Cabify aponta crise social e sanitária como motivos para deixar o Brasil

Empresa também afirmou ter dificuldades para tornar o negócio rentável no país

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São Paulo

A startup de mobilidade espanhola Cabify anunciou nesta sexta-feira (23) que irá deixar o Brasil. As operações da empresa seguirão até o dia 14 de junho.

Em comunicado, a companhia afirmou ter um forte compromisso com a rentabilidade e, após um processo de análise sobre o mercado, tomou a decisão de encerrar o serviço.

A startup também disse que o mercado brasileiro ainda é muito afetado pela grave situação sanitária do país e pela crise socioeconômica local causada pela pandemia.

Carro operado pela Cabify em Málaga, na Espanha - Jon Nazca - 9.abr.21/Reuters

Apesar de um projeto envolvendo grandes investimentos, a Cabify conquistou uma fatia do mercado pequena no Brasil.

Na pesquisa semestral Panorama Mobile Time/Opinion Box, com usuários de smartphone, há um ano menos de 1% dos entrevistados que usam o serviço de corrida por aplicativo vem indicando o aplicativo da Cabify como seu preferido.

Na última edição, realizada com 2.028 pessoas em março e ainda não divulgada, a empresa não foi mencionada por nenhum dos entrevistados como aplicativo predileto para viagens. A Uber ficou com 71% das menções.

Enquanto suas principais rivais, Uber e 99, se engajaram em uma guerra de preços para conquistar o mercado brasileiro nos anos anteriores, a Cabify teve como estratégia cobrar mais caro dos clientes e se propor a oferecer um serviço de maior qualidade. A companhia chegou a chamar a concorrência no setor de irracional em entrevista à Folha.

A Cabify foi a última entre suas principais rivais a adotar a metodologia do preço dinâmico, segundo a qual a tarifa ao passageiro e o repasse ao motorista aumentam quando há maior volume de corridas.

Ao tomar a decisão, no final de 2017, a empresa disse que o mecanismo, refutado no início, ajuda a equilibrar oferta e demanda e beneficia a todos.

Executivos que passaram pela empresa disseram à Folha considerar que a companhia já vinha desde o ano passado reduzindo suas atividades no Brasil e centralizando sua operação na Espanha.

Na avaliação desses executivos, a empresa perdeu espaço no Brasil ao deixar de oferecer promoções com a mesma intensidade que as rivais e a buscar se tornar lucrativa antes delas, para garantir a sustentabilidade financeira do negócio.

A estratégia teria levado a uma redução no número de chamadas para os motoristas, o que os fez dar preferência aos outros serviços de corrida.

Luiz Correa, presidente do Sindimobi (sindicato que representa motoristas e entregadores de aplicativos no Rio), diz lamentar a notícia. Segundo ele, o aplicativo era muito usado em regiões de alta renda na cidade e em Niterói.

Em sua avaliação, a Cabify se destacou no país ao oferecer um treinamento mais completo aos motoristas e melhor pagamento no início de sua operação. Mais tarde, conforme a concorrência se acirrou, os valores caíram e o preparo aos profissionais diminuiu, diz.

Outra vantagem do serviço da empresa para os profissionais, avalia Correa, é que ela não colocou descontos nas tarifas e nos repasses aos motoristas em horas de poucas chamadas, estratégia adotada por Uber e 99 durante a pandemia.

Em nota, Vitor Magnani, presidente da ABO2O (associação de startups), disse que o setor perde uma grande empresa que contribuiu para o avanço da mobilidade urbana no Brasil.

A entidade diz que a pandemia da Covid-19 apresentou diversos desafios para todos os setores da economia e que, para superar a crise, é fundamental o apoio do setor público para estimular a concorrência entre as plataformas e oo surgimento de novos competidores.

A Cabify disse já ter informado os motoristas, passageiros e parceiros de seu serviço sobre sua decisão.

O serviço está presente em 40 cidades no Brasil e a startup não informa o número de profissionais cadastrados. A Uber atua em mais de 500 cidades brasileiras e a 99, em 1.600.

A Cabify chegou ao Brasil em maio de 2016, na esteira das primeiras regulações para o serviço de transporte por aplicativo em carros particulares na cidade de São Paulo.

Em 2017, a companhia adquiriu a startup brasileira Easy Taxi, uma das pioneiras no serviço de transporte por aplicativo no Brasil e que havia chamado atenção por uma rápida expansão internacional movida com recursos do fundo Rocket Internet. O serviço de táxis foi incorporado ao aplicativo da espanhola em 2019.

A startup foi fundada em 2011 em Madri. Segue funcionando na Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, México, Peru e Uruguai.

A companhia disse no comunicado que as cidades da América Latina e da Espanha em que está presente mostram bons índices de recuperação em comparação com o nível de atividade anterior à pandemia. Em média, a demanda global de viagens da empresa se recuperou em 75% até o final de 2020, afirma. ​

No início deste mês, a Cabify contratou o executivo Antonio España, do mercado de distribuição de gás, para ocupar a posição de diretor financeiro, o que foi visto pelo mercado como um movimento em direção à abertura de capital da empresa na bolsa de Madri.

Raio-X da Cabify

Fundação 2012 em Madri
Mercados 85 cidades de 9 países
Investimento recebido US$ 477 milhões (cerca de R$ 2,6 bilhões)
Principais investidores Rakuten, TheVentureCity e Endeavor Catalyst
Concorrentes Uber e 99

Empresas fechando atividades no Brasil

Cabify
A startup espanhola de mobilidade encerra suas atividades em junho após ter dificuldades para rentabilizar o negócio e dificuldades na pandemia

Ford
A montadora americana anunciou em janeiro que deixaria as atividades fabris no Brasil, encerrando fábricas em Taubaté (SP) e Camaçari (BA)

Sony
A empresa japonesa vendeu em dezembro sua fábrica de Manaus que produzia aparelhos de som, TVs e consoles de vídeo-game, para a Mondial, marca brasileira de eletrodomésticos

LG
A fabricante de eletrônicos decidiu encerrar sua produção mundial de celulares até 31 de julho, o que levará ao fechamento de fábrica em Taubaté (SP)

LafargeHolcim
A fabricante de cimentos contratou o Itaú BBA para vender suas indústrias no Brasil. Analistas apontam desvalorização do real e incertezas sobre futuro da economia brasileira como prováveis motivos.

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