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Eletrobras propõe elevar em 8 vezes reserva para remunerar executivos

Privatizada em 2022, empresa diz que precisa reter e premiar talentos

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Rio de Janeiro

Privatizada em 2022, a Eletrobras vai propor a seus acionistas a reserva de R$ 88,1 milhões para o pagamento de salários e bônus a seus administradores em 2023. O valor equivale a oito vezes o montante pago em seu último ano sob controle da União.

Deste total, R$ 64,7 milhões são reservados para a diretoria, que teve os salários elevados em 130% em assembleia extraordinária realizada em dezembro, quando o salário do presidente da companhia, Wilson Ferreira Junior, passou a R$ 300 mil mensais.

Em comunicado a acionistas, a companhia diz que a nova política de remuneração "visa à solidificação de uma cultura meritocrática, capaz de reter e premiar talentos" e é estruturada para assegurar pleno alinhamento entre os interesses dos administradores e dos acionistas.

O presidente da Eletrobras Wilson Ferreira Junior, em evento no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. - Eduardo Anizelli/Folhapress

Criticada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a privatização deixou a União com 32,95% das ações com direito a voto. Mesmo considerando os 7,23% do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o governo não tem votos para decidir sozinho sobre a remuneração.

Do total previsto para a remuneração da diretoria, são R$ 16,4 milhões em salários ou pró-labore, quase quatro vezes o valor pago em 2022; R$ 3,7 milhões em bônus, mais do que o dobro dos R$ 1,6 milhão do ano anterior; e R$ 41 milhões em remuneração baseada em ações, contra R$ 383 mil em 2022.

O número médio de diretores da empresa durante o ano foi elevado de 6,33 para 10,75 entre 2022 e 2023. Ainda assim, os valores por diretor são bem superiores. Em salários, a empresa prevê pagar um valor médio de R$ 1,5 milhão em 2023, contra R$ 717 mil em 2022.

O valor médio reservado para remuneração variável, tanto em dinheiro quanto em ações, sobe de 324 mil para R$ 4,1 milhões por diretor, mesmo com a queda de 36% no lucro líquido registrado pela companhia em 2022.

O pagamento dos bônus, diz a empresa, depende do cumprimento de metas de "rentabilidade, sustentabilidade, excelência e geração de valor no longo prazo, bem como, gatilhos e desafios da companhia".

A alta na previsão de remuneração para o conselho de administração da companhia é ainda maior, passando de R$ 459 mil para R$ 20,7 milhões. O aumento ocorre tanto nos salários (R$ 459 mil para R$ 7 milhões) quanto na criação de bônus em ações, que podem chegar a R$ 11,7 milhões.

Em nota enviada à Folha, a empresa diz que o aumento do valor destinado à remuneração de executivos reflete a quantidade de meses em que o novo modelo é aplicado (foram três meses em 2022), o aumento no número de diretores e a implantação de programas de bônus e opções de compras de ações.

O modelo, afirma, teve apoio da consultoria Korn Ferry e é "alinhado às melhores práticas de mercado e compatível com o das principais empresas geradoras e transmissoras do país bem como com empresas de porte similar à Eletrobras, incluindo-se organizações dentro e fora do setor de energia elétrica e companhias que passaram ou passam por relevante processo de transformação organizacional".

A disparidade salarial entre a alta administração e o restante do quadro de funcionários de uma empresa é tema de debate no mundo ESG e ganhou destaque com a crise da Americanas, empresa que figurou nos últimos anos entre as mais desiguais do país.

Em entrevista recente à Folha, o gestor Fabio Alperowicth, um dos fundadores da Fama Investimentos, disse que o desequilíbrio na política de bonificação por resultados de curto prazo pode levar a decisões em benefício próprio.

"Não há uma reflexão substancial sobre políticas de incentivos [no Brasil]. Primeiro, porque o caminho mais fácil é não fazer reflexão, é continuar na inércia. Segundo, porque é conveniente para muita gente. Como grande parte dos investidores olha muito para curto prazo, os executivos olham muito para o curto prazo", afirmou.

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