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Coronavírus eleva tráfego na internet, mas analistas descartam apagão

Videochamadas e streaming ajudam a elevar picos de consumo de dados no Brasil

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São Paulo

As maiores operadoras do país liberaram conteúdos de TV e streaming e anunciaram bônus de dados no celular. O Globoplay, serviço de streaming da Globo, limitou o volume de dados trafegados em seus vídeos para evitar colapso de infraestrutura. O Facebook, dono do WhatsApp, dobrou a capacidade dos servidores para seu aplicativo de conversa, líder entre os mensageiros no Brasil.

O isolamento social imposto pelo novo coronavírus tem alterado o comportamento de diversas redes nos países mais afetados. No Brasil, o IX.br (Brasil Internet Exchange) —responsável pelos pontos públicos de troca de tráfego entre operadoras— divulgou um pico histórico há dez dias. Ele já foi superado.

Em São Paulo, o pico de uso subiu 25% em relação ao nível de três semanas atrás. Isso demonstra que redes antes ociosas, como as residenciais, estão superutilizadas.

Home office e confinamento  mudaram comportamento do uso de internet
Home office e confinamento mudaram comportamento do uso de internet - Cultura/Image Source

Apesar de ser comumente atribuído a serviços de streaming e ao YouTube (onde estão as crianças durante a quarentena), a novidade do cenário de confinamento é a enxurrada de chamadas de voz no celular ou videoconferências, como as feitas pelo Zoom ou pelo Skype.

O tráfego desse tipo de conteúdo passa por redes chamadas ponto a ponto (P2P), que dependem mais da infraestrutura como geral do que a transmissão de conteúdos da Netflix ou do Youtube.

Uma videochamada de WhatsApp de São Paulo a uma cidade do interior da região sul, por exemplo, sai da operadora, vai ao ponto de troca de tráfego, ao operador de backbone (infraestrutura que suporta uma transmissão por fibras óticas entre servidores a longa distância) e, por fim, ao provedor local.

Já um vídeo do Netflix ou do YouTube sai de um CDN, que é como um banco de dados que armazena réplicas de arquivos (como filmes) alocado em diversos servidores brasileiros, o que permite uma distribuição mais linear e curta. ​

"Não devemos ter problema com a Netflix no país porque ela, Google, dona do YouTube, e Facebook, dono do WhatsApp, têm CDN dentro de muitos provedores. Isso não congestiona tanto a rede", diz André Rodrigues, da Abrint (Associação Brasileira dos Provedores de Internet e Telecomunicações), que representa 1.300 provedores.

O problema está nos operadores que não se prepararam para um pico de demanda do tipo, que parecia improvável antes da quarentena, quando as pessoas não usavam a totalidade da banda contratada em seus pacotes de internet. O risco de colapso ou apagão, entretanto, não é uma preocupação entre analistas.

"Existe risco de colapso? Não acredito. Mas há um risco muito grande de lentidão. A operadora faz estatísticas contando que ninguém vai pedir 200 mega ao mesmo tempo, mas se todo mundo pede, fica lento", diz Tadeu Viana, engenheiro e diretor da Corning, fornecedora de fibra ótica.

Segundo ele, grande parte da população se conecta à internet pelos tradicionais fios da TV a cabo. Nessas estruturas, é difícil escalar mais dados do que o projetado. Na fibra ótica, o remanejamento é possível por meio de roteadores.

“Apagões em redes individuais que compõem a internet acontecem de tempos em tempos. Mas a infraestrutura que sustenta o sistema é tão distribuída territorialmente e a quantidade de rotas diferentes para se chegar a um mesmo lugar é tão variada, que é muito improvável que tudo colapse de uma vez só", diz Diego Canabarro, da área de políticas públicas da Internet Society.

A conexão pela TV é um dos motivos que preocupa consumidores da Europa. Com um mercado já maduro para TVs inteligentes, streaming e vídeos em 4K, que consomem mais banda, a União Europeia pediu à Netflix que reduzisse a qualidade dos vídeos para que todos usufruíssem do serviço ao mesmo tempo.

No Brasil, só 30% dos usuários que acessam a internet em casa se conectam pela TV.

Engenheiros de grandes operadoras brasileiras trabalham no redimensionamento das conexões. Muitos provedores regionais também estão dobrando a velocidade e consideram fornecer descontos aos clientes. Há relatos, entretanto, de empresas aflitas porque não há banda para suprir a demanda que venderam.

"Congestionamento e falência de rede não vimos. O problema está nas redes de periferia, que não são tão robustas como a de uma na região da Paulista ou da Berrini", diz Luciano Stutz, presidente da Abratel (Associação Brasileira de Infraestrutura para as Telecomunicações).

Por ora, segundo ele, as redes de regiões mais centrais estão dando conta.

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