austera", disse o consultor de aviação Robert Mann. "Ele não começará com o mesmo equipamento usado. Fará o que fez com a JetBlue: gastará o dinheiro necessário a criar algo fresco, algo novo."

Ainda assim existem riscos. Neeleman usará um avião novo, relativamente pouco testado, com lugar para 150 passageiros, uma capacidade algo menor do que a norma das companhias econômicas.

Aeroportos congestionados, a alta nos preços do combustível e uma escassez de pilotos estão levando outras companhias de aviação a encomendar grande número de aviões maiores da Boeing e Airbus.

"Estamos contemplando um mundo no qual as empresas precisam de aviões maiores a fim de compensar os custos", disse George Ferguson, analista da Bloomberg Intelligence. "E esse aparelho não é o A220, mas sim o A321", o aparelho de fuselagem mais estreita mais longo na linha da Airbus.

Neeleman, 58, está voltando a um setor que foi transformado pela consolidação, nos EUA, depois que ele saiu da JetBlue. As ações da companhia subiram em 30% de sua oferta pública inicial até o momento em que ele deixou sua presidência executiva, em maio de 2007.

O índice Standard & Poor's das maiores companhias de aviação dos Estados Unidos mostra queda de 47% no mesmo período, durante o qual a United Airlines, Delta e US Airways pediram concordata.

Nos últimos cinco anos, em contraste, o índice S&P das companhias de aviação mais que dobrou. Lucros firmes, da ordem dos bilhões de dólares, atraíram investidores como Warren Buffett, cujo grupo Berkshire Hathaway é o maior acionista da Delta e grande investidor na United, Southwest Airlines e American Airlines.

Para sua nova companhia, Neeleman prometeu "abordagens inovadoras" quanto ao recrutamento de pilotos, e disse que o A220 havia ajudado a motivá-lo a criar uma nova companhia de aviação.

Os novos jatos foram projetados de forma a propiciar mais conforto aos passageiros mesmo nos assentos mais baratos, com janelas maiores e uma configuração para a classe econômica que deixa apenas um assento central por fileira.

"O novo avião tornou a ideia mais interessante", disse Neeleman. "A combinação de oportunidade e mais o avião me convenceu a ir em frente com a ideia."

Os custos por viagem do A220 e suas turbinas com alta eficiência protegerão contra a instabilidade nos preços do combustível, ele disse. Os pedidos de aviões A220 e turbinas Pratt & Whitney serão concluídos "em questão de semanas", segundo Neeleman.

A companhia solicitará licença federal para operar nos EUA por volta da metade de 2019. Os voos só começarão no início de 2021, quando o primeiro dos aviões, cujo preço de tabela é de US$ 91,5 milhões (R$ 370,57 milhões), será entregue.

"O A220 permite oferecer tarifas baixas sem comprometer tudo mais", disse Henri Courpron, assessor de Neeleman e presidente do conselho da Plane View Partners.

Como consultor da Bombardier, Courpron ajudou a reverter a situação da empresa, com uma joint venture que deu à Airbus o controle da Série C, que vinha sendo uma grande causa de despesa na fabricante canadense.

Agora, a Plane View, sediada em Los Angeles, está trabalhando para organizar o financiamento, o que inclui potenciais operações de venda e leasing combinado, para os 30 primeiros aviões da Moxy.

Os financistas no passado encaravam o A220 com alguma cautela por conta de sua base de operadores pequena, mas a confiança cresceu desde que a linha foi integrada à da Airbus, em julho. Uma resposta saudável ao pedido da Moxy poderia beneficiar outras operadoras, como a Delta Air Lines, disse Mann.

Neeleman disse que sua nova companhia de aviação, que não manterá a marca Moxy, terá "um app muito robusto" e algum nível de acesso gratuito à internet a bordo. Oferecerá "a capacidade de comprar lugares diferentes de acordo com a altura do passageiro, com o conforto que ele procura e com o preço que ele deseja pagar. Mesma coisa com relação à comida".

O nome da empresa e a cidade em que ficará sediada ainda não foram decididos, ele disse. Os detalhes de sua rede de rotas ainda estão sendo definidos, e Neeleman ainda monta seu grupo de investidores.

A empresa enfatizará voos sem escalas que não usarão os principais polos aeroportuários, dominados pelas grandes companhias de aviação. Cerca de 800 pares de cidades estão sob consideração, e envolvem alguns destinos internacionais, disse Neeleman.

"O mantra será tentar levar as pessoas aos seus destinos duas vezes mais rápido e com tarifas entre 30% e 50% mais baixas do que as que elas pagam hoje", disse Neeleman. "Eu ficaria surpreso se qualquer de nossas rotas na Moxy tivesse concorrentes em voos sem escalas."

Tradução de Paulo Migliacci 

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