Descrição de chapéu The New York Times

Denúncia de que macacos fariam trabalho forçado leva empresa a desistir de negócio com Tailândia

Companhia alemã deixará de usar leite de coco do país asiático após relatório de grupo de defesa dos animais

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Christine Chung
The New York Times

A HelloFresh, empresa alemã de kits de refeições, anunciou que deixará de usar leite de coco da Tailândia este ano, após alegações do grupo de defesa dos direitos dos animais Peta (People for the Ethical Treatment of Animals) sobre o uso de trabalho forçado de macacos na indústria do coco.

Abby Dreher, porta-voz da HelloFresh, confirmou que "por um excesso de cautela" a empresa decidiu não comprar leite de coco da Tailândia a partir do final deste ano. A decisão foi tomada em dezembro e divulgada na semana passada.

Walmart, Costco e outros grandes varejistas dos Estados Unidos interromperam as vendas de leite de coco Chaokoh, uma marca tailandesa, mas a HelloFresh prometeu parar de usar totalmente o produto vindo da Tailândia.

Macacos comem frutas durante festival anual na província de Lopburi, na Tailândia - Juarawee Kittisilpa - 27.nov.2022/Reuters

O anúncio, relatado anteriormente pela Axios, ocorre depois que a Peta publicou um relatório em novembro alegando que macacos estavam sendo vítimas de abusos em dezenas de operações de coleta de coco que seus investigadores visitaram em nove províncias da Tailândia. A Peta há muito afirma que os macacos da Tailândia são forçados a subir em árvores altas durante horas e colher cocos que serão usados para fazer produtos como leite, farinha e óleo de coco.

A Peta também afirma que macacos jovens são retirados de suas famílias para ajudar na colheita. Raptar um animal selvagem é ilegal na Tailândia. O governo tailandês não respondeu imediatamente a um pedido de comentário na terça-feira (14).

No relatório, a Peta disse que dois dos fornecedores da HelloFresh na Tailândia usavam o trabalho de macacos explorados. O New York Times não conseguiu confirmar os detalhes das investigações da Peta de forma independente.

"Desde então, mantivemos um diálogo contínuo com a Peta e continuamos a lembrar nossos fornecedores, de quem recebemos confirmação por escrito de que não estavam usando trabalho de macacos em sua cadeia de suprimentos, de nossos altos padrões", disse Dreher. "Sob nenhuma circunstância toleramos qualquer forma de abuso animal em nossa cadeia de suprimentos."

Em um email para a Peta obtido pelo The New York Times, a HelloFresh confirmou no mês passado que deixaria de comprar leite de coco tailandês até o verão de 2023 e buscaria novos fornecedores fora da Tailândia.

Edwin Wiek, fundador da Wildlife Friends Foundation Thailand, organização sem fins lucrativos que administra um centro para animais silvestres encontrados em cativeiro, estima que os fazendeiros tailandeses mantêm um total de 4.000 a 5.000 macacos.

Wiek disse que cerca de dois terços desses macacos são usados em trabalho. Mas, acrescentou, o número total de macacos em cativeiro no país caiu nos últimos anos; hoje há cerca de um terço do que havia três anos atrás. Ele estimou que menos de 1% da colheita de coco local é produzida com mão-de-obra de macacos.

Embora tenha dito que não aprova o trabalho de macacos, ele sentiu que a caracterização da Peta das condições nas fazendas de coco tailandesas as fez parecer mais cruéis do que são na realidade. Na maioria dos casos, disse ele, os macacos vivem com os fazendeiros com quem trabalham e são tratados como animais de estimação.

Mais de 25 mil varejistas nos Estados Unidos e na Europa pararam de vender marcas de coco tailandesas desde que a Peta as acusou de usar trabalho forçado de macacos, informou a embaixada do país nos Estados Unidos no ano passado.

A HelloFresh, fundada em Berlim em 2011, entrega kits de refeição com ingredientes medidos para suas receitas. A empresa, que opera em mais de uma dúzia de países, oferece refeições anunciadas como caril tailandês com leite de coco.

O fabricante de Chaokoh, Theppadungporn Coconut Company, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário na terça-feira.

Moira Colley, porta-voz da Peta, disse em comunicado que o objetivo do grupo é "afastar a indústria do uso e abuso de macacos".

A Peta está incentivando os consumidores a comprar produtos feitos de cocos cultivados fora da Tailândia, usando em seu lugar as colheitas da República Dominicana, Índia, Indonésia, Filipinas e Vietnã. De 2017 a 2021, o valor anual da exportação de leite de coco da Tailândia foi de mais de US$ 37 milhões, segundo dados do governo.

Três tipos de macacos podem ser criados na Tailândia para fins comerciais, com permissão do Departamento de Parques Nacionais e Conservação de Vida Silvestre e Vegetação. Na Tailândia, quem quiser manter um macaco também deve solicitar permissão. Os condenados por ter um macaco sem permissão podem ser multados em até US$ 1.158 ou presos por até quatro anos. Donos de macacos que abusam de seus animais podem ser condenados a até dois anos de prisão.

Em um estudo publicado em 2021 no Journal of Applied Animal Behavior Science, pesquisadores entrevistaram 89 produtores de coco que trabalham em três províncias da Tailândia. Eles descobriram que os macacos trabalhavam todos os dias da semana e "normalmente subiam em mais de 50 coqueiros" para colher entre 500 e 1.000 cocos por dia.

A embaixada tailandesa disse à Axios na semana passada que "tanto o governo tailandês quanto a indústria estão garantindo que o leite de coco exportado da Tailândia não seja obtido com o trabalho de macacos".

Em um documento do governo de agosto passado, a embaixada disse que estava estabelecendo um programa, chamado "Monkey Free Plus", que "não apenas certificaria as plantações de coco no sistema de segurança alimentar, como também garantiria que os macacos não fossem usados na colheita". A embaixada também disse que estava "promovendo coqueiros anões híbridos para novos plantios", cujos troncos curtos significavam que a colheita de cocos "não exigiria mais o trabalho de macacos".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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