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Ana Botín

Cenário macro benigno pode fazer Brasil emergir mais rapidamente da crise

Para manter ciclo virtuoso é fundamental levar adiante agenda que conduza o país na direção da consolidação fiscal

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Ana Botín

Presidente-executiva do Grupo Santander

De todas as visitas que fiz ao Brasil até hoje, esta é sem dúvida a mais carregada de emoção. Vejo o país imerso em uma situação complexa, sob o fardo de mais de 10% dos casos de Covid-19 do mundo, atrás apenas dos EUA e da Índia. O índice de mortalidade, ainda que esteja em linha com os 3% vistos em outros países, representa um número de vítimas a ser lamentado sob qualquer perspectiva. Nada irá repor essas vidas perdidas.

Ao desembarcar aqui, porém, testemunho mais uma vez a força e a resiliência da população brasileira, que representa uma mensagem de otimismo ao restante do mundo. As iniciativas para mitigar os efeitos da pandemia, com o corona-voucher e as linhas de crédito emergenciais criadas pelo governo e executadas em parceria com o setor financeiro, ajudaram as pessoas e têm permitido a rápida retomada de importantes setores da atividade.

De fora do país é mais difícil entender o efeito positivo que uma taxa de juros estruturalmente baixa pode produzir em uma economia pujante como a brasileira. Em vez de elevar o custo do dinheiro, como se faz em meio a crises, o Banco Central teve condições de reduzi-la ainda mais. Com acesso ao crédito, empresas preservam empregos, pessoas podem pagar dívidas, consumir e poupar. Quando os brasileiros compram suas casas –e vejo que o crédito imobiliário cresceu 44% neste ano, entre janeiro e setembro–, várias outras cadeias produtivas se mobilizam, e o impacto social é fantástico.

Esse cenário macro benigno pode permitir que o Brasil emerja mais rapidamente da crise. Vale ressalvar, evidentemente, que para manter esse ciclo virtuoso em movimento é fundamental levar adiante uma agenda de medidas que conduzam o país na direção da consolidação fiscal.

Estamos empenhados não só em seguir sendo parte dessa retomada, mas também em fazê-la acontecer de uma maneira sustentável e inclusiva. O agronegócio, por exemplo, é uma das áreas em que mais temos avançado. Precisamos apoiar o setor que responde por cerca de 40% das exportações brasileiras. Mas fazemos isso sem abrir mão de revisar anualmente as práticas socioambientais de todos os nossos clientes, de modo a garantir a produção responsável. O mesmo vale para mais de 2,5 mil grandes empresas de diferentes setores que estão em nossa carteira de crédito.

Esse olhar criterioso também nos levou a participar, desde o início, da criação e fomento das CBios, que são os títulos gerados na produção de biocombustíveis que as distribuidoras de combustíveis usam para compensar suas emissões. Um mercado que está decolando no Brasil e serve de exemplo para o mundo. Globalmente, nosso grupo pretende alcançar a cifra de 120 bilhões de euros em financiamentos verdes entre 2019 e 2025 e já em 2020 seremos neutros em carbono, compensando todas as emissões de nossas operações. Quem lidera o comitê que trata destas metas é Sérgio Rial, o presidente do Santander Brasil.

Entendemos que o modo como crescemos é mais importante do que simplesmente avançar. Daí o nosso olhar diferenciado para o microcrédito, que gera riqueza e distribuição de renda para os mais vulneráveis do ponto de vista econômico e social. Daqui do Brasil, exportamos para outras geografias o nosso Prospera –a maior operação privada de microcrédito do país– e a Superdigital, criada para estimular a inclusão financeira. Esta expansão nos permitirá apoiar o desenvolvimento de mais de 600 mil empreendedores na América Latina até o fim de 2021. E os pequenos negócios também serão beneficiados por soluções que estamos trazendo para o Brasil, como a Ebury, uma empresa de meios de pagamento e transações internacionais que já atua em diversos países.

Com o avanço da Covid-19, aprendemos que unidos somos mais fortes. O acordo único que celebramos com Bradesco e Itaú em pró da Amazônia é um grande exemplo da colaboração de que o mundo necessita. Uma ideia que levarei comigo nesta viagem de volta, assim como a esperança de que, em meio a uma crise sem precedentes, seguiremos trabalhando juntos para construir o futuro que sempre sonhamos.

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