Bolsonaro teria se arrependido de dar autonomia ao BC, mas instituição não sofre pressão do Palácio, dizem agências

Palácio do Planalto respondeu, via assessoria de imprensa, que presidente é favorável à autonomia da instituição

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Marcela Ayres
Brasília | Reuters

O Banco Central vê barulho quanto ao efetivo apoio do Planalto à sua autonomia formal, sancionada em lei deste ano, mas não sente movimento ou pressão do presidente Jair Bolsonaro contra o status recém-adquirido, disseram à Reuters, sob a condição de anonimato, pessoas que acompanham o tema na autoridade monetária.

Os técnicos do BC perceberam a insatisfação do presidente quando o procurador-geral da República, Augusto Aras, ter se manifestado no fim de abril pela inconstitucionalidade da lei que garantiu a autonomia do BC. Aras e o presidente são próximos.

Por isso, notícias de que Bolsonaro estaria arrependido por ter garantido a autonomia não causaram surpresa, afirmam os interlocutores. Por outro lado, desatacam que não houve pressão efetiva contra a instituição. A expectativa é que que o STF (Supremo Tribunal Federal) irá chancelar a autonomia.

Sede do Banco Central, em Brasília - Adriano Machado - 22.jun.2021/Reuters/File Photo

Na sexta-feira (20), a agência de notícias Associated Press publicou que Bolsonaro confidenciou a interlocutores ter se arrependido da lei de autonomia, que assinou em fevereiro.

À Reuters, o Palácio do Planalto respondeu, via assessoria de imprensa, que Bolsonaro é favorável à autonomia do BC.

O STF deve julgar nesta quarta-feira (25) a validade da lei que deu autonomia ao BC e também estabeleceu mandatos fixos para presidente e diretores da instituição. Esses mandatos não coincidem com o do presidente da República com o objetivo de resguardar a instituição de ingerência política.

A contestação da lei foi apresentada pelo PT e PSOL. O relator da ação, ministro Ricardo Lewandowski, julgou o pedido procedente. Tanto Lewandowski quanto Aras justificaram que o projeto de lei sobre o tema deveria ter saído do Executivo, e não do Senado, uma vez que somente a Presidência da República poderia propor a perda de poder sobre um órgão da administração pública.

Integrante da equipe econômica, que também prefere não ter o nome revelado, ponderou que, a despeito dos barulhos políticos —afinal, a autonomia do BC tira da alçada do Planalto qualquer influência sobre a gestão monetária—, a agenda da autonomia integrou as discussões sobre o plano de Bolsonaro para o governo desde antes da campanha eleitoral de 2018.

Segundo esse ele, dentro da equipe econômica a avaliação é de que a inflação alta deriva em grande parte do aumento no preço das commodities, sendo também influenciada pelo ritmo mais forte da retomada econômica.

No time do ministro Paulo Guedes, há o sentimento de que a autonomia do BC foi um feito com custo de aprovação política, tentado sem sucesso por governos anteriores, e que não há nenhum sentido em retroceder no status conferido à autarquia.

Essa leitura tem sido passada a Bolsonaro, apesar de o presidente ter culpado, nos últimos dias, os governadores e as medidas de lockdown pela alta de preços na economia.

No Twitter, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, escreveu na sexta-feira que "a relação do governo com o BC é excelente" e "que a autonomia da autoridade monetária é um avanço histórico e irreversível".

"Parem de inventar fagulhas que não existem. Responsabilidade, por favor. Não existe nenhuma, repito, nenhuma crise entre o presidente Bolsonaro e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto", disse.

O BC tem como principal missão combater a inflação e, nesse sentido, a liberdade para mexer na taxa básica de juros é seu principal instrumento.

Campos Neto tem martelado em ocasiões recentes que a autoridade monetária fará o que for preciso para ancorar as expectativas de inflação, que têm se distanciado da meta para 2022 em meio ao expressivo aumento dos preços.

Nos 12 meses até julho, a inflação medida pelo IPCA beirou 9%, distante da meta central de 3,75% para este ano, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. Para 2022, as expectativas mais recentes apontam para um IPCA de 3,93%, acima da meta central de 3,50%.

O BC já manifestou a intenção aberta de levar a Selic —hoje em 5,25%— para o patamar restritivo, isto é, que atua no sentido de desaquecer a economia. No mercado, a expectativa é de que 2022, ano de eleições presidenciais, comece com a taxa em 7,5%.

Procurado, o BC não se manifestou até o momento.

Colaborou Lisandra Paraguassu

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