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Eleições 2022 desafios do novo mandato

Lula precisa ter plano para compensar aumento de gasto que prometeu

Mais do que economia mundial, mudança para fazer economia funcionar melhor será decisiva

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Vinicius Torres Freire

Colunista da Folha

No final da campanha e no discurso da vitória, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu ênfase ao aspecto agradável do seu plano de governo. Isto é, a intenção de melhorar as condições de vida, dos mais pobres em particular, por meio de aumento de gasto do governo.

Não deu pista de como pretende ajudar a economia a funcionar melhor de modo a pagar a conta desse plano e também empregar mais gente com salário melhor.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião em São Paulo com o presidente da Argentina, Alberto Fernandez - Carl de Souza/AFP

Mais do que a situação da economia mundial, essa é a incerteza líder e esse o problema maior de Lula 3, pelo menos por ora. Uma recessão grave no mundo, ainda pior se a China crescer muito pouco, complicaria a tarefa do novo governo, claro.

A esta altura, as previsões para o ano seguinte costumam estar muito erradas. Isto posto, estima-se que a inflação (IPCA) baixaria dos 5,61% previstos para 2022 para 4,94% em 2023. O PIB cresceria em torno de 2,7% neste ano e apenas 0,6% no ano que vem -estagnação, na prática.

A economia deve desacelerar porque a taxa de juros (elevada para o controle da inflação) tende a fazer seu pleno efeito em 2023. Basta notar como ficou mais caro financiar casa ou carro ou levantar capital para ampliação de negócios.

O efeito do estímulo econômico do gasto extra do governo federal e de investimentos de estados e municípios) vai diminuir ou cessar. Não deve haver aumento do preço das mercadorias que o Brasil exporta mais (ferro, grãos, carnes e até petróleo), commodities, alta que costuma estimular o crescimento por aqui.

A inflação tende a cair porque o governo bancou a conta da redução dos preços de energia e serviços e por causa da desaceleração econômica (aumento de desemprego). Espera-se que a taxa de câmbio (o "preço do dólar") permaneça mais ou menos no nível atual.

Problemas podem começar por aí. Com a alta de juros nos EUA e recessão de fato na Europa, o dólar pode se fortalecer. Em geral, a moeda brasileira acompanha esse movimento, mas para baixo (mais desvalorização). Um dólar mais caro é empecilho para a queda da inflação.

Pode não ser assim, se houver políticas que animem os credores do governo e empresas em geral. Que políticas? Aquelas que contrabalancem o grande aumento de gasto público prometido por Lula.

Quanto mais comedido o aumento de gastos, menor o risco de que o real se desvalorize e de que a taxa de juros do Brasil suba (por perspectiva de inflação mais alta ou outras desconfianças). Quanto maior o pacote de contrapartidas, menor o risco.

A primeira contrapartida seria um plano confiável de controle do déficit e, pois, do aumento da dívida pública. Lula terá de apresentar um plano qualquer de "teto", um limitador do aumento da dívida e de sua estabilização (até 2026, no mínimo). Além de um "teto Lula", para tanto contribuiria um plano de gastos com servidores (a chamada reforma administrativa).

A segunda contrapartida seria um plano que melhore o funcionamento da economia. Por exemplo, a facilitação de investimento privado e a quase mitológica reforma tributária. Mais do que simplificar o pagamento de impostos, o objetivo dessa reforma é acabar com distorções econômicas. Atualmente, muito investimento em expansão de negócios é realizado porque o imposto sobre tal ou qual setor é menor, não porque seja mais eficiente. Menos eficiência significa mais pobreza.

Mas Lula apresentou apenas o lado A de seu plano. Isto é, mais gasto com o Novo Bolsa Família, aumento do salário mínimo (que aumenta o gasto com benefícios sociais, como os do INSS), reajuste de servidores, menos receita com Imposto de Renda. Na "Carta para o Brasil de Amanhã", divulgada pouco antes do segundo turno, há muito mais despesa prometida.

O aumento de gastos em 2023 será, em parte, inevitável, por motivos políticos e sociais. Quanto menos comedido for e quanto menos contrapartida houver, maiores tendem a ser a inflação, a desvalorização do real ("alta do dólar") e as taxas de juros no mercado, talvez até do Banco Central. Isto significa menos crescimento do PIB, qualquer que seja o andamento da economia mundial.

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