Pula-pula não veio para competir com patinete, diz cofundador da Cangoroo

Adam Mikkelsendiz diz que produto pode chegar à América Latina se for bem aceito em San Francisco, Paris e Londres

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Los Angeles

Enquanto pedestres, bicicletas e patinetes brigam por espaço nas cidades, um novo integrante se prepara para estrear no ringue: o pula-pula. A notícia chegou a ser tratada como piada, mas o cofundador sueco Adam Mikkelsen veio a público dizer que sua proposta é real. Ele quer trazer ao mercado uma alternativa divertida, saudável e sustentável com sua startup Cangoroo. 

“Metade das pessoas acha que é zueira, e a outra metade pede para a gente levar para sua cidade”, disse Mikkelsen à Folha, após sites duvidarem de ser uma pegadinha.

Em julho, a empresa pretende espalhar 100 pulas-pulas pelas cidades de Estocolmo e Malmo. San Francisco, Paris e Londres são as próximas, entre agosto e setembro. “Se crescermos e formos bem-vindos, vamos para a América Latina”, disse o sueco numa entrevista por vídeo. “Ouvi dizer que as pessoas gostam de aparecer no calçadão das praias do Rio de Janeiro, é verdade?”

Sua ideia não é competir com bicicletas e patinetes motorizados e sim ser um produto de lazer com alguma mobilidade. A campanha publicitária pega carona no visual dos patinetes já que o pula-pula é destravado da mesma maneira, com um aplicativo de celular.

“Seguimos de perto o mercado de micromobilidade no mundo e achamos muito interessante. Há muitos competidores oferecendo exatamente o mesmo serviço e o mesmo veículo”, disse Mikkelsen. “Às vezes, você sai de uma loja ou um café em Malmo, e tem 15 patinetes na porta, de quatro marcas diferentes.”

Mikkelsen é também cofundador de uma agência de publicidade, a ODD, que criou outros produtos curiosos, como uma sandália de material reciclado que cresce grama de verdade na parte central. “A minha fica na janela do escritório, uso de vez em quando”, conta o executivo de 30 anos. 

Dependendo das habilidades do usuário, o pula-pula da Cangoroo faz cerca de 8km/h, o equivalente a uma caminhada rápida. Pode atingir altura de pouco mais de meio metro, ao contrário de outros “pogo sticks” (nome original em inglês) usados em esportes radicais que atingem até três metros. 

“Imagino pessoas usando para cobrir alguns metros e não aqueles quilômetros finais. É um jeito divertido de fazer uma grande chegada e impressionar os amigos”, acredita. “Será a caminhada vigorosa da nossa geração.”

Num dia quente de abril, Mikkelsen fez um teste num calçadão de uma praia em Malmo e pulou uma distância de 1 km. Foram uns 40 minutos, uns mil pulos e meia dúzia de paradas para descansar. As pessoas olhavam para trás para vê-lo passar, alguns até aplaudiam e a maioria sorria ou dava risada. 

“Riam de mim ou comigo, não sei bem”, falou. No dia seguinte, ficou com o pulso e as pernas doloridas. “Honestamente, foi bem divertido e bem cansativo. E olha que me considero em forma. Mas melhorei muito desde então.”

Pula-pula da startup Cangoroo
Pula-pula da startup Cangoroo, que quer lançar pula-pulas (pogo sticks) em sistema de aplicativo como bikes e patinetes - Divulgação

A empresa começou a pensar no produto em fevereiro e encomendou uns dez tipos diferentes de pula-pula para testar. Na estreia, dentro do escritório da Cangoroo em Malmo, um dos fundadores bateu com a cabeça no teto. “Foi engraçado, nada sério, só ficou com calo”, conta.

Na sequência, convidaram 50 pessoas de idades diferentes para observar como eles lidavam com o produto, desta vez num ambiente seguro. “Todo mundo conseguiu. É difícil não rir quando se tenta pela primeira vez. Se você é adulto, traz uma reminiscência de infância.” 

Ele lembra que ganhou seu primeiro pula-pula de presente de Natal quando tinha cinco anos. “Usei pela casa um pouco e depois esqueci.” Hoje, ainda não vai trabalhar de pula-pula porque a distância é longa e ele prefere ir a pé com sua cachorrinha Selma.

Por enquanto, a Cangoroo usa fundos da agência ODD e anda negociando com investidores para levantar US$ 1 milhão, a serem gastos na fabricação dos pulas-pulas. A empresa também trabalha para lançar patinetes sem motor.

Mikkelsen quer fazer do pula-pula uma marca engajada com seus usuários, promovendo campanhas em parceria com negócios locais. Por exemplo, quem der 100 pulos, registrados na tela do pula-pula, ganha um suco natural de um vendedor do bairro. Ou quem pular por mais tempo, doa o valor arrecadado para uma instituição de caridade.

“O consumidor de hoje espera que as marcas tomem posicionamentos além de fabricar produtos”, diz. “Queremos também promover saúde e o meio ambiente. Os patinetes motorizados têm vida curta e você gasta zero caloria. É como pegar um carro.”

O sueco está ansioso para ver a recepção nas ruas e quer começar pequeno, sem inundar o mercado. Ele sabe que moradores de cidades do mundo todo reclamam de patinetes e bicicletas jogadas pelas calçadas e de usuários que andam em grande velocidade. No Instagram, a conta @birdgraveyard, com 85 mil seguidores, registra atos de vandalismo com os patinetes, cada vez mais frequentes, além de acidentes bizarros.

“Espero que seja mais difícil ter ódio de um pula-pula”, diz. “Também não é para ser usado em lugares movimentados. Se pular no pé de alguém de sandália, não vai ser nada bom.”

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