BID pode eleger primeiro presidente brasileiro neste domingo

Ilan Goldfajn foi indicado por Paulo Guedes, mas PT trabalhou por adiamento da eleição

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Washington

A assembleia de governadores do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) se reúne neste domingo (20) para eleger o novo presidente da instituição, e há chances de que o brasileiro Ilan Goldfajn seja escolhido para assumir o cargo.

Fundado há 63 anos, o BID é considerado o maior e mais antigo organismo financeiro multilateral do mundo e financia projetos de desenvolvimento econômico, social e institucional na América Latina e no Caribe. Tem 48 países membros e sede em Washington (EUA).

Ex-presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn; economista concorre à presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) - 22.01.19 - Ueslei Marcelino/Reuters

Se eleito, Ilan Goldfajn será o primeiro brasileiro no comando da instituição. Presidente do Banco Central entre 2016 e 2019, indicado por Michel Temer (MDB), Goldfajn é hoje diretor de Hemisfério Ocidental do FMI (Fundo Monetário Internacional), cargo do qual se licenciou para disputar a eleição do BID.

Seu nome foi indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que fez um giro com autoridades do continente em Washington no mês passado, durante as reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, na tentativa de angariar apoio ao brasileiro.

Ele concorre com outros quatro candidatos: a argentina Cecilia Todesca Bocco, secretária de Relações Econômicas Internacionais da chancelaria do país; o mexicano Gerardo Esquivel, um dos diretores do Banco Central do país; o chileno Nicolás Eyzaguirre, ex-ministro da Economia; e Gerard Johnson, de Trinidad e Tobago, ex-funcionário do BID.

Os candidatos foram alvo de sabatina no último 12, e Goldfajn foi o que causou a melhor impressão entre os concorrentes. Ele enfrenta, porém, um desafio doméstico.

O PT, partido do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, trabalhou para adiar a eleição do órgão e emplacar outro nome que não o do indicado pelo presidente Jair Bolsonaro. O ex-ministro petista da Fazenda Guido Mantega chegou a enviar um email à secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, pedindo que o pleito fosse adiado por 45 a 60 dias.

A eleição, porém, não foi adiada, mas a escolha de Goldfajn ficou ameaçada, uma vez que autoridades não querem se indispor com o próximo presidente do Brasil. Na quinta, no entanto, Mantega renunciou ao seu cargo na equipe de transição do governo Lula, o que voltou a dar tração ao ex-presidente do Banco Central no BID.

Conforme mostrou reportagem da Folha, as prioridades de Goldfajn apresentadas no processo seletivo do banco se alinham às de Lula e incluem combater a fome, promover a cooperação entre países, fomentar crescimento com inclusão social, diversidade e preservação ambiental.

Na teoria, não importa a nacionalidade do presidente do órgão, porque os projetos financiados pelo BID obedecem a critérios técnicos. Na prática, porém, a presença de um brasileiro facilitaria que projetos-pilotos fossem testados no Brasil, por exemplo.

Em novembro de 2022, estavam previstos quase US$ 30 bilhões pelo BID para projetos em preparação ou implementação no Brasil. Entre eles, programas para potencializar negócios de bioeconomia na Amazônia, expansão do ensino em Florianópolis (SC), investimentos rodoviários no estado de São Paulo, pecuária sustentável no Mato Grosso, além de uma série de ações federais.

A eleição deste domingo também põe fim a um conturbado período —que envolveu participação do Brasil. O eleito vai ocupar o posto de Mauricio Claver-Carone, americano que assumiu o cargo em 2020, mas foi destituído por unanimidade em setembro, acusado de se envolver com uma subordinada.

O Brasil está envolvido na história porque no ano da eleição do americano havia forte disposição para que os países que compõem o banco elegessem um brasileiro. Uma série de nomes foram discutidos, como Marcos Troyjo (hoje no banco dos Brics); Rodrigo Xavier; Carlos da Costa (ex-BNDES) e Martha Seillier (ex-secretária do Programa de Parcerias e Investimentos), mas sem sucesso.

O Brasil desistiu de emplacar um indicado após um pedido diretamente do então presidente americano Donald Trump a Jair Bolsonaro, para que o país apoiasse Claver-Carone, então diretor de assuntos para o hemisfério ocidental no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. A conturbada gestão do americano, no entanto, chegou ao fim antes que ele completasse o mandato de cinco anos.

Em entrevista recente à Folha, Claver-Carone, desafeto de Paulo Guedes, afirmou que o país tinha feito uma má escolha ao apoiar sua destituição e que não encontraria agora apoio para eleger um nome próprio.

Atualmente, o BID tem entre seus membros 28 países das Américas, com poder de voto, 16 europeus, como Alemanha, Reino Unido e França, e 4 asiáticos (China, Japão, Israel e Coreia do Sul).

Há dois critérios para eleger o próximo presidente. O primeiro é por participação acionária dos países da região: os EUA são o país com maior poder de voto, com 30%, seguidos por Brasil e Argentina, ambos com 11,4%. O segundo critério é por maioria simples. Num suposto cenário em que EUA, Brasil e Argentina votam no mesmo candidato, um dos critérios já é alcançado —porque os três países detêm mais de 50% do controle do banco. É preciso, no entanto, que a maioria dos 28 concorde com o indicado.

Pode haver até quatro rodadas de votação, que vão eliminando um candidato por vez se os países não conseguirem chegar a um consenso logo de cara. A votação começa às 10h do horário de Brasília neste domingo.

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