Novo ministro das Finanças do Reino Unido fala em decisões difíceis

Hunt disse que alguns impostos não serão cortados tão rápido quanto as pessoas gostariam e outros vão subir

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Londres | AFP

O novo ministro das Finanças britânico, Jeremy Hunt, anunciou neste sábado (15) que "decisões difíceis" terão de ser tomadas para retificar o plano econômico do governo.

"Um ministro das Finanças não pode controlar os mercados, mas o que posso fazer é mostrar que podemos financiar nossos projetos com impostos e gastos e isso levará a decisões muito difíceis", disse Hunt à Sky News, um dia após a posse.

O novo ministro das Finanças britânico, Jeremy Hunt, em entrevista um dia após a posse - Henry Nicholls/REUTERS

A primeira-ministra conservadora Liz Truss nomeou Hunt na sexta-feira (14) para substituir Kwasi Kwarteng, demitido em meio à crise econômica e financeira.

Hunt é ex-ministro das Relações Exteriores e da Saúde e próximo de Rishi Sunak —adversário de Truss na campanha de acesso a Downing Street. Ele deve assumir o orçamento anunciado em 23 de setembro por seu antecessor e muito mal recebido pelos mercados e por uma boa parte do Partido Conservador e da população.

O novo ministro admitiu que foram cometidos "erros" neste orçamento, que prevê importantes ajudas públicas e cortes de impostos, mas nada que o financie.

"A primeira-ministra reconheceu [esses erros], é por isso que estou aqui", disse ele, acrescentando que concorda com a base de seu plano econômico.

"Quero ser honesto com as pessoas: temos que tomar decisões difíceis, as últimas semanas foram muito difíceis", insistiu, em suas primeiras declarações públicas como ministro das Finanças.

Hunt anunciou que "alguns impostos não serão cortados tão rápido quanto as pessoas gostariam. Alguns vão subir".

"O que as pessoas querem, o que os mercados querem, o que o país precisa agora, é estabilidade", disse Hunt. "Nenhum chanceler pode controlar os mercados. Mas o que eu posso fazer é mostrar que podemos pagar por nossos planos de impostos e gastos, e isso vai precisar de algumas decisões muito difíceis tanto sobre gastos quanto sobre impostos."

Truss venceu a disputa para substituir Boris Johnson com uma plataforma de grandes cortes de impostos para estimular o crescimento, o que Kwarteng anunciou devidamente no mês passado. Mas a ausência de quaisquer detalhes de como os cortes seriam financiados levou os mercados ao colapso.

A líder conservadora, no poder por pouco mais de um mês, teve de recuar e concordar em aumentar o imposto corporativo, medida do governo anterior que ela estava determinada a abolir.

Há duas semanas, uma de suas medidas mais polêmicas foi a retirada da alíquota máxima, 45%, para renda acima de 150 mil libras (US$ 170 mil) por ano.

Hunt deverá anunciar os planos orçamentários do governo a médio prazo em 31 de outubro, no que será um teste fundamental de sua capacidade de mostrar que pode restaurar a credibilidade da política econômica. Ele disse que outras mudanças nos planos da Truss eram possíveis.

'Encontro de mentes'

Uma de suas primeiras ações como novo ministro foi se reunir com Andrew Bailey, presidente do Banco da Inglaterra, que teve que agir com urgência para acalmar os mercados após a apresentação do plano econômico.

Bailey, disse que houve um "encontro imediato de mentes" quando falou com Hunt sobre a necessidade de consertar as finanças públicas depois que os planos de redução de impostos do antecessor do ministro desencadearam turbulência no mercado.

"Posso dizer que houve um encontro de mentes muito claro e imediato entre nós sobre a importância da sustentabilidade fiscal e a importância de adotar medidas para fazer isso", disse Bailey.

"Claro que ontem foi tomada uma medida importante", disse ele em um evento onde também indicou um grande aumento da taxa de juros pelo banco central britânico no próximo mês.

Corda no pescoço

A mudança de rumo pode não ser suficiente para a primeira-ministra Liz Truss salvar seu posto.

"Truss luta por sua sobrevivência", disse a principal manchete do The Times neste sábado, ao afirmar que "mesmo em Downing Street, altos funcionários acham que é apenas uma questão de tempo até que ela seja forçada a sair".

"Truss se agarra ao poder", publicou o Daily Telegraph em sua primeira página. Segundo o jornal conservador, parlamentares continuam conspirando para que ela deixe a liderança do Executivo o mais rápido possível.

Para a imprensa britânica, Hunt agora aparece como homem-forte do governo, enquanto Truss está consideravelmente enfraquecida por suas mudanças de posição. Tampouco foi convincente em sua coletiva de imprensa mais recente.

Para o Financial Times, Truss sacrificou Kwarteng "em uma tentativa de salvar" sua cabeça em Downing Street, mas "a única coisa que une o partido (conservador) é a falta de confiança em Truss".

Na sexta-feira, a primeira-ministra evitou perguntas sobre seu destino pessoal, insistindo que continuava "absolutamente determinada" a implementar sua política de apoio ao crescimento.

"Me sinto totalmente enganado", estimou o deputado conservador Christopher Chope à BBC, afirmando que a líder parecia "em total oposição a tudo o que apoiou em sua eleição".

(com Reuters)

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