A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) revisou nesta quarta-feira (1º) as suas projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil em 2022, reduzindo fortemente as estimativas para o ano que vem, de 2,3% para 1,4%.
Entre os principais fatores apontados para justificar a queda nas projeções, a entidade destaca o aumento maior esperado para os juros e a desaceleração da China.
As projeções da organização ainda são mais otimistas do que as de agentes do mercado, que já preveem um crescimento de 0,58% no PIB do ano que vem, de acordo com o mais recente Boletim Focus, do Banco Central.
Segundo a instituição, conhecida como "clube dos países ricos", a campanha de vacinação acelerou e a atividade econômica, sustentada pelo consumo privado e pelo investimento, reiniciou à medida que as restrições de circulação foram reduzidas.
"As exportações se beneficiaram da recuperação global, no entanto, gargalos na oferta, menor poder de compra e taxas de juros mais altas desaceleraram o ritmo de recuperação. O mercado de trabalho está se recuperando com atraso e o desemprego permanece acima dos níveis de antes da pandemia", avalia a OCDE sobre o Brasil.
A incerteza política no país e o aumento do risco fiscal também estão pesando sobre a taxa de câmbio, elevando a inflação, segundo a OCDE. A organização avalia que o crescimento recuperará o impulso conforme a inflação cair e o mercado de trabalho se recuperar.
A OCDE também reforçou a necessidade da continuidade da agenda de reformas no país. "Para financiar políticas que aumentem o crescimento, mantendo uma posição fiscal sustentável, o governo precisa melhorar a eficiência dos gastos públicos."
Para este ano ano, a OCDE também reduziu suas projeções para o desempenho da economia brasileira, agora projetando um crescimento de 5% —ante 5,2%, na previsão anterior. Pelo Focus, a previsão de crescimento para o país é de 4,78%.
"Surgiram desequilíbrios importantes", afirmou a organização com sede em Paris.
Em relação ao crescimento global, a organização agora estima que ele deve atingir 5,6% neste ano —o que representa 0,1 ponto a menos em comparação com a estimativa de setembro— antes de se moderar para 4,5% em 2022 e 3,2% em 2023.
Isso sofreu pouca alteração em relação à estimativa anterior de 5,7% para 2021, enquanto a previsão para 2022 ficou inalterada. Foi a primeira vez que a OCDE divulgou projeções para 2023.
O organismo destaca a existência de realidades econômicas muito diferentes entre regiões e afirma que a recuperação continuará sendo precária enquanto as vacinas não forem distribuídas em todo o mundo.
Para a OCDE, estas brechas também apontam as desigualdades nos sistemas de saúde, nas políticas públicas, das dificuldades dos trabalhadores de alguns setores e de uma alta dos preços que persiste por mais tempo do que havia sido projetado.
Segundo a organização, o principal risco para as perspectivas econômicas globais é de que o atual salto da inflação mostre-se mais longo e seja mais forte do que o atualmente esperado.
Ainda diz que, com a economia global se recuperando com força, as empresas estão encontrando dificuldades para atender ao retorno da demanda dos clientes pós-pandemia, provocando alta da inflação em todo o mundo em meio a gargalos nas cadeias de oferta globais.
"A indústria automobilística é um dos principais setores atingidos pela escassez de bens intermediários, como semicondutores, e por gargalos no transporte marítimo e metais. A produção e as vendas caíram globalmente, enquanto os preços de veículos novos e usados aumentaram", segue a OCDE.
Como a maioria das autoridades, para a OCDE, o salto deve ser transitório e diminuir conforme a demanda e a produção voltarem ao normal.
"O principal risco, no entanto, é de que a inflação continue a surpreender para cima, forçando os principais bancos centrais a apertarem a política monetária mais cedo e com mais força do que projetado."
Para a zona do euro, a OCDE calculou uma leve queda na previsão de crescimento para 2021, a 5,2%, e, para os Estados Unidos, a organização volta a revisar as projeções, com um crescimento de 5,6% para este ano e de 3,7% para 2022.
Ômicron
O relatório não possui estimativas sobre o surgimento da variante ômicron, detectada há poucos dias, mas a economista chefe da OCDE, a francesa Laurence Boone, afirmou que "pode representar uma ameaça para a recuperação" da economia mundial.
"Estamos preocupados com fato de que esta nova variante, ômicron, acrescenta incerteza ao clima já existente, o que pode representar uma ameaça para a recuperação", disse Boone.
(Com AFP e Reuters)
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