Propostas a candidatos unem grupos liberais e social-democratas

Temas como distribuição de renda e ambiente ganham espaço em agendas

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São Paulo

Políticas de distribuição de renda, defesa do ambiente e de grupos minoritários estão entre os pontos comuns de propostas apresentadas aos candidatos à Presidência da República por grupos identificados com liberais e social-democratas. Ou melhor, apresentadas a quase todos os presidenciáveis.

Entre as entidades que já divulgaram documentos e estão em contato com as campanhas estão o Livres, o Derrubando Muros e o chamado "Grupo dos 6".

Os dois últimos têm mantido diálogo com as campanhas de Lula (PT), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB). Já o contato com a equipe de Jair Bolsonaro (PL) foi descartado, diante da avaliação de que o atual presidente tem propostas e ações que não se encaixam nos pilares de respeito à democracia e à responsabilidade fiscal defendidos por essas organizações.

Foto oficial dos presidenciáveis para a urna eletrônica - Divulgação

Na pauta dos três grupos estão, por exemplo, temas herdados de 2018, como reformas tributária e administrativa. Livres e "Grupo dos 6" também trazem em seus documentos um Programa de proteção da Amazônia e pontos da chamada Lei de Responsabilidade Social, que reúne um novo benefício social e a Poupança Seguro Família.

Outro tema que ganhou destaque nos documentos é a defesa da democracia, diante dos ataques feitos pelo atual presidente da República ao sistema eleitoral.

O Livres, que surgiu dentro do PSL em 2016, mas deixou o partido quando Bolsonaro se filiou à legenda em 2018, afirma que sobreviver ao atual governo foi um desafio para um grupo que segue os princípios liberais, pauta que o presidente teria supostamente abraçado para se eleger.


Quem são dos grupos

Livres
Atua como um movimento político suprapartidário em defesa do liberalismo. Publicou o documento "Caderno de Políticas Públicas 2022"

Students For Liberty Brasil
Rede de estudantes que se denomina a maior organização de libertários do mundo, a favor da promoção da liberdade em todos os aspectos da vida

Derrubando Muros
Criado em 2019 como um grupo de defesa da democracia. De oito membros iniciais, chegou a mais de 100 pessoas com perfis diversos, entre ativistas, cientistas, comunicadores, acadêmicos, empresários e políticos. Publicou o documento "Uma Agenda Inadiável"

"Grupo dos 6"
O documento "Contribuições para um governo democrático e progressista" foi entregue a alguns candidatos pelos economistas Bernard Appy, Francisco Gaetani, Marcelo Medeiros e Pérsio Arida, pelo professor Carlos Ari Sundfeld (FGV Direito SP) e pelo cientista político Sérgio Fausto.


Magno Karl, presidente da instituição, diz que os princípios do grupo continuam os mesmos da época, mas que o caderno de propostas incorporou questões que entraram no debate público nos últimos quatro anos, como a ampliação do Bolsa Família (atual Auxílio Brasil).

Ele afirma que o grupo vê mais afinidade de ideias com candidatos de terceira via, como Simone Tebet e Luiz Felipe d’Avila (Novo), e reconhece que elas estão mais distantes dos programas dos líderes nas pesquisas eleitorais.

"As propostas econômicas do Lula remetem ao PT dos anos 1990, uma receita de retrocesso que ignora até o que foram os governos do PT. Nas de Bolsonaro, falta compromisso com a manutenção da estabilidade econômica do Brasil para o futuro", afirma.

Mais identificado com o centro econômico e político, o Derrubando Muros apresentou uma agenda com 11 prioridades, temas que não são convencionais e que não foram sequer mencionados na campanha de 2018, segundo José Cesar "Zeca" Martins, sociólogo e investidor que coordena o grupo. Seis deles relacionados ao futuro da economia, como o conceito de "figital".

"A ideia é ter um programa de equidade, de inclusão social, de diminuição das desigualdades radical e, ao mesmo tempo, alinhar o Brasil com desafios de crescimento como o mundo propõe hoje. Não importa se esse candidato é de esquerda ou de centro", afirma Martins.

O documento já foi apresentado para a candidata Simone Tebet, e o grupo tenta agendar encontros com Ciro e Lula. "A gente só não vai falar com Bolsonaro, porque aí já está abaixo da linha limite de democracia que a gente considera."

O atual presidente também não recebeu, pelo menos não pelas mãos dos responsáveis, o documento elaborado por um grupo de seis especialistas em diversas áreas. Um deles, o economista Bernard Appy, afirma que o documento elaborado com outros cinco colegas foi entregue a representantes das campanhas de Ciro, Tebet e d’Avila.

Segundo ele, a ideia era apresentar sugestões a serem eventualmente aproveitadas. Ele e outros membros do grupo têm, individualmente, conversado com pessoas vinculadas às campanhas, em geral sobre questões mais focalizadas e não sobre o documento como um todo.

O grupo, assim como o Livres, propõe transformar em lei complementar todos os detalhamentos presentes na Constituição, preservando na Carta apenas princípios fundamentais, com o objetivo de facilitar a governabilidade e acelerar reformas.

Além de mirar nas campanhas presidenciais, alguns desses grupos atuam também junto a candidatos ao Legislativo e aos governos estaduais.

O Livres tem cerca de 60 associados concorrendo nestas eleições. O grupo Students For Liberty Brasil tem 12 ex-alunos e ex-colaboradores entre os candidatos —pessoas que se desligaram, pois a natureza jurídica do grupo impede a atuação política de associados.

Nycollas Liberato, diretor-executivo da entidade, afirma que uma das mudanças ocorridas no grupo liberal nos últimos quatro anos foi a percepção de que seria positiva uma participação maior no mundo político.

Ele afirma também que foi necessário adotar "um distanciamento considerável" em relação ao governo Bolsonaro, que está longe de ser um liberal.

"Antes a gente tinha uma aversão dos nossos voluntários à política, na média. Agora, eles conseguem reconhecer a importância da política também para travar o aumento do Estado brasileiro."


Propostas em comum

  • Novo benefício social (Livres e Grupo dos 6)
  • Ampla revisão constitucional (Livres e Grupo dos 6)
  • Corte de privilégios do setor público (Livres e Grupo dos 6)
  • Reforma tributária (Derrubando Muros, Livres e Grupo dos 6)
  • Programa para Amazônia (Derrubando Muros, Livres e Grupo dos 6)
  • Defesa de terras indígenas (Derrubando Muros e Livres)

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