Controle de câmbio na Argentina penaliza investidor e altera fluxo de caixa das empresas

Multinacionais brasileiras serão obrigadas a deixar dinheiro no país. Banco do Brasil deve postergar a venda do Patagônia

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São Paulo

O controle de câmbio imposto pelo presidente Maurício Macri está penalizando os investidores estrangeiros, inclusive brasileiros, que acreditaram em seu discurso liberal e aumentaram os investimentos na Argentina, principal sócio do Mercosul.

As empresas estrangeiras serão obrigadas a fazer alterações importantes em seu fluxo de caixa por causa do novo decreto, que praticamente vetou a remessa de dividendos para o exterior e exigiu que os exportadores tragam de volta para o país todo seu faturamento

Segundo executivos que pediram anonimato, o efeito no médio e longo prazos será desestimular os investimentos na Argentina. Eles afirmam que, se as leis de um país não permitem que o capital saía, o dinheiro também não entra.

Até então a praxe era pagar as despesas da operação na Argentina com funcionários e fornecedores e mandar a sobra de caixa para o Brasil ou manter no exterior em dólares. Exportadores que recebiam em dólar já optavam por deixar o dinheiro fora do país.

Era uma maneira de se proteger contra a desvalorização do peso e um expediente relativamente comum utilizado por multinacionais em outros países que também possuem moeda fraca. As empresas só costumam deixar dinheiro em mercados com câmbio forte como Estados Unidos, Canadá, Austrália, etc.

Com o novo decreto, as companhias serão obrigadas a manter o lucro apurado com os negócios dentro do balanço da filial no país como uma espécie de “investimento”. Não altera o resultado final, mas eleva a exposição ao risco-Argentina.

Um dos setores mais afetados é o bancário, que costumava remeter dividendos com regularidade. O Banco do Brasil tem uma importante operação na Argentina, porque é dono do Banco Patagônia. O ItauUnibanco também opera no país.

Segundo uma fonte do Banco do Brasil, o controle cambial não deve prejudicar os resultados da instituição, já que o dinheiro será apenas realocado do Brasil para a Argentina. A situação, no entanto, pode postergar os planos do presidente do BB, Rubens Novaes, de vender o Patagônia. Com a crise, o preço que pode ser obtido pelo banco caiu bastante.

No setor automotivo, a maior preocupação é com a exigência de trazer para o país todos os recursos obtidos com a exportação. Cada montadora tem uma política diferente, mas não era incomum deixar o dinheiro no Brasil ou em outros países para onde os carros produzidos em território argentino são vendidos. Procurada, a Anfavea, que reúne as montadoras, preferiu não dar entrevista.

Executivos ouvidos pela reportagem contam que, com a recessão na Argentina, não tem sobrado muito lucro para repatriar. De toda forma, as empresas estão desengavetando estratégias utilizadas em outras crises cambiais na Argentina.

Uma delas é o chamado “blue chip swap”: o investidor com capital na Argentina compra ações de uma empresa no mercado local e converte em ADRs negociados em Nova York. Dessa maneira, tira o dinheiro do país, vende os ADRs e transforma em caixa. A operação é legal.

O controle cambial imposto por Macri, por enquanto, não afeta as importações. Quando essa medida foi tomada em governos anteriores, os varejistas locais não conseguiam dólares suficientes para pagar os exportadores brasileiros. Um dos segmentos que mais sofreu foi o calçadista.

“A princípio, ainda não estamos sendo afetados, mas é um péssimo sinal. É um tiro no pé da economia argentina. Se tinha alguém pensando em investir lá, desistiu”, diz Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados, associação que reúne as empresas do setor.

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