Descrição de chapéu Financial Times

WPP faz acordo em processo de propina que inclui Brasil

Maior agência de publicidade do mundo pagou US$ 19 milhões após acusações da SEC nos EUA

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Alistair Gray
Londres | Financial Times

As autoridades regulatórias dos Estados Unidos acusaram o grupo WPP, a maior companhia publicitária do planeta, de pagar propinas a integrantes do governo indiano e de participar de “outros esquemas ilícitos” na China, Brasil e Peru.

A Securities and Exchange Commission (SEC), agência federal que regulamenta os mercados de valores mobiliários dos Estados Unidos, anunciou na sexta-feira (24) que a companha britânica havia fechado um acordo para pagar US$ 19 milhões (R$ 101,5 milhões) quanto às acusações de que violou a Lei de Práticas Estrangeiras Corruptas dos Estados Unidos entre 2013 e 2018.

Os esquemas descobertos pela SEC incluem o pagamento de até US$ 1 milhão (R$ 5,3 milhões) em propinas por subsidiárias da WPP na Índia e ajuda para financiar ilegalmente uma campanha política do prefeito de Lima.

Foto mostra logo da WPP, formado pelas três letras escritas em amarelo num fundo vermelho
Placa de anúncio da WPP, maior grupo de publicidade do mundo, no escritório da companhia em Londres - Toby Melville - 17.jul.2019/Reuters

Outra suposta violação envolve uma campanha publicitária inteiramente forjada para celebrar o aniversário de formação do estado indiano de Telangana.

O WPP, que até 2018 era presidido seu fundador, Martin Sorrell, não admitiu e nem negou as constatações da investigação. A companhia declarou em comunicado que sua “nova liderança” havia, de lá para cá, “colocado em prática novas e medidas robustas de fiscalização e controle”. Sorrell se recusou a comentar.

A empresa, que é parte do índice FTSE 100 da bolsa de valores de Londres, não tinha em operação um sistema adequado de controle contábil, para impedir as propinas, e tampouco respondeu “aos alertas repetidos quanto a sinais de corrupção” em algumas de suas subsidiárias internacionais, afirmou a SEC.

A agência regulatória afirmou que uma estratégia de crescimento indevidamente agressiva, sob a qual o WPP assumiu participações acionárias majoritárias em diversas agências locais instaladas em mercados de alto risco, era uma das causas essenciais das violações.

Os problemas na Índia se originaram com a aquisição pelo WPP, em 2011, de uma agência de publicidade em Hydebarad, cujo um dos fundadores foi tornado presidente-executivo da subsidiária. Os termos da aquisição incluíam uma cláusula de pagamento postergado, que condicionava o desembolso completo do valor de aquisição ao cumprimento de determinadas metas financeiras.

Entre 2015 e 2017, disse a SEC, o WPP recebeu sete queixas anônimas que acusavam, “de maneira cada vez mais específica”, a existência de esquemas de suborno, que por fim elevaram os lucros líquidos do grupo em US$ 5 milhões (R$ 26,7 milhões).

Em um dos esquemas, toda uma campanha para celebrar o aniversário da formação do estado indiano de Telangana foi forjada.

Selo da Securities and Exchange Commission (SEC) na sede da comissão em Washington, nos Estados Unidos - Andrew Kelly - 12.mai.2021/Reuters

Na China, uma subsidiária realizou “pagamentos não justificados” em conexão com uma auditoria tributária, segundo a SEC, que também informou que uma subsidiária do WPP no Brasil havia realizado “apagamentos impróprios” em conexão a contratos governamentais, entre 2016 e 2018.

A SEC afirmou que o WPP não agiu para garantir que suas subsidiárias adotassem controles contábeis ou normas de fiscalização adequados, e permitiu que os fundadores e presidentes-executivos de empresas adquiridas “exercitassem ampla autonomia e exercessem influência desproporcional”.

O WPP afirmou que as constatações se relacionavam a “questões de controle e de aquisição e integração de companhias em mercados de alto risco antes de 2018”.

O grupo “mudou fundamentalmente sua abordagem quanto a aquisições, cooperou plenamente com a comissão e demitiu as pessoas envolvidas em desvios de conduta”.

Embora suas ações sejam cotadas em Londres, o WPP tem ADRs cotados na bolsa de valores de Nova York.

Sorrell declarou que não teve participação ou envolvimento no acordo entre a SEC e o WPP. "Meu compromisso pessoal para com a fiscalização e controle, durante quase 50 anos de criação de valor, foi sempre rigoroso, e continua a sê-lo. Aponto que houve demissões de apenas alguns executivos seniores e outros empregados do WPP envolvidos em delitos de conduta, em consequência. Deixei a WPP em boa situação, como uma declaração do grupo em 14 de abril de 2018 torna claro.”

Sorrell foi substituído como presidente-executivo por Mark Read, em 2018.

Tradução de Paulo Migliacci

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