Descrição de chapéu Venezuela

Venezuelanos buscam inserção no mercado como microempreendedores

Formalização exige declaração de IR e estrangeiros só conseguem solicitá-la após um ano no Brasil

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São Paulo

Há 3 anos e meio no Brasil, a enfermeira venezuelana Maria Carolina Fuentes, 44, está com a documentação pronta para se formalizar como MEI (microempreendedor individual).

Depois disso, o objetivo é conseguir financiamento e abrir uma loja de doces, com destaque para vários sabores de brigadeiro, receita que aprendeu em Boa Vista.

A hiperinflação na Venezuela a fez deixar Maracaibo, perto da fronteira com a Colômbia, e migrar para a capital de Roraima.

Fuentes não conseguiu exercer a profissão pela necessidade de revalidar o diploma. Foi então que passou a fazer doces e, em busca de melhores condições, vendeu uma geladeira e uma cama para comprar uma passagem para São Paulo, onde chegou em dezembro.

A crise venezuelana também fez Omar Cordeiro, 38, deixar a cidade de Maturín, a seis horas de Caracas, há 1 ano e meio. “Lá as coisas estavam bem ruins. Já não trabalhava mais e não dava para sustentar a família”, disse.

Foi para Pacaraima (RR) sozinho e teve de dormir um mês rua. Ao conseguir uma vaga em um abrigo, soube das viagens que levavam venezuelanos para outros estados. Chegou a São Paulo com “medo, mas também sonhando”.

Carlos Barrios, de perfil, com a bandeira da Venezuela ao fundo
Carlos Barrios, 31, jornalista venezuelanos conterrâneos a se inserirem no mercado de trabalho no Brasil - Zanone Fraissat/Folhapress

Com a experiência como pedreiro e indicação de brasileiros, conseguiu trabalho na primeira semana, mas, aos poucos, conta que percebeu que, por ser imigrante, alguns empregadores queriam pagar menos.

A formalização como MEI, há quatro meses, foi a alternativa que encontrou para ter mais segurança, cobrar um preço justo e buscar financiamento para ampliar o negócio.

Em busca de aprimoramento, Fuentes e Cordeiro participaram de um curso para empreendedores realizado pelo Sebrae em parceria com a ANIV (Associação Nacional de Imigrantes Venezuelanos), criada em julho de 2018 em Roraima, com apoio da central sindical CSP-Conlutas.

A filial paulistana foi aberta em janeiro, tem 80 membros e um projeto em conjunto com a USIH (União Social de Imigrantes Haitianos) para fomentar emprego e renda por meio do microempreendedorismo e da economia criativa.

Para isso, contam com parceiros para a oferta de cursos e suporte para a abertura de CNPJ e elaboração de plano de negócios. 

Coordenador da associação, o jornalista venezuelano Carlos Barrios busca financiamento junto a organismos internacionais e governos para que os imigrantes possam ampliar seus negócios. 

Ele destaca que há profissionais com formação e experiência em diferentes áreas.

Segundo mapeamento inicial feito pela ANIV, há 890 venezuelanos na capital paulista. O gerente do Sebrae Fábio Ravazi Gerlach afirma que só neste começo de ano cerca de 40 venezuelanos participaram de cursos de aperfeiçoamento oferecidos pela instituição.

Além do contato feito por meio da associação, Gerlach afirma que os venezuelanos também buscam o Sebrae individualmente após superarem barreiras iniciais com o idioma e cultura.

Para formalizar o MEI, o imigrante precisa apresentar o RNE (Registro Nacional de Estrangeiro), comprovante de residência e declaração do Imposto de Renda —apenas aqueles que estão no país há mais de um ano conseguem a documentação.

O gerente também aponta que as condições oferecidas aos imigrantes e brasileiros são as mesmas, mas destaca que é preciso entender como funciona o mercado, as taxas a serem recolhidas como MEI para não enfrentar dificuldades.

Autora de um livro sobre imigração e trabalho, a doutora em sociologia pela Unicamp, Patrícia Villen, afirma que no caso dos imigrantes, o empreendedorismo é uma alternativa que se impõe diante dos bloqueios para entrar no mercado de trabalho formal.

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