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Franceses torcem o nariz e Carrefour desiste de abrir Atacadão em Paris

Prefeito da pequena Sevran chamou ideia de desastrosa e lançou abaixo-assinado contra mercado

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Madri

O grupo Carrefour desistiu de abrir a primeira loja da marca brasileira Atacadão na Grande Paris após o prefeito de um pequeno município criar um abaixo-assinado contra a instalação do mercado e chamar a ideia de "desastrosa".

O caso aconteceu em Sevran, uma cidade de pouco mais de 50 mil habitantes, que fica a 18 km do centro da capital francesa, e mobilizou a população da região nas últimas semanas. Ali, uma loja do Carrefour seria substituída por uma do Atacadão.

A ideia de levar a marca brasileira à Europa foi uma das metas apresentadas pelo CEO mundial do grupo, Alexandre Bompard, para o ano de 2023. Agora, após a reação negativa de Sevran, a busca pelo local do primeiro Atacadão continua.

Atacadão da cidade de Marília, em São Paulo, que faz parte do grupo francês Carrefour - Alf Ribeiro/Fotoarena/Folhapress

Maior atacarejo do país em número de lojas, a rede fechou 2022 com 374 unidades no Brasil, um incremento de 50% em relação a 2021, quando tinha 250 endereços. Estima-se que a marca, comprada pelo Carrefour por US$ 1,1 bilhão em 2007, já responda por cerca de 70% do faturamento do grupo no Brasil.

Daí a ideia de levar um tipo de mercado focado na população de baixo poder aquisitivo para uma Europa que, nos últimos anos, tem sofrido com a inflação e o aumento substancial do custo de vida —situação exacerbada com a Guerra da Ucrânia. No Atacadão, compra-se alimentos em maiores quantidades e com grandes descontos.

O CEO do Carrefour já havia anunciado à imprensa francesa a novidade. Em novembro, ele havia dito que o mercado abriria já para a "volta às aulas 2023", descrevendo a inauguração como "uma aposta", mas "provavelmente a melhor solução para a crise".

No final de janeiro, Bompard voltou a falar à imprensa, dizendo que a marca, que tem o formato mais agressivo de descontos do grupo, "funciona muito bem no Brasil". E forneceu detalhes: "No Atacadão, não vamos ultrapassar 10 mil produtos, contra até 60 mil nos hipermercados, e proporemos preços muito baixos".

O CEO mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, em frente a uma loja da rede em Paris - Eric Piermont - 18.jul.2022/AFP

Essa foi uma das razões que irritou o prefeito de Sevran, Stéphane Blanchet, que não queria ver sua cidade transformada em um corredor de compras para a região. No início de janeiro, o Carrefour havia informado à prefeitura de Sevran a decisão de abrir o Atacadão ali.

A reação foi imediata. Em 16 de janeiro, ele enviou uma carta ao CEO, chamando a escolha de "desastrosa".

Dias depois, em um comunicado oficial, o prefeito escreveu estar "totalmente mobilizado ao lado de funcionários, de sindicatos e de todos os atores do território para prevenir este projeto de baixo custo, que degrada a oferta comercial de Sevran e ameaça o projeto de cidade sustentável, ecológico e solidário pelo qual trabalhamos arduamente há vários anos".

Como nada aconteceu em fevereiro, em 2 de março o prefeito resolveu dobrar a aposta e lançou o abaixo-assinado "Não ao Atacadão". Além disso, durante a semana passada, a prefeitura promoveu discussões nas escolas da cidade e, no sábado (11), uma manifestação na frente do Carrefour de Sevran.

Horas depois, o grupo anunciou a desistência do negócio. "Ainda estamos em fase de estudo de diferentes locais para a abertura da primeira loja Atacadão na França, de acordo com o cronograma que estabelecemos. Não há condições para que isso aconteça em Sevran", disse um porta-voz do Carrefour à agência de notícias Associated Press.

A Folha ligou para a prefeitura de Sevran, mas Stéphane Blanchet preferiu não dar entrevista. O grupo Carrefour também não indicou um executivo que pudesse responder à reportagem.

"Nossa mobilização fez o grupo Carrefour se dobrar. A lógica do Atacadão do ‘sempre mais’ em detrimento da qualidade de vida, do emprego, da economia local, deve ser demolida", comemorou, nesta segunda (13), a deputada Clémentine Autain.

E foi além: "Não o queremos em Sevran nem em qualquer outro lugar". A julgar pela reação negativa, as dores de cabeça do CEO Alxandre Bompard estão apenas começando.

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