Leite para bebês some das prateleiras nos EUA, e pais viajam horas para comprar latas

Quebra na cadeia de abastecimento e recall da maior produtora do país provoca escassez do produto

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Salvador

Uma grave escassez de leite em pó para bebês, causada pela crise na cadeia de suprimentos e pelo recall de um dos maiores fornecedores do país, está atingindo com os Estados Unidos. Famílias em todo o país estão dirigindo por horas e até estocando o produto para garantir a alimentação de seus filhos.

A falta de leite infantil nos EUA foi desencadeada por problemas nas cadeias logísticas causados pela pandemia, que dificultam a distribuição de ingredientes do produto, e pela crise na mão de obra enfrentada pelos Estados Unidos, comprometendo a chegada do leite às prateleiras do supermercados.

O problema foi agravado em fevereiro, quando a Abbot Nutrition, maior fornecedora de leite para bebês dos Estados Unidos, fez um recall voluntário de três de seus produtos. Pelo menos quatro bebês foram hospitalizados com infecções bacterianas e dois morreram após ingerirem leites da marca.

Mulher em seção de leite em pó infantil em Walmart em Rosemead, na Califórnia, Estados Unidos - Zeng Hui - 13.mai.2022/Xinhua

Após o incidente, a companhia fechou sua unidade no Michigan, onde os produtos foram fabricados, e aguarda autorização para retomar a produção.

Com isso, o índice de desabastecimento de leite para bebês nos Estados Unidos chegou a 43% na última semana, de acordo com o Datasembly, provedor de dados do varejo.

Supermercados no país chegaram a limitar a compra de unidades do produto, e vendedores online têm comercializado latas com até o triplo do preço normal.

"O escopo sem precedentes deste recall de fórmula infantil tem sérias consequências para bebês e novos pais", afirmou o diretor nacional de políticas públicas da WIC Association, Brian Dittmeier, em entrevista ao New York Times. A organização oferece assistência nutricional para mulheres, bebês e crianças nos EUA e tem a Abbot como fornecedor exclusivo em mais da metade de suas agências no país.

Para muitas famílias, o leite infantil é uma necessidade. Alguns bebês não podem beber leite materno – ou, pelo menos, o suficiente para se manterem saudáveis—, enquanto muitas mães, especialmente de baixa renda, ganham por hora de trabalho e não têm tempo para amamentar.

Ao NYT, famílias relatam que estão formando grupos no Facebook para alertar uns aos outros sobre estoques reabastecidos e preços mais em conta. Alguns chegam a dirigir por horas e visitar até seis lojas em cidades próximas para encontrar uma lata —ou, às vezes, mais prateleiras vazias.

Já pais que compram online dizem que, além de preços muito maiores que os normal, encontraram golpistas que fingem estar vendendo o produto mas nunca o entregam.

Há, ainda, aqueles que, sem sucesso na corrida, buscam a alternativas que podem comprometer a saúde dos bebês. Uma mãe solteira relatou ao Washington Post que cogitava começar a utilizar leite comum para seu filho de nove meses, já que não encontrou o produto infantil e não tem condições de procurá-lo por tanto tempo. A prática, porém, é contraindicada por especialistas, pois pode afetar o desenvolvimento da criança.

Além disso, algumas famílias recorrem à diminuição da quantidade regular de leite ao alimentar a criança, diluindo a fórmula em água e complementando com outro alimento, algo que também não é recomendado, pois compromete a quantidade de nutrientes ingerida pelo bebê.

A FDA (agência reguladora de alimentos dos Estados Unidos) e o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) alertam ainda para os riscos de famílias que buscam fazer seu próprio leite infantil caseiro, o que também pode comprometer a saúde dos bebês.

Governo corre para garantir abastecimento

Na última sexta-feira (13), a presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, afirmou que daria seguimento a um projeto de lei para garantir autoridade emergencial ao programa federal de assistência alimentar a mulheres e crianças, buscando flexibilizar as restrições sobre os tipos de leite que podem ser adquiridos.

"Os bebês estão chorando e estão com fome", disse Pelosi, em comunicado aos parlamentares. "Portanto, devemos tomar medidas urgentes para proteger sua saúde e bem-estar."

O presidente Joe Biden classificou a escassez de leite como o problema mais urgente enfrentado por ele, e afirmou que a FDA está tomando medidas que podem ter resultados nas próximas semanas.

Na quinta-feira, governo Biden anunciou que irá aumentar as importações de leite em pó infantil, e que as autoridades estão trabalhando para remover barreiras comerciais para a compra do produto.

A FDA disse que estava trabalhando "ininterruptamente" para ajudar a reabrir a fábrica de Sturgis, depois de coletar várias amostras da infecção bacteriana que levou ao recall da Abott durante sua investigação. A reguladora também disse que está trabalhando com outros fabricantes para aumentar a oferta.

A Abbott disse que, se receber a aprovação da FDA, está pronta retomar a produção dentro de duas semanas e colocar o leite de volta às prateleiras em até oito semanas.

Com Reuters

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