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No Clubhouse, usuários pulam de sala em sala entre mercado financeiro e BBB

Rede social cria bolhas e ansiedade, como outras, mas parece funcionar como espaço de debate

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São Paulo

Estar no Clubhouse é como estar em uma enorme conferência sobre todos os temas possíveis e na qual você pode se teletransportar de uma mesa sobre o mercado financeiro para uma acalorada discussão sobre o Big Brother Brasil com um estalar de dedos.

O aplicativo permite entrar e sair de bate-papos da mesma forma em que, antes do streaming, zapeávamos canais de televisão. Em vez de intercalar entre novelas, programas de variedade e comerciais, é possível pular de um debate sobre a censura na China para outro sobre feminismo, e depois para um karaokê.

Como outras redes sociais, a quantidade de informação causa ansiedade. Em curtos espaços de tempo, o aplicativo manda notificações de salas que abriram: há 5 minutos, Nath Fianças começou a falar sobre a fórmula do sucesso; há 10, Rafinha Bastos conversa sobre a cultura do cancelamento; há 15, alguns investidores debatem o futuro da Tesla, da Apple e do dinheiro.

É possível desativar as notificações. Ainda assim, chama atenção como os recém-ingressos —e são muitos— estão explorando o aplicativo, pulando de sala em sala e tentando absorver um pouco, ou nada, de cada conteúdo. Rafinha Bastos, por exemplo, pouco depois de sair da conversa sobre a cultura do cancelamento, entrou para o evento "Igreja de Anitta".

O anonimato, aliás, não é incentivado, mas tampouco a exposição. Por um lado o Clubhouse pede para que as pessoas se identifiquem pelo nome verdadeiro, e só é possível fazer uma correção. Daí para frente ficam visíveis os perfis, com foto, de todos os usuários participantes de uma conversa.

Em contrapartida, a dinâmica funciona exclusivamente por áudio e ao vivo. Não é possível enviar mensagens de texto, fotos, vídeos —acima de tudo, nada é gravado e registrado.

Outra semelhança com as demais redes sociais é a inevitabilidade da bolha. Ao entrar, o aplicativo sincroniza seu perfil com contatos de celulares, do Twitter ou do Instagram. Também permite escolher áreas de interesse, como política, economia ou esportes. Assim o algoritmo seleciona debates que calcula ser de interesse do usuário, ou que tenham conhecidos participando.

Na minha bolha, muitas conversas ainda giram em torno do próprio Clubhouse: primeiras impressões, como usá-lo, por que estamos em mais uma rede social? Uma sala era inteiramente dedicada a ensinar como criar uma boa descrição para o perfil.

Pela manhã, parecem predominar grupos sobre bem-estar, ioga e meditação. À noite, crescem as conversas sobre entretenimento e relações sociais. Como nem o Pix se salvou, o Clubhouse também já é usado como ferramenta de paquera.

Na segunda-feira (8) à noite, em uma sala, vereadores e especialistas discutiam o futuro da educação em tempos de pandemia e os desafios para os municípios. Em outra, chamada "Buteco Digital", influenciadores brincavam sobre a possibilidade de ETs ou de a rainha Elizabeth terem construído as pirâmides do Egito. Em determinado momento, cogitou-se a participação do menino do Acre.

O Clubhouse foi criado em abril do ano passado por Rohan Seth, ex-funcionário do Google, e por Paul Davidson, empresário do Vale do Silício, mas o interesse pela rede disparou nos últimos dias, impulsionado pela participação de celebridades e nomes influentes do mercado.

Entre eles, Elon Musk, da Tesla. A pessoa mais rica do mundo conversou com o executivo do aplicativo de investimentos Robinhood, Vlad Tenev, em um evento, atraindo uma legião de fãs para a plataforma.

Parte do sucesso está justamente no fato de permitir um contato próximo com famosos. Além de Musk, Oprah Winfrey e Drake estão entre os que já participaram de bate-papos e ajudaram a impulsionar o serviço.

Outra parte está na aparente exclusividade da rede, algo que pode se perder conforme ela ganha popularidade. Por ora o aplicativo só está disponível para iPhones, e para ingressar é necessário receber um convite de alguém que já faz parte.

Cada membro pode chamar apenas duas pessoas, o que já levou a um mercado paralelo de convites, que são vendidos em sites de ecommerce. Desenvolvedores disseram que estão trabalhando em uma versão para Android, mas não há previsão de lançamento.

Outra forma de entrar é baixando o aplicativo pela App Store. Nesse caso o usuário fica numa espécie de lista de espera que é sincronizada com os contatos de seu telefone. Caso algum contato esteja no app, ele é avisado e pode autorizar a entrada, sem queimar um dos convites.

As conversas, no geral, fluem bem. Moderadores têm o microfone aberto e podem definir a dinâmica do debate. Algumas funcionam mais como palestras, em que apenas os administradores falam entre si sobre temas que interessem aos ouvintes virtualmente presentes. Outras permitem a participação das pessoas, mas de forma organizada: para ter a palavra, é preciso levantar a mão (no caso, clicar em um emoji) e esperar ser chamado.

Há quem tenha definido a ferramenta como um "podcast interativo". A participação das pessoas lembra também a de ouvintes ligando para programas de variedade no rádio, mas com o dinamismo que a tecnologia agora permite.

"Isso é legado do Zoom. Batemos tanta cabeça no começo da pandemia, que agora aprendemos a ligar e desligar o microfone, respeitar quando o outro fala", comentou a atriz Camila Pitanga em uma sala chamada "Disque-Amizade", em que ela, Gregório Duvivier e Marina Person tentavam arranjar encontros para pessoas aleatórias que se manifestassem.

"Acho que a maior vantagem desse aplicativo é que você não precisa se despedir para sair", retrucou Duvivier.

De fato, há a opção "sair silenciosamente".

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