Descrição de chapéu Banco Central

Lula diz que tem que mudar autonomia do BC se economia não melhorar

O presidente disse que se a autonomia "trouxer uma coisa extraordinariamente positiva, pode ser mantida"

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (16) que a autonomia do Banco Central tem que ser alterada caso a economia do país não melhore. O petista vive uma disputa com o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, devido à taxa de juros.

O chefe do Executivo defende uma redução na taxa básica de juros do país, a Selic, enquanto Campos Neto prefere mantê-la em 13,75%.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante entrevista a CNN Brasil - Foto: Reprodução/CNN Brasil - Reprodução

Como foi sancionada a lei da autonomia do Banco Central em 2021, a definição fica nas mãos da instituição financeira. Lula, porém, já classificou como uma "bobagem" a legislação aprovada pelo Congresso.

Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (16), o mandatário afirmou que, se a autonomia do Banco Central trouxer "uma coisa extraordinariamente positiva", pode ser mantida.

"O que eu quero saber é o resultado. O resultado vai ser melhor? Um Banco Central autônomo vai ser melhor, melhorar economia, ótimo, mas se não melhorar, temos que mudar", afirmou.

Lula também fez duras críticas ao mercado financeiro que, segundo ele, "é muito frágil e precisa ter um pouco mais de seriedade".

"Eu se fizesse discurso que Joe Biden fez na semana passada no Congresso Nacional [americano] seria chamado de comunista, de terrorista. Esse mercado está muito conservador. É preciso gostar de ganhar dinheiro, mas é preciso ter um pouco de sensibilidade social", disse.

Lula também afirmou que o diálogo do presidente do Banco Central com o governo deve ficar mais concentrado com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

"Ora, mas se não posso conversar com ele da taxa de juros, se não posso influir para reduzir a taxa de juros, se não posso conversar com ele sobre emprego, então o que eu vou conversar? É importante que ele converse com Haddad todo dia, toda hora, todo mês, todo ano e que ele apenas cumpra meta da inflação. E portanto tenha noção que a meta da inflação não pode ser razão pela qual você é obrigado a aumentar a taxa de juros", disse.

O chefe do Executivo também disse que não é seu papel entrar em disputa com Campos Neto. "Não cabe ao presidente da República ficar brigando com presidente do Banco Central. Eu até teria direito porque ele não é presidente do Banco Central indicado por mim, ele foi indicado pelo Bolsonaro, foi indicado pelo Paulo Guedes. Então, significa que a cabeça política dele é uma cabeça muito diferente da minha cabeça e daqueles que votaram em mim. Mas ele está lá, tem uma lei, tem um mandato", afirmou.

Enquanto Lula segue nas críticas a Campos Neto, o presidente do Banco Central tenta amenizar a situação e construir pontos com o governo.

Nesta semana, em evento do banco BTG Pactual, ele defendeu que é preciso ter boa vontade com o governo e elogiou sua política econômica.

"O investidor é muito apressado, muito afoito. A gente tem que ter um pouco mais de boa vontade com o governo, 45 dias é pouco tempo. Tem uma boa vontade enorme do ministro Fernando Haddad [Fazenda] de falar, 'olha, nós temos um princípio de seguir um plano fiscal com disciplina'. Tem um arcabouço que está sendo trabalhado, já foram elaborados alguns objetivos", disse Campos Neto na terça (14).

Um dia depois, ele disse que é necessário haver disciplina fiscal, mas entender que é preciso ter um "olho mais especial no social".

Antes disso, havia dado uma entrevista ao programa Roda Viva em meio à tensão com Lula, numa tentativa de atenuar a crise gerada pelas declarações do mandatário.

Ele afirmou que fará tudo que estiver ao seu alcance para aproximar o BC do governo e ressaltou o esforço fiscal de Haddad.

Apesar dos acenos, ministros do governo se irritaram com o que viram como uma mudança de posição de Campos Neto sobre elevar a meta de inflação.

Ministros do Palácio do Planalto e da equipe econômica afirmam que o presidente do BC teria defendido, em conversas reservadas, a mudança na meta de 2023 de 3,25% para 3,5%. Na entrevista ao Roda Viva na segunda-feira (13), no entanto, ele fez declarações no sentido contrário.

Os membros do governo avaliam que a alteração e o fato de não reconhecer que teria mudado de opinião representam uma quebra de confiança que dificulta a melhora no diálogo entre o Executivo e a autoridade monetária.

Lula já defendeu publicamente mudanças sobre o tema. O presidente acredita que a meta de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo, obriga o BC a implementar um arrocho econômico por meio da elevação dos juros em um momento em que o Brasil precisa crescer.

Campos Neto foi questionado durante a entrevista sobre notícias publicadas nos últimos dias pela imprensa de que teria sido a favor do aumento da meta em uma conversa com Lula.

"A única mensagem que passei [para o governo] é que a forma de vender qualquer tipo de aprimoramento [no sistema de metas] é falar de aprimoramento total e, nesse aprimoramento, existem várias variáveis. Em nenhum momento a gente defendeu simplesmente aumentar a meta no sentido de ganhar flexibilidade, mesmo porque não é nossa crença", respondeu.

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