Entenda o que são BDRs e como investir nesses papéis

Recibos de ações estrangeiras vão estar disponíveis ao final de outubro

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São Paulo

Ao fim de outubro, o pequeno investidor brasileiro vai poder comprar uma ação da Apple por meio de sua corretora brasileira, na mesma plataforma que compra ações da Petrobras. Pelo menos, é assim que as BDRs (recibos depositários de ações, na sigla em inglês) vão funcionar na prática.

Na verdade, o investidor irá comprar um recibo lastreado em uma ação da Apple, da mesma forma que investe em um fundo lastreado em ouro, pela Bolsa de Valores brasileira. Neste caso, a ação da gigante americana não vai para o nome do comprador, como vai a da Petrobras.

Os BDRs são certificados emitidos por bancos que representam ações de empresas listadas em outros países.

Funcionários trabalham na Bolsa de Valores de Nova York
Funcionários trabalham na Bolsa de Valores de Nova York - Michael Nagle - 19.mar.2020/Xinhua

Este tipo de investimento estava restrito a investidores qualificados, que têm mais de R$ 1 milhão investido ou formação profissional, até agosto, quando a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) liberou os papéis para qualquer investidor com o aumento da demanda de brasileiros por ações estrangeiras, especialmente após o IPO (oferta pública inicial) da XP na Nasdaq, nos Estados Unidos, em dezembro 2019. Desde então, a empresa se valoriza 58%.

Agora, a CVM trabalha para aprovar, até o fim deste mês, os últimos detalhes para que o acesso a BDRs seja irrestrito. A principal questão é definir quais serão os mercados reconhecidos que, inicialmente, devem ser apenas NYSE (Bolsa de Nova York) e Nasdaq.

Até então, o pequeno investidor tinha que abrir uma conta em corretora americana e enviar dólares para os EUA para comprar as ações listadas por lá. Nesta operação, além do imposto sobre o lucro, há incidência de IOF (imposto sobre operações financeiras).

Outra possibilidade são os investimentos indiretos por meio de fundos que aplicam no exterior, ou os ETFs (fundos de índice) IVVB11 e SPXI, que seguem o desempenho do índice americano S&P 500, que reúne as maiores empresas da NYSE e da Nasdaq, e podem ser comprados da mesma forma que uma ação.

Segundo especialistas, a abertura para pessoas físicas irá aumentar a liquidez do mercado de BDRs, reduzindo a diferença entre o preço de compra e de venda dos ativos. BDRs movimentam R$ 96 milhões por dia e têm 12,5 mil investidores qualificados, segundo dados da B3 de agosto. Já ações movimentam quase R$ 30 bilhões diários e tem, só de pessoas físicas, mais de 3 milhões de investidores.

Com a liberação, os BDRs, já disponíveis nos home brokers, poderão ser adquiridos por qualquer investidor com conta em corretora.

O BDR da Apple, por exemplo, é negociado sob o ticker AAPL34 (34 se refere a BDRs, como 3 remete a ação ordinária), a R$ 64,62, e representa um décimo de ação da empresa —nos EUA, cada papel está cotado a US$ 116,97 (R$ 646).

Além da variação da ação americana, o valor do BDR em reais varia conforme a cotação do dólar. Se a moeda americana perde valor ante a brasileira, o BDR se desvaloriza.

“É importante diversificar os investimentos, e, com o BDR, você já inclui o dólar na sua carteira. É um duplo investimento”, diz José Raymundo de Faria Júnior, planejador financeiro pela Planejar.

Nos últimos meses, as Bolsas americanas se recuperaram da forte queda do mercado acionário global em março, mas o real seguiu desvalorizado pelo crescente risco fiscal brasileiro com o aumento de gastos do governo. No acumulado de 2020, o S&P 500 sobe 7,9% e o dólar tem alta de 32,7% ante o real, o que ampliou o rendimento das BDRs.

“Surge novidade do mercado brasileiro e investidor corre atrás querendo ganhar dinheiro, como aconteceu com o bitcoin. Agora, o dólar tem subido, mas, se ele começar a cair, as BDRs podem se desvalorizar”, diz Alan Ghani, professor do Insper.

Geralmente, o dólar tende a perder força ante o real quando as Bolsas sobem, já que os investidores estão com apetite por risco e compram mais ações do que vendem, reduzindo suas posições em ativos defensivos como o dólar, ouro e títulos do Tesouro americano. Contudo, com a incerteza em torno da recuperação da economia global e o excesso de liquidez no mercado, tanto o dólar como as ações americanas seguiram em alta, em detrimento de moedas e ações emergentes.

“Se o Brasil acertar tudo, aprovar todas as reformas e voltarem os investimentos estrangeiros, o dólar, que está num patamar elevado, cai”, afirma Rodrigo Moliterno, diretor de renda variável e sócio da Veedha Investimentos.

Segundo Moliterno, as BDRs têm um risco mais elevado que as ações brasileiras, pois são duas exposições à variáveis de uma só vez. “O investidor tem que entender que, além do BDR, está comprando exposição ao dólar”.

Além da relação dólar-real, a moeda e as ações americanas tendem a variar conforme a saúde da economia dos EUA. Em ano de incerteza eleitoral e crise econômica como 2020, o risco se eleva.

“Quem investe na Bolsa tem que estudar e quem investe em BDRs tem que estudar mais ainda. É um outro mercado, é preciso entender a economia do país e ler relatórios internacionais”, diz Faria Júnior, da Planejar

Segundo o especialista, uma forma de reduzir os riscos ao investir em empresas estrangeiras é optar por diferentes setores. “O charme das BDRs são as ações de tecnologia nos EUA. Então, se você comprar big techs lá, invista em outra área aqui no Brasil.”

As BDRs estão sujeitas à mesma tributação de ações, de 15% do lucro —ou 20% no caso do day trade (compra e venda no mesmo dia). No caso do pagamento de dividendos acima de R$ 1.903,98 no mês, há incidência de 7,5% a 27,5%, conforme o valor recebido.

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