Estrangeiros tiram R$ 120 bi de ações e títulos do Brasil em 2020

Dados apontam melhora em junho, mas BC diz ser cedo para ver reversão no cenário

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Brasília

Os investidores estrangeiros retiraram R$ 120,8 bilhões em ações e títulos públicos do Brasil de janeiro a maio. Os números prévios deste mês mostram uma ligeira melhora, mas na visão do Banco Central não configuram uma reversão do cenário.

O movimento de aversão a ativos brasileiros até maio está registrado em diferentes indicadores atualizados nesta quarta-feira (24) por Tesouro Nacional, BC e B3.

No caso do Tesouro, o relatório da dívida pública mostra que os não-residentes venderam de forma líquida R$ 58,4 bilhões em títulos até maio. No último mês, a retirada foi de R$ 1,97 bilhão.

Bolsa brasileira; investidores estrangeiros retiraram R$ 120,8 bilhões em ações e títulos públicos - Leo Barrilari/Xinhua

Com isso, a participação deles na dívida interna caiu a 9,1%. O indicador renovou a mínima em mais de dez anos (ficando acima apenas de dezembro de 2009, quando o valor foi de 8,8%).

De acordo com o Tesouro, os investidores continuaram demonstrando em maio um comportamento de aversão a risco e preferência por liquidez diante de incertezas sobre a duração da crise da pandemia, embora em menor proporção quando comparado a março e abril considerando as medidas de flexibilização em diversos países.

“Vários investidores buscaram reduzir posições em ativos mais arriscados, e dentro dessa classe o Brasil. Houve saída de investidores daqui e de vários outros emergentes”, disse Luis Felipe Vital Nunes Pereira, coordenador-geral de operações da dívida pública.

Mesmo assim, o Tesouro não deixou de ir ao mercado em maio (preferindo emitir títulos prefixados) e o estoque total da dívida pública subiu 2,17% em relação a abril, para R$ 4,25 trilhões.

Houve piora em indicadores como o prazo médio (que caiu de 4,04 anos em abril para 3,96 anos), embora o custo médio no acumulado em 12 meses tenha se reduzido (de 9,36% para 8,98% ao ano em maio) ao ser beneficiado pela queda da taxa de juros.

O Tesouro não tem dados prévios de junho, mas afirma que o mercado segue pautado pelas preocupações com um possível aumento da contaminação pelo mundo em uma segunda onda. Mesmo assim, Vital afirma que houve queda do risco-país no caso brasileiro e melhoria nos mercados diante da ação de bancos centrais pelo mundo.

Segundo ele, até o momento não houve nenhum evento causador de uma nova retirada de capital do Brasil em junho como aquelas ocorridas nos meses anteriores.

No caso da Bolsa, o saldo líquido (compras menos vendas) está negativo em R$ 62,32 bilhões em 2020. Os números já consideram junho, quando o cenário aponta para uma leve melhora com a entrada de R$ 2,37 bilhões de investidores estrangeiros (considerando dados prévios colhidos até o dia 22, última atualização disponível).

Dados do Banco Central divulgados nesta quarta também corroboram o movimento de aversão observado até maio. Os investimentos diretos no Brasil caíram 68% no mês na comparação com o mesmo mês de 2019, para US$ 2,6 bilhões. O número é o menor registrado para meses de maio desde 2018.

Em junho, os dados colhidos pelo BC até o dia 19 mostram certa recuperação do capital externo, mostrando um investimento direto no país de R$ 2,2 bilhões até essa data.

Para Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, a ligeira melhora nos dados mais recentes impede concluir que os dados positivos deste mês representam de fato uma reversão de tendência.

"Nós não temos condições de afirmar isso, os fluxos de portfólio são muito voláteis. A situação econômica no Brasil e no mundo ainda é muito incerta, medidas e novidades estão acontecendo a todo momento. Então, nesse conjunto, a gente ainda não pode cravar que é uma reversão", disse.

Os técnicos afirmam que as retiradas de capital do país ocorreram até agora pelas questões ligadas à pandemia e reiteram que o mesmo ocorre com pares internacionais. Neste mês, no entanto, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a saída de capital do Brasil é maior do que na média de emergentes.

Na visão dos técnicos, a diminuição do apetite de estrangeiros é observada desde 2015, quando o Brasil perdeu o grau de investimento concedido por agências de classificação de risco. "A volta de não-residentes se relaciona à melhora da situação fiscal do Brasil, ao avanço das reformas e ao crescimento econômico", afirmou Vital.

Pode piorar o cenário o comportamento de investidores globais preocupados com políticas do governo brasileiro. Nesta semana, 29 deles divulgaram carta pressionando o Brasil a proteger a Amazônia e os direitos humanos.

Em entrevistas a veículos internacionais, representantes do grupo disseram que podem retirar seus recursos do país caso o risco, inclusive de reputação, fique alto demais. Vital diz que questões como essa são cada vez mais presentes nas conversas do Tesouro com investidores.

“Tanto o Ministério da Economia como o BC já se pronunciaram sobre a necessidade de um esforço para o Brasil divulgar melhor as diretrizes não só sobre o tema ambiental, mas ações sociais e governança, e o Brasil continuará avançando nessa agenda de comunicação com investidores, que tem se tornado cada vez mais relevante para decisões de investimento”, disse.

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