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Commodities são destaque na Bolsa no 3º trimestre, enquanto varejo sofre com alta dos juros

Lucro das empresas ficou praticamente estável no período

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São Paulo

As empresas listadas na Bolsa de Valores brasileira registraram um lucro líquido conjunto de R$ 137,1 bilhões no terceiro trimestre de 2022, o que corresponde a um pequeno crescimento de 2,3% na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo levantamento realizado por Einar Rivero, da plataforma de dados TradeMap.

As empresas de commodities, particularmente do setor de papel e celulose e de petróleo e gás, voltaram a se destacar positivamente em meio a um cenário de restrição da oferta que manteve os preços das matérias-primas elevados.

Companhias mais voltadas à economia doméstica de consumo e varejo, por outro lado, viram o nível de rentabilidade das operações ser pressionado pelo ambiente macroeconômico com juros altos e inflação.

Homem fotografa painel eletrônico na Bolsa de Valores brasileira, no centro de São Paulo
Homem fotografa painel eletrônico na Bolsa de Valores brasileira, no centro de São Paulo - Rahel Patrasso - 22.dez.2021/Xinhua

Pelos cálculos da XP Investimentos, pouco mais da metade dos balanços (55% do total) veio acima das expectativas, considerando o lucro operacional (ebitda). Outros 10% vieram em linha com o esperado, e 35% ficaram abaixo das estimativas.

Segundo Jennie Li, estrategista de ações da XP, a mais recente temporada de resultados trimestrais ainda pode ser considerada positiva, com as empresas do Ibovespa entregando, na média, crescimento de receita e de lucros.

A especialista acrescenta, no entanto, que os números também deixam claro que houve uma desaceleração no ritmo de ganhos em relação aos meses anteriores, frente aos juros altos no Brasil, e com uma inflação ainda em patamar elevado, que pressionou o poder de compra da população no período.

"O setor de commodities continuou indo bem, com os preços das matérias-primas ainda em patamares elevados e empresas exportadoras se beneficiando de um real um pouco mais desvalorizado e o dólar mais forte", afirma a estrategista de ações da XP.

O setor de papel e celulose, com nomes como Klabin e Irani, e o de petróleo e gás, com PetroRio e Petroreconcavo, estiveram entre os principais destaques positivos do terceiro trimestre, aponta a especialista. A metalúrgica Gerdau, com operações fortes nos Estados Unidos, também é citada.

Jennie afirma também que, ainda entre as grandes produtoras de commodities, o setor de mineração acabou sendo mais pressionado negativamente por conta do ajuste para baixo na cotação do minério de ferro no mercado internacional, em meio à desaceleração econômica na China.

Na ponta negativa, ela afirma que varejistas como Via, Americanas e Magazine Luiza estiveram entre as companhias da Bolsa mais afetadas pelo cenário macroeconômico de juros e inflação.

"O ponto mais importante da temporada foi mostrar que os juros altos tiveram impacto bastante negativo no resultado de diversas empresas", afirma Fernando Siqueira, responsável pela área de pesquisas da Guide Investimentos.

Embora o resultado operacional possa ser considerado bom, o lucro foi muitas vezes prejudicado pela alta despesa financeira na esteira de uma taxa Selic em 13,75% ao ano, afirma Siqueira. "Isto ocorreu, por exemplo, com as empresas de locação de veículos e do varejo, entre outras."

Já o consumo mais voltado para a alta renda, como Soma e Vivara, seguiu demonstrando uma resiliência maior do que a média do setor, diz Jennie, da XP.

"Dos setores mais voltados para o consumo doméstico, a Ambev surpreendeu com resultados fortes no Brasil, compensando o desempenho mais fraco da operação internacional", afirma a estrategista de ações.

Bradesco errou a mão na concessão de crédito e foi destaque negativo entre os bancos

Também entre os destaques negativos da temporada de balanços do terceiro trimestre, Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, aponta o caso do Bradesco, que viu o lucro cair mais de 20%, com as ações tendo afundado cerca de 17% após a divulgação dos números.

"O setor de bancos teve os resultados pressionados por uma inadimplência maior, mas de fato o Bradesco foi o grande destaque negativo, muito por conta dele próprio. Os resultados dos outros bancos mostraram que o Bradesco errou a mão na concessão do crédito e foi uma surpresa muito grande", afirma Serra.

O levantamento da TradeMap mostra que, considerados todos os bancos com ações listadas na Bolsa, o lucro somado alcançou R$ 28,1 bilhões no terceiro trimestre de 2022, um aumento de 15,5% em relação ao mesmo período do ano anterior.

O especialista da Ativa acrescenta que, em um cenário de juros altos, o setor imobiliário também acabou vindo com resultados mais fracos, com o nível de rentabilidade pressionado e uma desaceleração no ritmo de vendas e lançamentos.

4º trimestre pode trazer contração no lucro das empresas da Bolsa

Serra afirma também que Banco do Brasil e Petrobras apresentaram resultados fortes. Porém, acrescenta, há uma dúvida em relação a qual será o desempenho dessas empresas nos próximos balanços trimestrais, a depender do direcionamento do governo Lula para as companhias sob controle do Estado.

Jennie, da XP, diz ainda que, olhando para as estimativas do quarto trimestre, devemos continuar a ver uma desaceleração no crescimento de lucros das empresas, e, possivelmente, uma contração nos lucros, segundo as projeções do consenso de resultados indicado pela Bloomberg.

Além do cenário macroeconômico global, que continua bastante incerto, no âmbito doméstico, temos agora maiores incertezas quando à trajetória fiscal, com as discussões sobre a próxima equipe econômica e sobre o teto de gastos, questões que têm estressado bastante os ativos brasileiros, afirma a estrategista de ações da XP.

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