Carros elétricos ganham e perdem com pacote de Biden

Montadoras poderão precisar de vários anos para atender às novas regras

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Jack Ewing
Nova York | The New York Times

O pacote de leis sobre clima e energia que foi aprovado no Congresso dos Estados Unidos nesta sexta-feira (12) visa dois objetivos que nem sempre são compatíveis: tornar os veículos elétricos mais acessíveis e ao mesmo tempo excluir a China da cadeia de suprimentos.

Representantes da indústria automobilística têm reclamado que os créditos fiscais propostos de US$ 7.500 para compradores de veículos elétricos vêm com tantas condições que poucos carros se qualificarão. Os compradores não podem ter rendas muito altas, os veículos não podem custar muito e os carros e suas baterias precisam atender a requisitos de fabricação nos EUA que muitas montadoras não podem alcançar com facilidade.

"Será muito mais difícil para os carros e os consumidores se qualificarem para um crédito fiscal federal para comprar um VE", disse John Bozzella, presidente da Aliança para Inovação Automotiva, que representa grandes montadoras americanas e estrangeiras.

Novos créditos favorecem empresas como Tesla e General Motors, que vendem carros elétricos há anos e reorganizaram suas cadeias de suprimentos para produzir veículos nos Estados Unidos - Kelsey McClellan/The New York Times

Algumas empresas se beneficiarão mais que outras com a legislação abrangente conhecida como Lei de Redução da Inflação.

Os novos créditos favorecem empresas como Tesla e General Motors, que vendem carros elétricos há anos e reorganizaram suas cadeias de suprimentos para produzir veículos nos Estados Unidos. Uma joint venture entre a GM e a LG Energy Solution abrirá em breve uma fábrica de baterias em Ohio, como parte de uma onda de investimentos em veículos elétricos por montadoras e fornecedores.

Os veículos vendidos pela Tesla e a GM vão recuperar o direito a incentivos que as montadoras perderam porque venderam além de sua cota de 200 mil carros elétricos, segundo a lei atual. A nova legislação elimina esse limite.

A legislação pode ser mais espinhosa para empresas como Toyota e Stellantis, donas da Chrysler, Jeep e Ram, porque elas ainda não começaram a fabricar ou vender grande número de veículos movidos a bateria nos Estados Unidos.

A legislação efetivamente penaliza novas empresas de carros elétricos, como Lucid e Rivian, cujos veículos podem ser muito caros para se qualificarem para os créditos. Os incentivos se aplicam a sedãs que não custem mais de US$ 55 mil (R$ 283 mil) e picapes, vans ou SUVs que custem até US$ 80 mil (R$ 412 mil).

O sedã mais barato da Lucid custa mais de US$ 80 mil. As picapes elétricas da Rivian começam em US$ 72,5 mil, mas podem chegar facilmente a US$ 80 mil com opções. A empresa disse que está explorando se os clientes podem garantir os incentivos fazendo um acordo de compra vinculativo antes que a nova lei entre em vigor.

Mesmo as montadoras que poderiam perder o acesso a créditos fiscais podem se beneficiar da lei de outras maneiras. O projeto inclui bilhões de dólares para ajudar as montadoras a construir fábricas e estabelecer cadeias de suprimentos locais. Os revendedores lucrarão com uma provisão que concede US$ 4.000 em créditos para veículos elétricos usados, com poucas restrições.

"Temos que olhar para esta lei em sua totalidade", disse Margo Oge, ex-diretora do Escritório de Transporte e Qualidade do Ar da Agência de Proteção Ambiental. "É perfeita? Não. Ela vai criar empregos e será boa para o clima."

Assim que as montadoras fizerem as alterações nas cadeias de suprimentos exigidas pela lei, poderão oferecer aos clientes incentivos generosos pelo resto da década e mais algumas. Pode levar alguns anos, mas com o tempo a legislação ajudará a tornar os carros elétricos mais baratos do que os veículos a gasolina e diesel, segundo analistas.

"O crédito fiscal ao consumidor certamente não foi escrito da maneira que eu escreveria", disse a senadora democrata Debbie Stabenow, a repórteres nesta semana, referindo-se ao incentivo de US$ 7.500. Mas, com o fim de aprovar o projeto, ela disse que atendeu aos desejos do senador democrata Joe Manchin. Manchin disse que faz pouco sentido subsidiar veículos elétricos porque a demanda é tão grande que há longas listas de espera por muitos modelos.

Ainda assim, Stabenow acrescentou: "Há muitas coisas maravilhosas aqui para nós".

Uma característica do projeto de lei que gerou mais reclamações exigiria que até 2024 pelo menos 50% dos componentes de uma bateria de carro elétrico viessem dos Estados Unidos, Canadá ou México. A porcentagem sobe para 100% em 2028. E a participação dos minerais em baterias que precisam vir dos Estados Unidos ou de um aliado comercial subirá para 80% em 2026.

Alguns executivos do setor disseram que as montadoras levariam cinco anos para reformular suas cadeias de suprimentos o suficiente para que seus produtos se qualificassem para créditos fiscais.
Outros dizem que é exagero. "Eu ficaria chocado se esse fosse o caso", disse Joe Britton, diretor executivo da Zero Emission Transportation Association, cujos membros incluem a Tesla e fornecedores de baterias e matérias-primas.

Embora a organização preferisse menos restrições, disse Britton, "ainda vemos isso como um grande acelerador da eletrificação do transporte, especialmente em comparação com onde estávamos há um mês".

Algumas das restrições de elegibilidade para crédito fiscal talvez não sejam tão rigorosas quanto parecem e podem ser interpretadas. Por exemplo, disse Stabenow, parecia que o crédito de US$ 7.500 seria válido para todos os fabricantes até o próximo ano, antes que as restrições de conteúdo entrassem em ação.

Com o tempo, os limites de renda incentivarão as montadoras a oferecer veículos mais baratos, disse Mark Wakefield, um dos líderes da seção automotiva e industrial da consultoria AlixPartners. "Você verá um foco de laser para ficar abaixo dos limites de US$ 80 mil e US$ 55 mil", disse ele.

Os limites de preços e as regras criadas nos Estados Unidos também incentivarão as montadoras a desenvolver baterias mais baratas, que exigem menos matérias-primas importadas. A Tesla e outras montadoras já estão vendendo carros com baterias à base de ferro e fosfato, conhecidas como LFP, em vez das que contêm níquel e cobalto, que são caras e vêm de países com históricos de direitos humanos e ambientais discutíveis. As baterias de fosfato de ferro são mais pesadas, mas geralmente menos caras e mais duradouras. A Lei de Redução da Inflação "vai aumentar o crescimento da LFP", disse Wakefield.

A legislação contém outras disposições que receberam menos atenção, mas podem acelerar as vendas de veículos elétricos e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Há dinheiro para ajudar as empresas a instalar carregadores de veículos elétricos, por exemplo. Isso é importante para pessoas que não têm garagens ou calçadas onde possam instalar seus próprios carregadores.

Há também créditos fiscais de até US$ 40 mil para caminhões e ônibus elétricos ou a hidrogênio. Os veículos comerciais representam uma porcentagem desproporcional de gases de efeito estufa e poluentes nocivos do setor de transporte, porque passam muito mais tempo em circulação do que os carros de passeio.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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