Bancões concentram lucros do setor, presidente do Ipea contesta alta da fome e o que importa no mercado

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Bancões concentram 78% dos lucros

Dos R$ 132 bilhões de lucro líquido registrados no sistema bancário em 2021, 78% ficaram com os cinco maiores bancos do país –Itaú, Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.

Os dados foram reunidos pelo BC (Banco Central) a pedido da Folha e mostram um lucro líquido de R$ 103,5 bilhões no ano passado na soma dos cinco bancões.

Em números: segundo os balanços das instituições, o Itaú foi o banco privado com o maior lucro líquido contábil em 2021, com R$ 24,9 bilhões.

  • Bradesco (R$ 21,9 bilhões) e Santander Brasil (R$ 14,988 bilhões) vêm na sequência.
  • Entre as instituições públicas, o BB (Banco do Brasil) vem na frente, com R$ 19,7 bilhões. A Caixa (R$ 17,2 bilhões) vem na sequência. Os dados do BC têm ajustes para eliminar eventos não recorrentes.
  • O montante de R$ 132 bilhões foi 49% superior ao lucro líquido registrado pelos bancos em 2020 e 10% acima do observado em 2019.

O que explica: a alta dos lucros dos bancões foi puxada por melhores margens com o avanço dos juros, a redução de despesas com provisões (dinheiro reservado para cobrir calotes) e ganho de eficiência, segundo o documento do BC.

Concentração? O alto percentual de lucro na mão de poucas instituições é considerado por especialistas como um sinal da concentração do setor no Brasil, algo que a Febraban, entidade representante dos bancões, nega.

  • Ela afirma que o setor bancário é "extremamente competitivo e aberto à entrada de novos concorrentes".

O BC tem buscado um caminho para aumentar a competitividade entre as instituições financeiras. São exemplos desse esforço a regulamentação das fintechs, a criação do open banking e o lançamento do open finance.

  • Roberto Campos Neto, presidente da autarquia, afirma que a concentração bancária caiu de 81,2% em 2018 para 77,6% em 2020. Ele disse em maio que o dado de 2022 deve estar perto de 71%.

US$ 1 bilhão por usar o WhatsApp

Grandes bancos americanos devem pagar até US$ 1 bilhão em multas para a SEC (CVM americana) por seus funcionários terem usado WhatsApp para trocar mensagens de trabalho com clientes.

Entenda: o órgão que funciona como um xerife do mercado americano obriga as instituições a manterem registros das comunicações de seus funcionários, caso haja a necessidade de investigações das conversas.

  • Aplicativos como o WhatsApp e alguns provedores de email, por serem criptografados, inviabilizam o acesso da SEC às conversas, e portanto são proibidos.

A investigação começou no ano passado e já rendeu multa de US$ 200 milhões para o JPMorgan, que admitiu que a conduta violou leis de valores mobiliários.

Outras instituições como Bank of America, Morgan Stanley, Citi, Barclays, Goldman Sachs, Credit Suisse, Deutsche Bank e UBS admitiram que estão sendo investigados por causa de suas comunicações, e alguns até já reservaram o valor das multas.


Crise no Ipea

Um estudo assinado pelo atual presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Erik Alencar de Figueiredo, contesta pesquisas recentes que apontam o aumento no número de brasileiros em situação de insegurança alimentar ou com fome.

O que ele diz: Figueiredo cita a estabilidade nos dados de internações por doenças decorrentes da fome e da desnutrição e no número de nascimentos de crianças com baixo peso.

  • Segundo ele, o aumento da fome deveria ter resultado em um "choque expressivo" nesses indicadores, de acordo com a literatura especializada.
  • Internamente, o material não foi discutido e nem recebeu parecer de outros pesquisadores, diferentemente do que costuma ser feito. Especialistas de outras instituições questionaram as conclusões

As críticas: a pesquisadora Patricia Jaime, do departamento de nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), diz que a premissa do presidente do Ipea para contrapor a piora na situação da fome é questionável.

  • Ela afirma que não dar entrada num hospital não quer dizer que a pessoa não passou fome, e que o impacto da insegurança alimentar na saúde das pessoas demora um tempo para aparecer.

Insegurança alimentar: é caracterizada quando a pessoa não tem plano acesso a alimentos em quantidade e qualidade adequados, e é classificada como moderada ou grave.

No Brasil, cerca de 3 em cada 10 habitantes (61,3 milhões) convivem com algum tipo de insegurança alimentar, segundo a ONU, que coloca o país no quinto lugar do mundo nesse ranking perverso. O levantamento é do período de 2019 a 2021.


Só agro vê renda subir

Em um período de dez anos, a renda média do trabalho no Brasil só cresceu para o agro entre os setores produtivos nacionais. O levantamento é da Pnad Contínua, do IBGE, e compreende o segundo trimestre de 2013 ao mesmo período de 2022.

Em números: o rendimento médio real da população ocupada (considera o mercado formal e o informal) foi estimado em R$ 1.690 na atividade de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura de abril a junho deste ano.

  • É uma alta de 12,7% em relação aos R$ 1.500 de 2013, já considerando a correção pela inflação.
  • As outras dez atividades analisadas na Pnad mostraram relativa estabilidade ou queda na renda na mesma comparação. A maior baixa foi registrada por alojamento e alimentação (-14%).

O que explica: a alta na renda dos trabalhadores do agro acompanha a valorização das commodities agrícolas na pandemia e a evolução da produtividade no setor com o avanço da tecnologia no campo.

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