Descrição de chapéu Financial Times Folha ESG

CEO de gestora do Deutsche Bank renuncia após operação policial contra greenwashing

Asoka Wöhrmann deixará o cargo do principal gestor de ativos da Alemanha a partir de 10 de junho

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William Langley Joe Miller
Hong Kong e Frankfurt | Financial Times

O CEO da principal empresa de gestão de ativos da Alemanha, DWS Group, renunciou horas depois que os escritórios da firma em Frankfurt foram invadidos pela polícia por denúncias de "greenwashing" [enganar investidores sobre investimentos "verdes"].

A DWS disse em comunicado na manhã de quarta-feira (1º) que Asoka Wöhrmann, CEO desde o final de 2018, deixará o cargo em 10 de junho, um dia após a assembleia anual de acionistas do grupo.
Ele será substituído por Stefan Hoops, antes chefe do banco corporativo do Deutsche Bank, o acionista majoritário da DWS, com 80% de participação.

Hoops, que esteve no Deutsche Bank durante toda a sua carreira e é próximo de seu presidente-executivo, Christian Sewing, será substituído pelo britânico David Lynne, que atualmente dirige os negócios corporativos do Deutsche na região Ásia-Pacífico.

O CEO da DWS, Asoka Wöhrmann - Reprodução/Grupo DWS do Youtube

A saída de Wöhrmann, outro aliado de Sewing e que já foi o banqueiro de varejo mais importante do Deutsche na Alemanha, ocorre em meio ao crescente escrutínio do DWS após receber denúncias de greenwashing. É também mais um revés para o Deutsche Bank, que tenta superar uma década de escândalos e perdas multibilionárias.

A troca de executivos ocorreu após uma batida de cerca de 50 policiais alemães nos escritórios do DWS e do Deutsche Bank no centro de Frankfurt na terça-feira (31), como parte de uma investigação sobre possível fraude de prospectos na gestora de ativos. A busca envolveu promotores públicos de Frankfurt, polícia federal e funcionários da agência reguladora financeira alemão BaFin.

A BaFin lançou uma investigação sobre o DWS no ano passado, após uma investigação semelhante da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, que foi motivada por denúncias da ex-executiva do DWS Desiree Fixler.

Fixler disse que a empresa fez declarações enganosas em seu relatório anual de 2020 sobre alegações de que mais da metade dos ativos de US$ 900 bilhões (R$ 4,2 trilhões) do grupo foram investidos usando critérios ESG (ambientais, sociais e de governança).

O DWS negou qualquer irregularidade, mas mudou seus critérios ESG desde as revelações de Fixler. Em seu relatório anual de 2021, publicado em março de 2022, o DWS relatou apenas 115 bilhões de euros (R$ 583,3 bilhões) em "ativos ESG" para 2021 –75% a menos que um ano antes, quando declarou que 459 bilhões de euros (R$ 2,3 trilhões) em ativos eram "integrados a ESG".

As ações do grupo caíram 7% até o meio-dia de quarta-feira em Frankfurt, enquanto as ações do Deutsche Bank subiam ligeiramente.

A indústria ESG está enfrentando um crescente coro de críticas de reguladores e profissionais de investimento, inclusive sobre os métodos de avaliação dos ativos.

Análises recentes de agências de classificação descobriram que eles usaram critérios divergentes para dimensionar investimentos ESG, e o regulador de valores mobiliários dos EUA está prestes a reprimir credenciais ESG exageradas em produtos de investimento, preparando padrões para o setor de fundos sustentáveis, que cresceu para quase US$ 3 trilhões (R$ 14,1 trilhões).

A unidade de gestão de ativos do HSBC suspendeu recentemente seu chefe global de investimento responsável depois que ele acusou banqueiros centrais e formuladores de políticas de exagerar os riscos financeiros das mudanças climáticas, na tentativa de "superar o próximo cara".

A substituição de Wöhrmann ocorre alguns meses depois que o Financial Times revelou que o Deutsche Bank estava investigando um pagamento de 160 mil euros (R$ 811,6 mil) feito por um cliente ao banqueiro, quando ele era chefe do negócio de clientes privados do credor. O executivo disse que a transferência foi parte de uma tentativa frustrada de comprar um carro Porsche.

Wöhrmann também enfrentou críticas pelo uso de um endereço de e-mail pessoal para fins comerciais durante seu tempo no Deutsche Bank.

Em comunicado divulgado pela DWS, Wöhrmann disse que estava saindo "para abrir caminho para um novo começo", pois "as acusações feitas contra a DWS e contra mim nos últimos meses se tornaram um fardo para a empresa, bem como para minha família".

Karl von Rohr, presidente do DWS, disse que Wöhrmann desempenhou um "papel importante" na operação de gestão de ativos do banco nos últimos anos. "Sob sua liderança, o DWS expandiu sua posição de mercado e teve um bom desempenho num ambiente desafiador recente", disse ele.

​Sewing, que havia defendido Wöhrmann, disse que queria lhe agradecer "por seu impressionante trabalho e desempenho para o DWS e o Deutsche Bank".

A remuneração total de Wöhrmann aumentou 15% no ano passado, para 6,9 milhões de euros (R$ 35 milhões), apesar de o grupo ter perdido 1 bilhão de euros (R$ 5 bilhões) em capitalização de mercado em um único dia após a divulgação das investigações das autoridades policiais dos EUA.

Colaborou Owen Walker. Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.

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