As autoridades regulatórias dos Estados Unidos acusaram o grupo WPP, a maior companhia publicitária do planeta, de pagar propinas a integrantes do governo indiano e de participar de “outros esquemas ilícitos” na China, Brasil e Peru.
A Securities and Exchange Commission (SEC), agência federal que regulamenta os mercados de valores mobiliários dos Estados Unidos, anunciou na sexta-feira (24) que a companha britânica havia fechado um acordo para pagar US$ 19 milhões (R$ 101,5 milhões) quanto às acusações de que violou a Lei de Práticas Estrangeiras Corruptas dos Estados Unidos entre 2013 e 2018.
Os esquemas descobertos pela SEC incluem o pagamento de até US$ 1 milhão (R$ 5,3 milhões) em propinas por subsidiárias da WPP na Índia e ajuda para financiar ilegalmente uma campanha política do prefeito de Lima.
Outra suposta violação envolve uma campanha publicitária inteiramente forjada para celebrar o aniversário de formação do estado indiano de Telangana.
O WPP, que até 2018 era presidido seu fundador, Martin Sorrell, não admitiu e nem negou as constatações da investigação. A companhia declarou em comunicado que sua “nova liderança” havia, de lá para cá, “colocado em prática novas e medidas robustas de fiscalização e controle”. Sorrell se recusou a comentar.
A empresa, que é parte do índice FTSE 100 da bolsa de valores de Londres, não tinha em operação um sistema adequado de controle contábil, para impedir as propinas, e tampouco respondeu “aos alertas repetidos quanto a sinais de corrupção” em algumas de suas subsidiárias internacionais, afirmou a SEC.
A agência regulatória afirmou que uma estratégia de crescimento indevidamente agressiva, sob a qual o WPP assumiu participações acionárias majoritárias em diversas agências locais instaladas em mercados de alto risco, era uma das causas essenciais das violações.
Os problemas na Índia se originaram com a aquisição pelo WPP, em 2011, de uma agência de publicidade em Hydebarad, cujo um dos fundadores foi tornado presidente-executivo da subsidiária. Os termos da aquisição incluíam uma cláusula de pagamento postergado, que condicionava o desembolso completo do valor de aquisição ao cumprimento de determinadas metas financeiras.
Entre 2015 e 2017, disse a SEC, o WPP recebeu sete queixas anônimas que acusavam, “de maneira cada vez mais específica”, a existência de esquemas de suborno, que por fim elevaram os lucros líquidos do grupo em US$ 5 milhões (R$ 26,7 milhões).
Em um dos esquemas, toda uma campanha para celebrar o aniversário da formação do estado indiano de Telangana foi forjada.
Na China, uma subsidiária realizou “pagamentos não justificados” em conexão com uma auditoria tributária, segundo a SEC, que também informou que uma subsidiária do WPP no Brasil havia realizado “apagamentos impróprios” em conexão a contratos governamentais, entre 2016 e 2018.
A SEC afirmou que o WPP não agiu para garantir que suas subsidiárias adotassem controles contábeis ou normas de fiscalização adequados, e permitiu que os fundadores e presidentes-executivos de empresas adquiridas “exercitassem ampla autonomia e exercessem influência desproporcional”.
O WPP afirmou que as constatações se relacionavam a “questões de controle e de aquisição e integração de companhias em mercados de alto risco antes de 2018”.
O grupo “mudou fundamentalmente sua abordagem quanto a aquisições, cooperou plenamente com a comissão e demitiu as pessoas envolvidas em desvios de conduta”.
Embora suas ações sejam cotadas em Londres, o WPP tem ADRs cotados na bolsa de valores de Nova York.
Sorrell declarou que não teve participação ou envolvimento no acordo entre a SEC e o WPP. "Meu compromisso pessoal para com a fiscalização e controle, durante quase 50 anos de criação de valor, foi sempre rigoroso, e continua a sê-lo. Aponto que houve demissões de apenas alguns executivos seniores e outros empregados do WPP envolvidos em delitos de conduta, em consequência. Deixei a WPP em boa situação, como uma declaração do grupo em 14 de abril de 2018 torna claro.”
Sorrell foi substituído como presidente-executivo por Mark Read, em 2018.
Tradução de Paulo Migliacci
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