Descrição de chapéu Ásia CRISE ENERGÉTICA

Distribuidoras de energia da China aumentam preços para reduzir apagões

Preços recordes do carvão e estoques cada vez menores levam país a uma grave escassez de energia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Chen Xuewan Kelsey Cheng Flynn Murphy
Caixin

As distribuidoras de eletricidade das províncias chinesas estão aumentando os preços da energia depois de um sinal do principal órgão de planejamento econômico do país, que enfrenta a combinação de preços recordes do carvão e estoques cada vez menores, levando a uma grave escassez de energia.

As usinas a carvão de Ningxia, Shanghai, Shandong, Guangdong e partes da Mongólia Interior aumentaram suas taxas fixas cobradas das operadoras de redes em 10%, o máximo permitido pelos regulamentos nacionais, segundo uma análise da agência Caixin.

O aumento dos preços do carvão levou os produtores a vender energia abaixo do custo, o que reduziu muito o incentivo para gerar eletricidade e armazenar carvão antes do inverno. Isto, juntamente com os cortes ordenados pelo governo na capacidade de mineração de carvão desde 2016 e medidas de economia de energia para cumprir as metas de emissão de carbono, contribuíram para apagões regionais e racionamento.

Estação de energia em Xangai - Hector Retamal - 28.set.2021/AFP

"Os preços poderão refletir razoavelmente as mudanças na demanda e oferta de energia, assim como os custos", disse a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC na sigla em inglês) em um comunicado postado online na quarta-feira (29). Foi a primeira vez que o órgão máximo de planejamento econômico da China tratou da crescente escassez de energia no país.

Depois que os preços passaram muito tempo rigidamente regulamentados na China, o governo lançou um novo mecanismo flutuante em 1º de janeiro de 2020, que se baseia nos preços de mercado através de negociações ou licitações para reduzir os preços na rede e forçar o mercado de carvão a ser mais voltado para o comprador.

Ele usa uma "flutuação de benchmark plus", fórmula determinada pelo preço atual na rede em cada região e uma revisão para cima de não mais que 10% e uma revisão para baixo de no máximo 15%.

Na província central de Hunan, as taxas poderão subir mais que o limite de 10% depois que o mecanismo de preços da eletricidade gerada a carvão for acionado a partir de outubro, segundo um documento da Comissão de Desenvolvimento e Reforma da província de Hunan.

A agência disse na segunda (27) que iniciará um novo mecanismo em outubro que ligará o mercado de carvão aos preços industriais da energia elétrica. Quando os preços do carvão comprado pelas usinas superar 1.300 yuans (US$ 201; R$ 1.091) por tonelada, para cada aumento de 50 yuans o preço de venda da eletricidade aumentará 0,015 yuan por kilowatt-hora (kWh).

Hunan foi uma das nove províncias, com Guangdong, Shandong, Anhui, Guizhou, Liaoning, Heilongjiang, Jilin e a Mongólia Interior, que foram obrigadas a racionar eletricidade porque os altos preços do carvão causaram uma menor disposição a gerar energia e estoques insuficientes de carvão nas usinas, disse o analista da CICC Liu Jiani em uma nota na terça-feira (28).

Espera-se que as novas revisões na estrutura de preços ajudem a reduzir a escassez de energia, que levou fábricas em Shantou e Guangdong a fechar durante uma semana depois que a cidade sofreu uma falta de 932 mil kWh na quinta. No mesmo dia, a cidade pujante de Shenzhen teve um deficit de energia de 2,8 milhões de kWh, levando ao fechamento forçado de fábricas durante quatro dias por semana.

Os cortes de produção em toda a China, se prolongados, poderão cortar 1 ponto percentual do crescimento do PIB no quarto trimestre, liderado por produtores de materiais, com constantes restrições de oferta a montante e faltas de energia também pesando em projetos de infraestrutura, segundo relatório de pesquisa do Morgan Stanley datado de 26 de setembro.

Em mais um sinal de quão desesperada está ficando a situação em algumas áreas, a State Grid Hunan Electric Power Co. recomendou na última quarta-feira (29) que áreas de toda a província também reduzam o uso, desligando iluminação de fachadas de prédios e paisagismo e grandes outdoors durante os horários de pico.

"A oferta de energia na China está garantida neste inverno e na próxima primavera", segundo a NDRC. "Temos os recursos, condições e capacidade de garantir que as pessoas passarão o inverno aquecidas e seguras."

Importações vão crescer

A NDRC também tratou da questão do suprimento de carvão, dizendo que o país vai aumentar "moderadamente" as importações do minério, e instruiu grandes regiões produtoras de carvão como Shanxi, Shaanxi e Mongólia Interior a "fazerem todos os esforços para aumentar a produção e a oferta". Grandes usuários industriais devem tentar economizar energia, disse a comissão.

O órgão também instruiu as empresas de geração de energia e aquecimento a aumentar suas compras de carvão importado. Segundo a Administração Geral de Alfândegas da China, o país importou 10,3% menos carvão nos primeiros oito meses do ano, ou um total de 198 milhões de toneladas.

Isso se deveu em parte à suspensão de importações de carvão da Austrália depois de atritos geopolíticos, além de outros fatores. Em 27 de setembro, Han Jun, governador da província gélida de Jilin, no nordeste da China, mandou as firmas de aquecimento e energia importarem mais carvão da Rússia, Mongólia e Indonésia.

Consequentemente, os preços domésticos dispararam, com o índice costeiro CECI, que reflete os níveis de preços das compras, em 1.086 yuans (R$ 916) por tonelada por 5.500 kcal/kg de carvão térmico para a semana até 24 de setembro, quase o dobro de um ano atrás, segundo o Conselho de Eletricidade da China. Os futuros de carvão térmico no país alcançaram 1.376,8 yuans (R$ 1.161,33) por tonelada na quarta, antes de fechar a 1.308,8 yuans (R$ 1.103,97) por tonelada, em queda de 1,51%.

Segundo um funcionário de uma usina de energia privada em Guangdong, os estoques de carvão em 16 de setembro nas principais usinas da província estavam abaixo de 2,4 milhões de toneladas, 60% a menos que no ano passado.

Na verdade, desde o final de fevereiro, depois que medidas para garantir o suprimento de carvão no inverno foram canceladas, apareceram sinais de desequilíbrio na oferta e demanda doméstica de carvão e os preços começaram a subir.

Em 27 de setembro, um analista do mercado de carvão disse à Caixin que o preço à vista para 5.500 kcal/kg de carvão térmico nos portos do norte tinha aumentado para aproximadamente 1.600 yuans (R$ 1.349,60) por tonelada, 1,6 vez acima do preço no mesmo período do ano passado. "Estou neste negócio há mais de dez anos e nunca vi nada parecido", acrescentou ele.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.