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Governo Lula

Desafios do novo ministro da Agricultura passam por outros ministérios

Ministério da Fazenda será fundamental na definição de uma política agrícola

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Mauro Zafalon

Responsável pela coluna Vaivém das Commodities, é formado em jornalismo e em ciências sociais.

O novo ministro da Agricultura, o agropecuarista Carlos Fávaro (PSD-MT), não vai governar sozinho. A pasta virou um rosário de dependências, e a tarefa terá de ser ser dividida com outros ministros, cujas decisões terão grande peso para o setor.

O Ministério da Fazenda será fundamental na definição de uma política agrícola para a Agricultura. O cobertor do Orçamento é curto, e a Agricultura, se quiser incentivar os produtores de menor renda, terá de elevar a participação desses agricultores no financiamento.

Os grandes produtores, após bons anos de receitas, ainda têm fôlego. Nesta safra, os de Mato Grosso, principal estado agrícola do país, financiaram 33% de sua safra com recursos próprios. Em 2020/21, o percentual era de 17%, e em 2021/22, de 23%.

Máquinas atuam em plantação de soja em Mato Grosso - Ascom/Aprosoja

Juros elevados e sinais de uma desaceleração dos preços internacionais são novos obstáculos à agropecuária brasileira, após demanda e preços fortes nos anos recentes. Os pedidos da pasta agrícola para a Fazenda vão aumentar. Aliás, o nome Fazenda casa bem com Agricultura.

A agropecuária brasileira vai depender muito também do Ministério do Meio Ambiente. As ações deste deverão abrir ou fechar portas para o mercado brasileiro. Não se imagina, porém, que o governo que vai assumir venha a ter um comportamento tão destrutivo neste setor como teve o que sai.

Os próprios produtores já tomaram consciência de que os crimes existem nessa área e que devem ser combatidos. Caso contrário, os mercados externos vão se fechar cada vez mais.

O Ministério da Agricultura vai depender muito também do Ministério das Relações Exteriores. Por mais que a ex-ministra Tereza Cristina tenha buscado o diálogo externo, a aversão internacional ao presidente Jair Bolsonaro é grande, e algumas pontes foram destruídas.

Até a ação do Ministério de Minas e Energia, por meio da Agência Nacional de Mineração, será importante para um reconhecimento externo da Agricultura. O avanço de garimpos e mineração ilegais, principalmente em terras indígenas, influência as negociações com o mercado externo.

Projetos de mineração adequados e com sustentabilidade, voltados inclusive para a produção de fertilizantes, serão importantes para a agricultura.

O Brasil passará a conviver ainda com novas ameaças de barreiras comerciais. A União Europeia está prestes a implantar um novo protocolo de importações, que leva em consideração período e áreas desmatadas.

O bloco europeu quer uma produção mais eficiente e mais ecológica. O Brasil vai ter de se adaptar a essas exigências, devido à importância da Europa para o mercado brasileiro, mas a que custo? Boa parte dos novos mercados exige preços competitivos dos alimentos.

A demanda externa por produtos brasileiros depende, ainda, da economia mundial e da renda dos consumidores, principalmente dos da Ásia, o maior mercado brasileiro.

A crise internacional, atividade menor na Europa, efeitos da Covid na China e eventuais barreiras europeias, devido ao desmatamento, podem reduzir os preços externos das commodities. E isso ocorre em um período de forte aceleração dos custos de produção.

Há uma indecisão também sobre o desenrolar do conflito entre Rússia e Ucrânia. Importantes fornecedores de grãos e de insumos, estes dois países interferem no abastecimento do mercado mundial.
Além dessas preocupações, as condições climáticas também são fatores desafiadores. Nos anos recentes, as adversidades climáticas têm afetado várias partes do mundo, inclusive o Brasil.

No ano de 2021, o país perdeu 20 milhões de toneladas de milho, devido a seca e geadas. Neste ano, foi a vez da quebra do mesmo volume de soja. Para esses casos, o país necessita de um programa eficiente de seguro e de garantia de renda no campo.

A tecnologia é fundamental para a agricultura. Embora o novo governo tenha manifestado a necessidade de uma recuperação orçamentária da Embrapa para o avanço de novas pesquisas agrícolas, a empresa está no fundo do poço.

A tecnologia tem levado concorrentes brasileiros a aumentar a produção e a diminuir a dependência externa, mesmo em condições menos favoráveis do que as do Brasil.

Os russos, principais importadores de carne suína do Brasil há alguns anos, já não fazem mais parte importante nessa lista.

Os árabes estão aumentando a produção de proteínas, o que também ocorre no mercado chinês. Os países africanos, com ajuda do capital estrangeiro, se inserem cada vez mais na produção de alimentos.

O Brasil necessita de um programa de médio e longo prazos apontando tendências para a agropecuária. Ele deve contemplar não apenas as necessidades internas, mas também os possíveis rumos do setor externo.

A produção de alimentos básicos, como arroz e feijão, por exemplo, está sendo deixada de lado devido à atratividade dos produtos voltados para o mercado externo.

O setor de vigilância sanitária do próximo governo vai ter de redobrar a atenção. A gripe aviária chegou a alguns países vizinhos, enquanto a peste suína africana já ameaça o continente americano.

O novo ministro da Agricultura vai ter de se ajustar, ainda, com as forças opostas do MST e da massa sem um líder definido que tomou conta de boa parte do campo.

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