'Eu vou ignorar Trump', diz fundador da Huawei

Em entrevista à Bloomberg, o bilionário Ren Zhengfei diz que não há necessidade de negociação com os Estados Unidos

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São Paulo

Em entrevista à Bloomberg, o fundador da Huawei, Ren Zhengfei, adota um tom desafiador ao presidente americano Donald Trump. Em 15 de maio, Trump promulgou uma ordem executiva que proíbe transações que "apresentem riscos inaceitáveis" para os EUA, o que atingiu em cheio a companhia chinesa acusada de espionagem.

"Mesmo que os EUA queiram nossos produtos no futuro, talvez eu não os venda. Não há necessidade de negociação, eu vou ignorar Trump e, depois, ignorar aqueles com quem ele [Trump] negociar. Se ele me ligar, eu posso nem atender",  diz Ren.  

O fundador da Huawei, Ren Zhengfei, adota tom desafiador em meio a guerra comercial - AFP

As sanções americanas a Huawei fazem parte da guerra comercial entre os dois países, que se intensificou no último mês. Trump, inclusive, admitiu que a companhia pode ser uma moeda de troca em um possível acordo. Após anunciar a proibição de importações da companhia chinesa, o governo americano adiou a medida em três meses

"Eu vejo os tuítes de Trump e acho engraçado, pois são contraditórios", ​declara Ren.

As restrições, mesmo que adiadas, preocupam a companhia, que pediu apoio à Europa

"Se uma companhia não quer trabalhar conosco, é como um buraco em um avião. Vamos trabalhar para tapar o buraco, mas o avião ainda pode voar. Dos chips que usamos, metade é americana e a outra metade é nossa", declara Ren, insinuando que pode aumentar o uso de chips próprios. 

Mas, caso a sanção de Washington seja derrubada, o empresário afirma que irá continuar a comprar dos americanos. 

Quando perguntado sobre quanto tempo a empresa pode aguentar sem transações com os Estados Unidos, o bilionário chinês adota um tom de incerteza.

"Temos um plano de contingenciamento para o motor do avião, para o tanque de gasolina, mas não para as asas. Precisamos revisar toda a operação para reparar esses problemas. Você pode voltar em dois a três anos para ver se ainda existimos. Se não, traga uma flor para colocar no nosso túmulo".

A Huawei é a número dois no mundo em smartphones e líder da tecnologia 5G (a quinta geração de tecnologia móvel). Segundo a companhia, eles teriam uma vantagem de dois anos frente à concorrência na tecnologia 5G. Com as sanções, a dianteira pode ser perdida.

"Se desacelerarmos, é porque a asa do avião tem muitos buracos. A concorrência pode nos alcançar, mas vamos continuar arrumando esses buracos para voar rápido de novo", afirma Ren.

Há pedidos na China de uma retaliação à Apple, mas Ren discorda. "Isso não vai acontecer, mas, caso aconteça, serei o primeiro a protestar. A Apple é uma líder mundial, sem ela, não teríamos internet móvel. Se a Apple é minha professora. Como estudante, por que me oporia à minha professora? Jamais faria isso", afirma.

O fundador ainda diz que a projeção da companhia, mesmo com as restrições, é de crescimento. "Não estamos apenas atrás de crescimento ou lucro. Para nós, é bom o suficiente apenas sobreviver", diz.

A filha mais velha de Ren e vice-presidente financeira da Huawei, Meng Wanzhou, cumpre prisão domiciliar no Canadá desde dezembro. Meng é acusada de roubo de segredos comerciais, obstrução da justiça e apoio a bancos para desvio das sanções ao Irã. Após a detenção, Trump disse à Reuters que interviria no caso contra Meng se isso ajudasse a fechar um acordo comercial com a China.​
 

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