Descrição de chapéu The New York Times

Morre aos 97 anos Shoichiro Toyoda, executivo que ajudou a tornar a Toyota um império global

Ex-CEO colocou a empresa no caminho para ser uma das montadoras mais poderosas do mundo.

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Ben Dooley
Tóquio | The New York Times

Shoichiro Toyoda, chefe da gigante automotiva Toyota, que liderou a empresa quando ela expandiu a produção para a América do Norte na década de 1980 e ajudou a transformá-la em uma marca global, morreu na terça-feira (14), aos 97 anos.

Ele morreu de insuficiência cardíaca, disse a Toyota em comunicado, que não informou o local do falecimento.

Em uma década no comando da Toyota, Toyoda reuniu suas consideráveis habilidades em engenharia, administração, política e diplomacia para colocar a empresa fundada por seu pai firmemente no caminho para ultrapassar a General Motors como maior montadora do mundo.

A conquista foi ainda mais notável porque ele assumiu o comando da Toyota em 1982, no auge das tensões comerciais Estados Unidos-Japão, quando os carros japoneses se tornaram um poderoso símbolo dos temores americanos de que um Japão em ascensão substituísse os Estados Unidos como maior potência econômica mundial.

Então presidente honorário da Toyota Motor Corporation, Shoichiro Toyoda testa veículo da empresa, em Tóquio - 24.mai.2000/Reuters

Apesar dessas tensões, Toyoda expandiu a produção de sua empresa para a América do Norte, primeiro formando uma aliança com a General Motors em 1984, antes de abrir a primeira fábrica americana da Toyota, em Kentucky, em 1988, cedendo à pressão americana para produzir carros nos Estados Unidos.

Ao final de seu mandato, ele havia expandido a produção globalmente, tornando a empresa verdadeiramente internacional.

Toyoda adotou uma abordagem pragmática para as relações entre os Estados Unidos e o Japão –então a primeira e a segunda maiores economias do mundo–, argumentando que, à medida que o Japão crescia, precisava trabalhar mais para cair nas boas graças de seus concorrentes, mensagem que ele incluiu na filosofia corporativa da Toyota.

Depois de deixar o cargo de executivo-chefe da empresa, ele se tornou em 1994 o chefe do lobby empresarial mais poderoso do Japão, onde ajudou a moldar os esforços do país para combater a estagnação econômica que começou no início dos anos 1990.

Shoichiro Toyoda nasceu em 27 de fevereiro de 1925, em Nagoya, cidade industrial portuária no centro do Japão, o segundo dos quatro filhos de Kiichiro e Hatako Toyoda. Teve uma infância privilegiada: em uma coluna de 2014 para o jornal Nikkei Shimbun, ele contou que seus colegas no ensino fundamental o provocaram quando ele revelou que tomava café da manhã com a "empregada" da família.

Seu pai fundou a Toyota Motor em 1937, desdobrando-a de uma fábrica de teares automáticos fundada por seu pai, Sakichi. O "d" de Toyoda foi alterado para "t" no nome da empresa porque ficava melhor quando escrito em japonês.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Toyoda começou a estudar na Universidade de Nagoya. Ele foi dispensado do recrutamento porque sua especialização, engenharia, era considerada vital para o esforço de guerra, escreveu ele no artigo do Nikkei. Quando a guerra acabou, ele se matriculou num programa de pós-graduação na Universidade de Tohoku e mais tarde recebeu um doutorado da Universidade de Nagoya.

Em 1950, a Toyota, endividada, se desdobrou em duas: uma manufatura, dirigida por Kiichiro Toyoda, e outra empresa de vendas. Diante de uma disputa trabalhista acirrada, Kiichiro Toyoda foi forçado a renunciar, encerrando temporariamente a liderança da família na empresa. Ele morreu logo depois.

Shoichiro Toyoda ingressou na companhia aos 27 anos como diretor do departamento de inspeção. No início da carreira, ele desempenhou um papel fundamental na primeira incursão da Toyota nos Estados Unidos, assinando em 1957 a exportação do modelo Crown, depois de levá-lo numa turnê americana que incluiu uma parada audaciosa em frente à sede da Ford em Detroit.

Mas os motoristas americanos rejeitaram o carro, reclamando que o motor era fraco. O fracasso deixou Toyoda "determinado a desenvolver um carro de passageiros de alta qualidade que teria bom desempenho em qualquer lugar do mundo", escreveu ele no Nikkei em 2014.

Apesar da falha, ele rapidamente subiu na hierarquia da empresa, em parte por seu talento para engenharia e negócios e em parte pela influência contínua de sua família. Em 1982, quando as duas metades da empresa se reuniram, ele estava no topo.

Foi um período de grandes promessas e riscos para a companhia. O Japão ultrapassou os EUA como maior fabricante de automóveis do mundo e, com a inflação, o desemprego e o sentimento protecionista em alta nos Estados Unidos, Tóquio e Washington concordaram com a primeira de muitas rodadas de restrições à importação de carros japoneses.

Enquanto a Nissan e a Honda instalavam fábricas nos Estados Unidos, Toyoda liderou a empresa num acordo com a General Motors, com o objetivo de ajudá-lo a aumentar suas vendas nos EUA. Em entrevista ao The New York Times, um executivo da Toyota disse que a medida era como oferecer "sal ao nosso inimigo", uma referência ao período feudal do Japão, quando os senhores da guerra às vezes alimentavam pessoas em território inimigo. A revista Car and Driver publicou a manchete "Hell Freezes Over" (O inferno congela). A parceria terminou logo após a General Motors declarar falência, em 2009.

Mesmo competindo com empresas americanas, Toyoda pressionou para que as japonesas desempenhassem um papel maior nas comunidades onde construíram suas fábricas. Em um discurso de 1990, ele encorajou os industriais japoneses a "contribuir no mesmo nível que os americanos", tornando-se ativos em organizações beneficentes nos Estados Unidos. (O governo japonês concedeu isenções fiscais aos que o fizeram.) À medida que os americanos se apaixonaram pelas práticas de produção ultraeficientes da Toyota, ele iniciou um centro de treinamento administrativo para ajudar as empresas americanas. E ajudou a manter as tensões comerciais baixas por meio de concessões a Washington.

Em 1992, quando Toyoda deixou o cargo de presidente para se tornar o presidente do conselho da empresa, a Toyota tinha fábricas em 22 países e competia com sua ex-parceira, General Motors, pelo título de maior montadora do mundo, que conquistou em 2008.

Em 1994, quando a meteórica ascensão econômica do Japão se transformou repentinamente em um período de estagnação, Toyoda foi nomeado chefe do grupo de lobby empresarial Keidanren, onde passou quatro anos pressionando o país a reduzir as muitas regulamentações que, na opinião dele, impediam seu crescimento.

Toyoda deixou a presidência do conselho da Toyota em 1999 e tornou-se presidente honorário vitalício, cargo em que continuou a influenciar os rumos da companhia. Em 2007, foi incluído no US Automotive Hall of Fame.

Refletindo sobre sua carreira no artigo de 2014, ele escreveu: "Trabalhei obstinadamente para acrescentar pelo menos algumas linhas aos livros de história da indústria automobilística".

Toyoda deixa sua mulher, Hiroko, com quem se casou em 1952, o filho Akio e a filha Atsuko.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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