BID deve agir para mudar trabalhos domésticos, diz candidata argentina

Cecilia Todesca, única mulher na disputa, defende que eleito 'deixe o passaporte na gaveta'

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Buenos Aires

Única mulher na disputa pela presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), a argentina Cecilia Todesca, 51, considera que levar uma candidatura feminista à entidade significa buscar alternativas para combater as desigualdades. E que o candidato eleito deve agir de modo imparcial, sem querer favorecer seu país de origem.

"A principal razão da desigualdade na região hoje é o gênero, e isso se acentuou na pandemia. As mulheres regrediram 18 anos, em média, em termos de inserção na economia da região", afirmou, em conversa com telefone com a Folha.

Cecilia Todesca, candidata à presidência do BID e secretária de Relações Econômicas Internacionais da Argentina - Martín Zabala - 4.nov.22/Xinhua

Uma de suas principais propostas é a de que o banco seja um parceiro na reestruturação do modelo atual de trabalho doméstico. "A mulher não pode gastar o triplo de tempo que um homem na questão dos cuidados familiares, e aí o BID pode colocar o foco em fomentar uma nova economia do cuidado."

Indicada pelo presidente argentino Alberto Fernández, Todesca disputa a vaga com outros quatro nomes: o brasileiro Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central e indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, o mexicano Gerardo Esquivel, que integra a junta de diretores do Banxico (Banco Central mexicano), o chileno Nicolás Eyzaguirre, ex-ministro da Economia durante os governos de Ricardo Lagos e Michelle Bachelet, e Gerard Johnson, de Trinidad e Tobago, ex-funcionário do BID.

A votação está marcada para este domingo (20) em Washington, onde fica a sede da entidade. O escolhido substituirá o norte-americano Mauricio Claver-Carone, demitido após uma denúncia de ter se envolvido com uma subordinada.

Todesca é a atual secretária de Relações Econômicas Internacionais da chancelaria argentina. Economista de formação, trabalhou no FMI (Fundo Monetário Internacional) e na agência de classificação de risco Standard & Poor's.

Sua apresentação, ao longo da semana, centrou-se em cinco eixos. Além das mudanças no que chama de economia do cuidado familiar, as outras propostas incluem o melhor aproveitamento das oportunidades abertas pela inovação, a diminuição das exclusões territoriais e digitais e a contenção dos danos trazidas pela mudança climática.

"Trata-se de um mundo que traz muita angústia no que diz respeito às mudanças no ambiente de trabalho, e das incertezas que vêm com o pós-pandemia e um cenário de guerra", afirmou.

A posição argentina, a princípio, quando se abriu a necessidade da sucessão, era a de levar um nome de consenso da região. A ideia, porém, não prosperou. "Quem sabe numa próxima. Tampouco queríamos que fosse uma mulher apenas, mas sim uma mulher que representasse muitas outras", disse Todesca.

Na lista de apoiadores da candidatura dela, estão várias associações feministas e de direitos humanos da América Latina e da Argentina, como as Mães da Praça de Maio e a associação Ni Una Menos, de defesa da mulher contra a violência doméstica.

A candidata também criticou qualquer politização do órgão. "A primeira coisa que um presidente do BID deve fazer é deixar seu passaporte na gaveta e ser capaz de conversar com todos. Não pode haver vínculos mais especiais com um país, uma bandeira ou um governo", afirmou.

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