Descrição de chapéu Previdência Governo Bolsonaro

Reunião com Guedes na CCJ tem clima de conflito com parlamentares e apoio de Maia

Ministro bateu boca com deputados da oposição na primeira meia hora do encontro

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Brasília

Amparado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ministro da Economia, Paulo Guedes, encontrou clima tenso na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) nesta quarta-feira (3). 

Em um dos momentos de embate mais forte da reunião, Guedes atacou parlamentares de esquerda depois de ser interrompido pelo deputado Ivan Valente (Psol-SP), que fez pergunta sobre eventual retirada de direitos de domésticas.

“Vocês estão há quatro mandatos no poder. Por que não votaram imposto sobre dividendos? Por que deram benefícios para bilionários? Por que deram dinheiro para a JBS? Por que deram dinheiro para o BNDES?”, disse o ministro.

A reação de Guedes gerou gritaria no plenário.

“Nós estamos há três meses [no governo], vocês tiveram 18 anos no poder e não tiveram coragem de mudar”, prosseguiu.

O ministro de Jair Bolsonaro bateu boca com parlamentares da oposição já na primeira meia hora da sessão, que discute a proposta de reforma da Previdência. 

"O Chile tem US$ 26 mil de renda per capita, o dobro do Brasil. A Venezuela deve estar melhor, né?", afirmou o ministro quando deputados da oposição gritaram no plenário da comissão que a reforma da Previdência tornaria o Brasil o vizinho latinoamericano, com um modelo privatizado de seguridade social. 

O ministro falaria direto por 20 minutos, sem perguntas de parlamentares. No entanto, o entrevero disparou uma confusão na comissão. 

Deputados do PSOL levantaram cartazes com dizeres como "PEC da Morte" e "Reforma para banco lucrar", e o deputado Henrique Fontana (PT-RS) e Guedes bateram boca. "Se você falar eu vou falar também", afirmou Guedes a Fontana. 

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Deputados da oposição levantam placas contra a reforma da Previdência durante reunião com Paulo Guedes - Adriano Machado/Reuters

O presidente da comissão, Felipe Francischini (PSL-PR), tentava retomar a sessão e pedia decoro, sem sucesso, aos seus pares. "Isso aqui não é briga de rua", afirmou Francischini. 

Depois de cerca de cinco minutos, o ministro pediu desculpas e disse que é "muito respeitoso", mas emendou em uma provocação. "Eu cometi o erro de falar sobre a Venezuela, e vocês cometeram o acerto de falar sobre o Chile. Eu acho que a Previdência deve ser maior em um deles", disse. 

Em outro momento, ele se dirigiu a um deputado da oposição que fazia questionamentos, e disse que não cairia na mesma provocação do começo. Depois, disparou: "eu esperei todo mundo falar. Agora é a minha vez, não é?" 

O clima fez com que deputados de ambos os lados levantassem questões de ordem contra o outro. Gilson Marques (Novo-SC) pediu para que os cartazes fossem proibidos e Maria do Rosário (PT-RS) que o ministro fosse advertido pelo presidente do colegiado por sair do tema. Francischini negou os dois pedidos. 

Guedes chegou flanqueado pelo presidente da Casa, que se sentou à mesa da comissão. O procedimento não é praxe na Casa, e fez parte do acordo costurado com o ministro para que ele comparecesse à reunião, depois de desmarcar na terça-feira (26) da semana passada. 

Deputados citaram reportagens da Folha para questionar o ministro. Flávio Gomes (PSB-SP) utilizou reportagem de 13 de fevereiro em que Guedes afirmou que empresários que pedem subsídios ao governo quebraram o país. Depois, também citou texto que mostrou que servidores questionam o discurso de que a reforma ataca privilégios. 

Depois, Paulo Teixeira (PT-SP) citou reportagem de novembro de 2018, que mostrou que o ministro fez fortuna apostando contra ou a favor de planos econômicos. O parlamentar entrou com um requerimento para conseguir o Imposto de Renda de Guedes, afirmando se tratar de conflito de interesses. 

Em resposta, o ministro afirmou que entregou os próprios dados fiscais à Comissão de Ética assim que assumiu o cargo do Executivo federal. “Eu vim para cá, te garanto, que não é para ganhar; é para perder financeiramente. É para tentar fazer o melhor para o país”.

Guedes declarou que investiu no setor educacional, deu aulas e, nos últimos anos, estava aplicando na área de saúde. “Rentista não é o que fui na vida toda. Fui empreendedor na vida toda.”

Nem só deputados da oposição criticaram a proposta da Previdência apresentada pela gestão Bolsonaro. O líder do PMN, Eduardo Braide (MA) criticou as mudanças no BPC e aposentadoria rural e defendeu que a reforma tributária fosse feita antes. 

Já deputados do PRB, como João Roma (BA), cobraram maior envolvimento do governo com a reforma. "Gostaria que o governo abraçasse isso, não lavasse as mãos", afirmou. 

Depois de questionar Guedes sobre pontos da reforma, a deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ) concluiu: "espero que o ministro tenha boa memória, porque fiz várias perguntas e não vi nenhuma anotação". 

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