EUA, Austrália e países europeus procuram trabalhadores

Alemanha quer flexibilizar concessão de vistos para suprir demanda por mão de obra qualificada

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Paris | AFP

Encanadores na Alemanha, carteiros nos Estados Unidos, engenheiros na Austrália, enfermeiros no Canadá ou pedreiros na França: em todo o mundo a demanda por mão de obra está aumentando, mas as empresas não conseguem preencher as vagas em sua força de trabalho.

O diretor-executivo da empresa alemã de software Currentsystem23, Michael Blume, confessa à AFP que tem muita dificuldade em encontrar funcionários.

"Para onde quer que se olhe, falta mão de obra qualificada", diz o empresário, que aponta para os problemas de formação na Alemanha, onde em agosto ficaram vagos 887 mil postos de trabalho, tanto na área social como na construção civil e informática.

Cartaz com oferta de emprego do lado de fora de restaurante em Arlington, Virgínia - Olivier Douliery - 3.jun.2022/AFP

Os números nos Estados Unidos são ainda mais vertiginosos em um país onde placas anunciam "Estamos Contratando!" na frente de restaurantes ou pontos de ônibus. Mais de 11 milhões de cargos estavam vagos ao final de julho.

"As empresas continuam dizendo que é muito difícil contratar desde a pandemia", diz Ariane Curtis, economista da Capital Economics em Toronto.

Ela aponta sérias dificuldades entre os países desenvolvidos, assim como no Leste Europeu, Turquia e América Latina.

As tensões aumentaram significativamente no final de 2021 nos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Canadá em comparação com o período pré-pandemia, de acordo com um relatório da OCDE de julho.

Educação, saúde e turismo

Numa altura em que a economia mundial desacelera devido à Guerra da Ucrânia, a escassez de trabalhadores é ainda mais preocupante porque afeta setores tão variados como o de professores no Texas, hotéis na Itália ou saúde no Canadá.

Também desestabiliza o funcionamento de muitas empresas: farmácias em Wisconsin têm que fechar em determinados momentos devido à falta de farmacêuticos, unidades hospitalares canadenses em Alberta devido à falta de médicos e restaurantes na "Sunshine Coast" australiana, perto de Brisbane, por falta de garçons.

"Antes, o mais difícil era encontrar empresas clientes. Agora, encontrar candidatos", testemunha Clément Verrier, codiretor de uma empresa de recrutamento parisiense especializada em altos executivos.

O setor "se depara com um número sem precedentes de candidatos que desaparecem no meio do processo seletivo, sem sequer ligar de volta", acrescenta.

A escassez de trabalhadores piorou repentinamente com a Covid-19, em países com uma população em rápido envelhecimento.

As fontes são múltiplas: aposentadorias precoces, Covid prolongada, salários muito baixos, condições de trabalho muito difíceis, reorientações profissionais em nome da busca de sentido, queda drástica da imigração por causa dos confinamentos, saída das grandes cidades.

Nunca na história moderna um evento afetou tanto a própria noção de trabalho.

"A pandemia causou uma mudança fundamental na mentalidade e nas prioridades dos trabalhadores", diz Bonnie Dowling, sócia da consultoria McKinsey, que realizou um estudo sobre ondas de demissões em várias regiões do mundo.

No entanto, por enquanto, "os patrões não estão indo na mesma velocidade que essas mudanças".

Imaginação

As empresas tentam medidas para atrair ou reter funcionários, a começar pelos aumentos salariais, que variam de um setor para outro.

O teletrabalho está se tornando um pré-requisito em muitas profissões, que também viram surgir iniciativas como licenças bônus ou por uma causa pessoal.

"É preciso usar muita imaginação" para seduzir os candidatos, diz o recrutador parisiense Clément Verrier.

A imigração também é uma alternativa para um número crescente de países como Austrália ou Espanha, que relaxaram suas regras para regularizar imigrante.

A Alemanha planeja flexibilizar as condições de concessão de vistos e até de naturalizações.

"Para muitas empresas, a busca por mão de obra qualificada é uma questão existencial", disse o ministro do Trabalho alemão, Hubertus Heil.

"A grande questão é se o que temos visto há meses vai acabar ou não", questiona Mike Smith, especialista em recrutamento internacional da Randstad Sourceright, na Holanda.

"Não achamos que seja uma mudança transitória", aponta. "É uma mudança estrutural na forma como os funcionários abordam o trabalho" e isso exigirá que empresas e Estados se adaptem à nova situação.

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