Descrição de chapéu Banco Central

Haddad vai buscar responsabilidade fiscal na Fazenda, diz Eurasia

Consultoria também afirma que gastos em 2023 devem ser menores do que os previstos na PEC da Transição

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São Paulo

A possível escolha de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda pode não ter a aprovação de parte do mercado financeiro, mas o ex-prefeito e ex-ministro deve buscar um equilíbrio entre necessidade de mais gastos e responsabilidade fiscal, afirma Christopher Garman, diretor para as Américas da Eurasia Group.

"Ainda acredito que o nome do Haddad vá tentar encontrar um equilíbrio e um olhar para a sustentabilidade da dívida", disse durante debate no evento Macrovison do Itaú Unibanco nesta quinta (8).

A expectativa é que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirme o nome de Haddad para a Fazenda nesta sexta.

Garman afirmou também que as despesas previstas pela PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição para 2023 devem ficar abaixo dos R$ 168 bilhões aprovados no Senado, algo que foi sinalizado em conversas com membros da equipe de transição em Brasília.

"O que eu escuto dentro da equipe da transição é que a expectativa é gastar de R$ 120 bilhões a R$ 130 bilhões no ano que vem. Uma coisa é pedir espaço para gastar, outra é o gasto concreto", afirmou.

Christopher Garman, 51, mestre em ciência política e diretor-executivo para as Américas na Eurasia Group (empresa de consultoria e análise de risco)
Christopher Garman, mestre em ciência política e diretor-executivo para as Américas na Eurasia Group - Eurasia/Divulgação

Para ele, esse "não será um governo que vai jogar a responsabilidade fiscal no lixo", embora o PT possa estar adotando uma política que impede o Banco Central de reduzir juros e promover um crescimento mais robusto, dada a incerteza fiscal.

Se o crescimento econômico esperado pelo partido não se materializar, não se pode descartar uma perda de popularidade e de apoio no Legislativo, consolidando um ambiente e lua de mel curta para o novo governo, diz o executivo.

Ainda sobre Haddad, Garman disse acreditar que o ex-prefeito de São Paulo vai trazer para o ministério nomes com aprovação no mercado.

No mesmo debate, Fábio Zambeli, analista-chefe do Jota, afirmou que a habilidade na articulação com o Congresso não é uma característica de Haddad, lembrando a relação bélica entre o Legislativo e o PT na prefeitura de São Paulo. Mas citou que o ex-prefeito fez uma gestão fiscal responsável e escolheu um técnico, Marcos Cruz, sócio da consultoria McKinsey, para a pasta de Finanças.

Em outro painel do mesmo evento, o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore também citou o possível conflito fiscal-monetário que se desenha para a próxima gestão, o que dificulta o trabalho da autoridade monetária.

"Com uma autoridade fiscal que acredita que o crescimento só vem com gastos públicos, você acentua esse conflito", disse Pastore.

O também ex-presidente do BC Gustavo Franco afirmou que a possível recondução do atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, que tem mandato até o final de 2024, é uma boa notícia. A informação foi publicada pelo Painel S.A. da Folha durante a realização do evento.

Ele afirmou, no entanto, que esse cenário pode não se concretizar caso o país entre em uma crise fiscal que obrigue a instituição a subir os juros novamente. Franco afirmou que a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de março será a primeira na qual o BC terá uma visão mais clara sobre o assunto.

"Se o panorama de risco fiscal em março estiver com cara ruim, o Roberto vai ter de subir os juros. Aí eu quero ver se vai ter recondução."

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