Edmar Bacha, pai do real, defende mudança no questionário do Censo

Ex-presidente do IBGE, Bacha é um dos sete signatários de carta em defesa do instituto

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Rio de Janeiro

Edmar Bacha, um dos pais do plano real e ex-presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é um dos signatários de uma nova carta de ex-presidentes sobre Censo, dessa vez favorável às mudanças no questionário de 2020. O texto diz, porém, que o governo e o Congresso precisam garantir que o IBGE tenha orçamento para que a pesquisa "não se inviabilize".

O documento é assinado também por Edson de Oliveira Nunes, Charles Curt Mueller, Eduardo Augusto Guimarães, Silvio Augusto Minciotti, Simon Schwartzman e Sérgio Besserman Vianna, todos ex-presidentes do IBGE.
 

Edmar Bacha, um dos pais do plano real e ex-presidente do IBGE - Zanone Fraissat-17.mai.2018/Folhapress

Presidente do IBGE entre 1994 e 1998, Simon Schwartzmann explicou a carta: "Achamos que dá para fazer o Censo com menos perguntas e com menos dinheiro, como está sendo feito de fato", disse à Folha.

Na carta apresentada nesta segunda (29), eles afirmam que a redução no número de perguntas é uma evolução natural das pesquisas e defendem novas formas de coletas de informações. 

No Censo de 2020, o questionário básico, que é aplicado a 90% dos cerca de 71 milhões de domicílios brasileiros, ficou com 26 questões, oito a menos do que em 2010. Já o questionário completo, aplicado aos 10% restantes, foi reduzido de 112 para 76 perguntas.

"O questionário do Censo brasileiro tem sido diferente a cada década, e não se pode pretender que ele fique congelado no tempo", disseram os ex-presidentes.

Afirmaram ainda que o IBGE "precisa evoluir, de uma agência organizada para a coleta detalhada de informações para uma instituição modernizada capaz de produzir, compatibilizar e fazer uso de dados das mais diversas fontes", disseram os ex-presidentes.

"Não procede, como às vezes tem sido dito, que redução do tamanho dos questionários do Censo significaria a perda irreparável de séries históricas sobre diferentes características da população. Instituições de pesquisa em todo o mundo estão sempre revendo e atualizando seus instrumentos de coleta de dados, e não faltam instrumentos aos pesquisadores para comparar informações obtidas em diversos momentos e por diversas metodologias", afirmaram. 

No começo de julho, outros ex-presidentes do IBGE haviam protestado contra as mudanças: Eurico Borba, Eduardo Nunes, Wasmália Bivar, Paulo Rabello de Castro e Roberto Olinto, em evento foi na livraria Leonardo da Vinci, no centro do Rio de Janeiro.

A polêmica sobre os questionários ganhou força no início deste ano, após a chegada da economista Susana Cordeiro Guerra à presidência do IBGE. Em sua posse, o ministro da Economia, Paulo Guedes, criticou o tamanho do Censo brasileiro e determinou corte de custos.

Apesar das pressões de sindicatos e servidores, Guerra afirma que o tamanho do questionário não será mudado e a questão é "página virada”.

No segundo semestre, os questionários serão aplicados a moradores de Poços de Caldas (MG) de forma experimental. A pesquisa, que visita todos os 5.570 municípios brasileiros, será realizada no segundo semestre de 2020.

Confira, abaixo, a carta dos sete ex-presidentes do IBGE.

"O IBGE ante o Censo de 2020

Como ex-presidentes do IBGE, temos acompanhado com interesse e preocupação a preparação do Censo Demográfico de 2020, que tem sido objeto de intensos debates e manifestações, relacionadas às restrições orçamentárias sofridas pela proposta inicial do Censo e à redução do número de perguntas dos questionários.

É importante que o IBGE possa contar com os recursos necessários para que a operação censitária seja realizada da melhor forma possível. Mesmo com as inevitáveis restrições financeiras, dadas pela conjuntura fiscal, esperamos que o Governo Federal e o Congresso Nacional garantam recursos suficientes para que o Censo não se inviabilize nem deixe de recolher informações essenciais para o conhecimento da realidade econômica e social do país e para a execução das políticas públicas nas diversas áreas do emprego, saúde, educação, planejamento urbano, e tantas outras.

Acreditamos também que o momento é oportuno para pensar qual é o papel do Censo Demográfico, e como ele pode ser modernizado para se tornar cada vez mais eficiente, confiável e factível no quadro de restrições financeiras em que vivemos.

O Censo Demográfico, realizado a cada dez anos, tem duas funções principais. A primeira é a de atualizar as informações demográficas mais gerais, sobre o tamanho e a dinâmica da população, que servem de base para as pesquisas amostrais realizadas permanentemente pelo IBGE, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua e outras. A segunda é a de levantar dados mais detalhados sobre pequenas unidades geográficas, necessários para a implementação de políticas públicas. Essas informações localizadas trazem duas dificuldades importantes: elas não podem ser pesquisadas com o nível de detalhe das pesquisas por amostragem e se tornam obsoletas em pouco tempo, dada a periodicidade decenal do Censo.

Por isso mesmo, a tendência que se observa internacionalmente é a de reduzir o tamanho dos questionários dos Censos Decenais, ao mesmo tempo em que se intensifica o uso de pesquisas amostrais, de registros administrativos e de análises de grandes agregados de informações produzidas por diversas fontes em tempo real, com uso das modernas metodologias de big data.  É nesse sentido que nos parece que o IBGE precisa evoluir, de uma agência organizada para a coleta detalhada de informações para uma instituição modernizada capaz de produzir, compatibilizar e fazer uso de dados das mais diversas fontes.

Não procede, como às vezes tem sido dito, que redução do tamanho dos questionários do Censo significaria a perda irreparável de séries históricas sobre diferentes características da população. Instituições de pesquisa em todo o mundo estão sempre revendo e atualizando seus instrumentos de coleta de dados, e não faltam instrumentos aos pesquisadores para comparar informações obtidas em diversos momentos e por diversas metodologias. O questionário do Censo brasileiro tem sido diferente a cada década, e não se pode pretender que ele fique congelado no tempo.

A elaboração dos atuais questionários do Censo de 2020 – o geral, para todos, e o mais detalhado, para uma amostra de 10% da população, cerca de 22  milhões de pessoas – foi feita com a participação do Conselho Consultivo do Censo e consulta e participação de especialistas, e o IBGE tem realizado um trabalho importante, a merecer continuidade, de apresentar e discutir com diferentes setores das sociedade as razões e o alcance do que pretende obter. Temos acompanhado este processo, acreditamos que ele está no caminho certo, e conclamamos todos a apoiar o IBGE para que este trabalho possa levar a um Censo de alta qualidade, em tempo hábil, e dentro da realidade orçamentária em que vivemos.

Em 29 de julho de 2019

Edmar Lisboa Bacha

Edson de Oliveira Nunes

Charles Curt Mueller

Eduardo Augusto Guimarães

Silvio Augusto Minciotti

Simon Schwartzman

Sérgio Besserman Vianna"

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