Carnaval chique da 25 de Março tem vestido de R$ 500 e peças feitas à mão

Tradicional centro de comércio popular vê lojas sofisticadas ganharem espaço com curadoria e acessórios exclusivos

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São Paulo

Lojas com ateliê próprio, onde as peças são confeccionadas à mão, em série limitada. Encomenda de modelos customizados, seguindo as sugestões e inspirações da clientela. Uma curadoria dos melhores acessórios, compondo looks exclusivos.

À primeira vista, parece coisa de butique, mas o cenário é a região da rua 25 de Março, no centro de São Paulo, reconhecida nacionalmente como um centro de comércio popular. Em época de Carnaval, quando as saias de tule (tutus) coloridas se proliferam a R$ 25 nas bancas de camelôs e longos brincos de fitinhas coloridas de R$ 15 são destaque nas grandes lojas de acessórios, espaços como a Bendita Seja e a Le Charme Store destoam desse perfil.

As lojas oferecem itens exclusivos, que envolvem desde brincos de R$ 40, passando por tiaras de R$ 130, até tops de R$ 300 e vestidos de R$ 500.

Tiara colorida em manequim, com pessoas ao fundo
Comércio de acessórios n a Le Charme Store, na região da Rua 25 de Março. - Rubens Cavallari/Folhapress

"Trabalhamos com peças diferenciadas, que não costumam ser encontradas em outro lugar", diz a gerente da Le Charm Store, Aline Alves, 31. "Temos um ateliê próprio que desenvolve as peças e contamos com uma curadoria bem dedicada, tudo pensado com carinho para alcançar todos os públicos", diz ela, que comanda a loja aberta há um ano. É a segunda da Le Store na região: a primeira, mais próxima da estação de metrô São Bento, é maior e mais generalista. Foi aberta em 2011.

Segundo Aline, mesmo em um momento de aperto do orçamento, o público quer vivenciar este Carnaval "como nunca". "Passamos por dois anos de pandemia trancados em casa, muita gente enfrentou momentos difíceis", diz a gerente. "Mas agora pensam: ‘Está caro, mas eu quero estar maravilhosa e vou levar!’".

Entre as peças mais desejadas está um top dourado com pedrarias e vazado, a R$ 299. Foi a escolha de Bárbara Fagundes, 31, que vai aproveitar o Carnaval em Salvador e no Rio. "É caro, mas quase ninguém vai ter uma peça como a minha", diz ela.

De acordo com Aline, alguns clientes desejam peças exclusivas, inspiradas em uma atriz ou influenciadora. "A Pantone Brasil postou uma peça nossa no Instagram, um top de coração na cor escolhida para este ano, magenta, que tem sido um sucesso de vendas", diz ela, referindo-se à empresa responsável por padronizar as cores para as indústrias gráfica e têxtil em nível global.

Sem venda de itens por 'baciada'

A Bendita Seja também conta com ateliê próprio e edições limitadas de acessórios. Mas mesmo itens importados não vêm "de baciada", segundo a gerente da loja, Karina Theodoro, 43. "As peças mais caras da loja são um vestido de paetês pink e um par de asas de vestir brancas. São peças importadas, mas eu só tenho quatro unidades do vestido e duas unidades do par de asas", afirma.

Segundo ela, a loja está há dez anos na 25, diferenciando-se pelo perfil mais sofisticado. "As pessoas são plurais e a 25 de Março é uma região para todos os públicos e todos os preços", afirma Karina, que espera ultrapassar as vendas do Carnaval de 2020, com itens como a ombreira (R$ 129), o vestido de cristal (R$ 299) e o top vazado metalizado (R$ 379).

Entre os acessórios, o destaque é a meia arrastão com pedrarias, a R$ 99.

"Agora as pessoas estão vacinadas e muito animadas", diz Karina que, em determinado momento, precisa pedir ao segurança para conter o fluxo de clientes na entrada da loja.

mulher branca segura vestido vermelho com paetês
Natália Proença confere o vestido mais caro da Bendita Seja, mas não se anima com o preço: R$ 500. - Rubens Cavallari/Folhapress

Público aprova, mas continua escolhendo pelo preço

A professora Camila Pereira, 36, estava na Bendita Seja atrás de acessórios, como brincos, ombreira e viseira. Mas iria improvisar a fantasia com o que já tem em casa. "Não pago caro por roupa para o Carnaval", diz ela, que veio do interior paulista, de Águas de Lindóia, para a 25. "São tantos dias de festa que não dá para ter uma coisa nova para cada ocasião."

O casal Alessandro Linares, 41, gerente, e o artista visual João de Souza, 46, pensam o mesmo. "Dá para encontrar preço melhor no camelô, mas é sempre a mesma coisa", diz Linares. "Aqui, eles têm variedade, são produtos diferenciados", afirma Souza. Juntos, eles pretendem gastar até R$ 400 para incrementar as fantasias para desfilar em blocos de Belo Horizonte.

A analista Natália Proença, 29, estava achando a Bendita Seja menos cara que a Le Charm. "Nessas lojas, a gente paga pela curadoria das peças", diz ela, que buscava um brinco "diferente".

Na Mundo Encantado das Festas e Fantasias, ao lado da Bendita Seja, os brincos saem bem mais em conta, a R$ 15,50. O gerente, Luiz Gustavo de Oliveira, 52, está gostando do movimento deste ano.

"No ano passado, foi muito fraco, porque misturou as festas", diz ele, lembrando do Carnaval liberado só no meio do ano pela prefeitura da capital paulista, por conta da pandemia. "Mas são os blocos que animam as vendas e eles quase não saíram no ano passado", diz o executivo.

Na festa de 2023, os destaques são as ombreiras e as saias de tule. "Vem gente do Norte e do Nordeste do país comprar aqui", afirma Oliveira. Especializada em fantasias, com quatro lojas na região da 25 de Março, a empresa tem vendas concentradas no Carnaval e o no Halloween.

duas jovens em meio a barracas provam peças metalizadas
Natália Tomé e Lirian Bom (de óculos) conferem o conjunto de top e hot pants metalizado da banca de camelô, a R$ 50: mais barato que as lojinhas chiques. - Rubens Cavallari/Folhapress

Em frente ao Mundo das Fantasias, as amigas Natália Tomé e Lirian Bom, ambas de 28 anos, experimentavam opções na banca de camelô. O modelo escolhido foi o conjunto de hot pants (top e calcinha de cintura alta) a R$ 50. Mas elas também levaram de ambulantes tutu e top preto (cerca de R$ 60) e um collant da Mulher Maravilha (R$ 30). Investiram ainda cerca de R$ 50 em glitter, pedrinhas e tatuagem.

"Nosso último Carnaval foi há três anos, em 2020. Em 2022, só fomos em uma festa fechada, não tinha muita coisa. Agora a expectativa é grande", diz Natália, que vai pular o Carnaval nos blocos do Rio, ao lado da amiga e companheira de compras. "Não rola pagar caro para usar só no Carnaval", diz Lirian.

100 mil latas de espuma para animar os blocos

Quem também está animado com a profusão de blocos – na capital paulista serão mais de 500, segundo a prefeitura– é o gerente geral da Armarinhos Fernando, Ondamar Ferreira, 51.

"Este é o primeiro Carnaval em três anos, sem as restrições por conta da pandemia", diz Ferreira, que aposta na força dos blocos para consumir latas de espuma e de pintura para cabelos. "Nossa expectativa é vender 100 mil latas de espuma neste ano", diz ele. O preço é popular, como é tradicional na 25: R$ 7,99. Já a tinta de cabelo custa R$ 8,99.

homem grisalho, de óculos, atrás de latas brancas de tampa verde limão
Ondamar Ferreira, da Armarinhos Fernando: expectativa de vender 100 mil latas de espuma para os bloquinhos de carnaval. - Rubens Cavallari/Folhapress

Prata da casa na Armarinhos Fernando, onde trabalha há 34 anos (entrou como office boy), Ferreira vê com desconfiança a "gourmetização" da 25 de Março. "Para nós, que vivemos de um tipo de comércio oposto ao que eles oferecem, não é bom, porque faz com que a 25 de Março perca a sua identidade", afirma.

A região sempre foi referência em tecidos, cama, mesa, banho e aviamentos. "Mas hoje 70% das lojas são tomadas por eletrônicos, uma categoria que também tinha o seu espaço tradicional, a Santa Ifigênia."

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