Esta é a edição da newsletter FolhaMercado desta quarta-feira (14). Quer recebê-la de segunda a sexta, às 7h, no seu email? Inscreva-se abaixo:
Crise argentina chega ao alfajor
Comprar um carro zero-quilômetro, um computador ou celular de marcas gabaritadas e até encomendar alfajores. Tudo isso na Argentina ficou mais difícil de fazer –pra não falar do preço– com a restrição do governo às importações.
Entenda: o país colocou um limite para o que as empresas podem comprar de fora, para tentar aliviar a cotação local do câmbio. O objetivo é evitar uma demanda maior pelo dólar.
- As importações para a Argentina são feitas no câmbio oficial (145 pesos), em que as empresas possuem cotas de importação com base em compras feitas em anos anteriores.
- Com esse mecanismo e o aumento dos preços internacionais dos produtos, os importadores têm que reduzir seus volumes de compra.
- Outro problema é que a cotação mais adotada pelos argentinos é a paralela, o "blue" (295 pesos), o que acaba deixando tudo mais caro.
É por isso que não apenas itens luxuosos importados, como salmão, uísque e computadores caros, estão em falta no mercado. Um produtor de alfajor teve de atrasar a produção porque não tinha os papéis de embrulho e o material para enviá-los a outros locais.
- Até o estoque de café nas confiterias argentinas está em risco, já que trata-se de uma commodity (cotada em dólar) com preços elevados no mercado externo.
Argentina em crise: com uma moeda sem confiança da própria população e uma dívida que não para de crescer, a inflação argentina está projetada em 90% para este ano.
- É o maior desafio para Sergio Massa, o "superministro" da economia, que logo quando assumiu, no mês passado, suspendeu a emissão de papel-moeda.
- Na última semana, ele assegurou mais US$ 900 milhões em crédito do Banco Mundial e também foi elogiado por Kristalina Georgieva, chefe do FMI, organismo ao qual o país deve US$ 44 bilhões.
Twitter aprova venda para Musk, mas...
Conforme esperado, os acionistas do Twitter aprovaram nesta terça (13) a compra da rede social pelo bilionário Elon Musk por US$ 44 bilhões (R$ 227, 8 bilhões), ou US$54,20 por ação.
Após a notícia, os papéis da companhia fecharam em leve alta de 0,80%, a US$ 41,74, na contramão de um dia bem ruim no mercado. O principal entrave para o negócio será resolvido na Justiça, em um julgamento marcado para o mês que vem.
Entenda: há cerca de dois meses, o empresário abandonou o acordo com a justificativa de que o Twitter não cumpriu com sua parte do negócio ao fornecer informações "falsas e enganosas".
- A maior crítica é acerca do percentual de contas falsas da rede. Ele afirma ser bem maior que os 5% relatados pela plataforma.
- O Twitter chamou a tentativa de desistir do acordo de "inválida e injusta" e afirma que o empresário voltou atrás porque a maré do mercado benéfica às empresas de tecnologia virou.
E agora? As bancas de advogados dos dois lados se preparam para um julgamento rumoroso.
- Existe uma cláusula de US$ 1 bilhão que Musk teria de pagar caso não conseguisse o financiamento para a compra, alternativa a que a equipe do bilionário avalia recorrer, culpando os bancos.
- Outras possíveis soluções são um acordo para o dono da Tesla acertar a compra por um valor abaixo da oferta inicial ou um acerto para o pagamento de multa para enterrar o assunto de vez.
- Na pior das hipóteses para Musk, ele pode ser obrigado a honrar seu compromisso e comprar o Twitter a um preço que se tornou exorbitante.
Enquanto isso…Peiter Zatko, ex-chefe de segurança do Twitter, prestou depoimento nesta terça ao Senado americano e reiterou suas acusações de que a plataforma não prioriza a segurança dos dados dos usuários.
- Hoje considerado um membro importante para a defesa de Musk, ele foi demitido em janeiro do Twitter e afirmou em documento encaminhado às autoridades que a rede mente acerca do número de contas falsas.
- A rede social diz que Zatko foi demitido por liderança ineficaz e mau desempenho e que suas alegações pareciam destinadas a prejudicá-la.
Bolsas despencam com inflação americana
A inflação americana de agosto surpreendeu o mercado e derrubou as Bolsas mundo afora. Nos EUA, S&P 500 (-4,33%), Nasdaq (-5,16%) e Dow Jones (-3,94%) tiveram o pior dia desde junho de 2020.
Em números: o CPI (preços ao consumidor) subiu 0,1% em agosto, contra estimativa de deflação (queda de preços) de 0,1% de analistas do mercado. No acumulado em 12 meses, o índice atingiu 8,3%, desaceleração frente aos 8,5% de julho.
- O núcleo da inflação, que exclui itens voláteis como alimentos e energia e é o indicador mais acompanhado pelo Fed (banco central americano), também surpreendeu.
- Ele subiu 0,6% no mês, com destaque para a alta de preços relacionados à moradia, o que indica uma resistência inflacionária.
Por que a inflação derrubou as Bolsas: o dado reforçou o sinal aos mercados de que o Fed seguirá subindo a taxa de juros em ritmo acelerado. Para a próxima reunião, na semana que vem, a expectativa é de nova alta de 0,75 ponto, mas há gente prevendo avanço de 1 ponto.
- Mais juros valorizam os títulos americanos, considerados como porto seguro para os investimentos, e diminuem a vantagem das ações, mais arriscadas. As empresas de tecnologia, que precisam de crédito para crescer, são mais penalizadas.
- As ações da Meta, dona do Facebook, despencaram 9,37%. A Netflix perdeu 7,78%. Apple, a maior companhia americana, caiu 5,87%.
Mais números: o dólar se valorizou globalmente, e no Brasil saltou 1,80%, cotado a R$ 5,189. Por aqui, o Ibovespa sentiu o baque e recuou 2,30%, aos 110.793 pontos.
Ecommerce desacelera
Depois do boom gerado pela pandemia, o comércio eletrônico segue vendo alta no faturamento no Brasil, mas a um ritmo cada vez mais lento.
Em números: as vendas online no país chegaram a R$ 118,6 bilhões no primeiro semestre, alta de 6% em relação ao mesmo período do ano passado, em valores nominais. Em 2021, o crescimento havia sido de 47% nessa comparação.
Os dados são da consultoria NielsenIQ|Ebit, em parceria com a corretora de pagamentos Bexs Pay e não consideram compras em endereços tidos como estrangeiros (cross border): Shopee, Alibaba, Amazon EUA, entre outros.
- Ao todo, 49,8 milhões de brasileiros fizeram compras online no primeiro semestre do ano, um aumento de 18% na comparação anual. O tíquete médio, porém, caiu 8%, para R$ 412.
- A explicação para isso pode estar no crescimento de pedidos de alimentos e bebidas no ecommerce, que respondeu por 12% das encomendas online, enquanto a de eletrônicos caiu (-6%).
Um outro levantamento, da Dunnhumby, mostrou que o brasileiro tem comprado mais alimentos e produtos para a casa nos canais digitais, mas o grosso do gasto no mês com esses produtos tem sido feito de modo presencial, nos supermercados.
Shopee lidera entre gringos: ao considerar apenas os sites cross border, a NielsenIQ|Ebit apontou que 54% dos brasileiros fizeram compras nesses endereços no primeiro semestre, um recuo em relação aos 68% do mesmo período de 2021.
- Nesse recorte, o site mais buscado é o da Shopee, com 42% das indicações dos entrevistados. Na sequência, estão Aliexpress (34%), Amazon EUA (31%), Shein (16%) e Wish (7%).
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.