Ibovespa é alternativa para investidor de longo prazo na Bolsa

Índice viveu pico há 10 anos e é opção para quem vai além do sobe e desce diário

Ana Paula Ragazzi
São Paulo

Em janeiro, muitos no mercado financeiro achavam que este seria o ano para uma dupla comemoração —pelo o aniversário de 50 anos do Ibovespa, principal índice da bolsa paulista, e pela retomada da economia, momento em que os pregões costumam ser caracterizados por alta nos negócios com ações.

Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp, chegou a ver chances de o índice repetir o "tricampeonato" de valorização de 1983 a 1985, quando o país também saía de um intervalo recessivo.

"Mas minha bola de cristal esqueceu de mostrar a piora no cenário político, as ações de Trump, a greve dos caminhoneiros", diz Simino. Isso não significa, porém, que não haja oportunidades na Bolsa, em particular se opção for investir no próprio Ibovespa.

Final do pregão da Bolsa de Valores de São Paulo, em outubro de 1987; índice das ações acompanha movimentos da história econômica do Brasil - Márcia Zoet/Folhapress

Olhando apenas para o índice e considerando dados ajustados pelo IGP-DI (indicador que tem o mesmo tempo de vida), desde janeiro de 1968 até hoje, a valorização acumulada do Ibovespa é de cerca de 2.700%. Ou seja, alguém que tenha mantido o investimento no nesses 50 anos multiplicou por 30 seus recursos.

O Ibovespa é um índice de referência. Serve para que o investidor saiba como se comporta o valor das empresas no pregão. Mas ele também atua como suporte para que a Bolsa tenha uma série de produtos.

O pico de alta do Ibovespa aconteceu em 2008, no governo Lula, ano em que o Brasil recebeu o grau de investimento das agências internacionais de rating. Lá, bateu em 128.494 pontos. Na última sexta, fechou a 76.777 pontos. Para voltar ao patamar histórico, teria que subir 67%.

Há quem interprete os números pela ótica do copo mais cheio e diga que a Bolsa está barata. "É possível avaliar que o potencial de valorização do índice é grande. No período de baixa é a hora de ir às compras", diz o vice-presidente executivo de produtos da B3, Juca Andrade.

Para quem chega ao mercado de ações agora ou tem como meta um investimento de longo prazo, uma estratégia é replicar a carteira do Ibovespa, que é composta pelas ações mais negociadas e com maior valor de mercado.

O investimento poder ser feito via fundos de investimento passivos, que replicam o portfólio do Ibovespa e estão disponíveis na maioria dos bancos; ou por meio de ETF --sigla de Exchange Trade Fund, fundo de índice, na tradução adotada do Brasil.

Atualmente há 15 ETFs listados na Bolsa de São Paul, a B3. Andrade explica que a aplicação via ETF tende a ser mais barata porque o investidor compra cotas de um fundo. Já fundos passivos das instituições financeiras têm taxas de administração e podem ter restrição para o resgate.

Outra possibilidade, mais sofisticada, está no mercado futuro, com as opções. Para o pequeno investidor, a B3 tem os mini de Ibovespa. Operar no futuro inclui a possibilidade de replicar o comportamento do índice, sem ter o desembolsos e os custos de transação do mercado a vista.

No entanto, não faz sentido pensar que a cesta de ações do índice é uma garantia de diversificação plena. Uma característica do Ibovespa em toda sua história é ser sempre concentrado em alguns setores.

Atualmente, papeis de empresas do setor financeiro --de bancos, seguradoras e da própria bolsa, que tem capital aberto-- respondem por cerca de um terço do índice.

Ou seja, num dia de noticiário ruim para esse segmento, vai ser difícil o Ibovespa subir.

Na década passada, a concentração estava nos chamados metais básicos: siderúrgicas, mineradoras, papel e celulose. Nos ano 2000, logo após a privatização da Telebras, a telefonia respondia por 37% do indicador, hoje tem 2%.

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Pregão viva-voz nos anos 90; sistema durou até 2009, quando passou a ser eletrônico - Evelson de Freitas - 22.dez.1994/Folhapress

"Isso é característica de um índice que leva em consideração as ações mais negociadas. Sempre haverá alguma concentração", afirma Álvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do Modalmais. O investidor estrangeiro, que tem forte atuação, prefere ações de empresas maiores para entrar e sair do investimento com mais facilidade.

No entanto, há quem veja com pessimismo a retração do índice. "Essa performance equivale dizer que o mercado de capitais não deslanchou", diz Raymundo Magliano, dono da corretora que leva seu nome, a mais antiga da Bolsa. Ele foi presidente da antiga Bovespa, de 2000 a 2008, e teve a gestão marcada pela popularização da Bolsa.

Fundadores da Natura lançam ações em 2004; oferta inicia ciclo que leva Ibovespa a pico em 2008 - Marisa Cauduro - 26.mai.2004/Valor

"Mas nenhuma daquelas iniciativas educacionais foi mantida, então a cultura do brasileiro em relação a investir na bolsa ainda não mudou", diz Magliano. Hoje, a participação da pessoa física na B3 ronda 16%, quase metade do que tinha há dez anos.

A composição do Ibovespa é revista a cada quatro meses, sempre pelos preceitos definidos lá em 1967, quando os cálculos foram feitos a mão. Sucessivas diretorias mantiveram a estrutura do Ibovespa com o argumento de que um índice precisa ter histórico para garantir credibilidade.

Após a união com a Cetip, a BMFBovespa passou a se chamar B3, mas já ficou decidido que o nome Ibovespa, de presente de aniversário, não muda. "Afinal, é meio século de tradição", diz Andrade.


As ações mais negociadas em 2018

  • Petrobras
  • Vale
  • Itaú Unibanco
  • Bradesco
  • Banco do Brasil
  • AmBev
  • B#
  • Itaús
  • Suzano Papel 
  • Gerdau

Ibovespa em números

22,26%

foi a maior baixa, em 21.mar.1990, após Plano Collor II bloquear recursos da poupança

36,05%

foi a maior alta, em 4.fev.1991, também foi uma resposta ao Plano Collor II, que trazia medidas para combater a alta de inflação

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