Descrição de chapéu Silicon Valley Bank

Como o SVB foi de 16º maior banco dos EUA à falência em menos de dois dias

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São Paulo

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Como um banco quebrou em 36 horas

Não demorou nem dois dias para o SVB (Silicon Valley Bank), 16º maior banco dos EUA, com US$ 209 bilhões em ativos, ir à falência.

A segunda maior derrocada de um banco da história americana foi consumada na sexta (10), quando os órgãos reguladores assumiram o controle da instituição.

  • Neste domingo, eles disseram que todos os correntistas serão pagos integralmente, e nenhuma perda será bancada pelo contribuinte americano.
Ilustração com a logo do SVB sob um vidro trincado
Ilustração com a logo do SVB sob um vidro trincado - Dado Ruvic/Reuters

Explicamos o que se sabe até agora sobre o caso e o impacto que ele pode ter no sistema financeiro:

O banco: fundado há 40 anos no Vale do Silício, polo tecnológico mundial, o SVB se tornou uma solução para startups. Ao mesmo tempo em que precisavam de dinheiro para crescer, essas empresas, por serem novatas, tinham pouco acesso a crédito nos bancões.

  • Não à toa quase metade das startups americanas eram clientes do SVB.

Como chegamos até aqui? Graças ao apetite a risco gerado pelos juros zerados em 2020 e 2021, o SVB cresceu junto com seus clientes, que nunca receberam tanto dinheiro como nesse período. Os depósitos no banco cresceram 86% em 2021.

  • Para dar conta desse volume de aportes, o SVB começou a colocar o dinheiro em títulos pré-fixados de longo prazo do governo, um investimento tido como super seguro. Com os juros zerados, o rendimento também era baixíssimo.

O cenário azedou quando o Fed passou a subir os juros para frear a maior inflação nos EUA em 40 anos.

  • Só que as startups ainda precisavam de capital para seguir operando. A solução foi começar a sacar o que elas tinham no SBV.

O que deu errado? A carteira do SBV estava muito concentrada nos títulos pré-fixados, cujos preços caem quando os juros sobem (explicamos a marcação a mercado aqui).

  • Para dar conta dos saques das startups, o banco vendeu US$ 21 bilhões desses papéis, a um prejuízo de US$ 1,8 bilhões, disse o SVB na quarta (8). Ao mesmo tempo, a instituição também comunicou que iria fazer uma emissão de ações para recuperar o prejuízo. Esse foi o gatilho da crise.
  • No dia seguinte (9), as ações do banco despencaram 60%, enquanto as startups e seus investidores, os fundos de venture capital, correram para sacar seu dinheiro com o temor de que ele falisse.
  • Os pedidos de retirada somaram US$ 42 bilhões –um quarto dos ativos da instituição. O banco quebrou.

E agora?

As autoridades querem evitar ao máximo que o movimento de retirada se contamine por outros bancos, principalmente os menores, como os regionais. Isso aconteceu com o Signature Bank, que tem como clientes escritórios de advocacia, e também acabou quebrando.

  • Para honrar com o pagamento aos clientes do SVB e evitar novas falência, as autoridades americanas trabalham com alguns planos.

A prioridade é achar um comprador, para que ele volte a operar. Se não tiver interessado, o FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation) pode ser usado além dos seus limites.

  • O FDIC é o equivalente americano ao que é o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) no Brasil, entidade mantida pelo banco que garante aos correntistas o ressarcimento em até determinado valor em caso de uma instituição ir à falência.
  • Nos EUA, esse limite é de US$ 250 mil, mas muitas contas do SVB estavam acima desse patamar.

O Fed também anunciou que vai criar um programa emergencial de empréstimo, bancado pelo Tesouro, para que bancos que tenham que compensar saques não precisem vender títulos do governo com prejuízo.

Quais os principais impactos até aqui? Algumas startups clientes do SVB ficaram sem dinheiro para pagar os salários dos funcionários, e recorreram a seus investidores ou até a empréstimos pessoais para apagar o incêndio.

  • Países como Índia, Israel e Reino Unido se movimentam para proteger as startups locais que tinham dinheiro no SVB. Empresas brasileiras também estão expostas ao banco, e algumas correram para transferir seus recursos na sexta, noticiou o jornal Valor Econômico.
  • O Nubank, a maior fintech do país, informou ao mercado não ter qualquer exposição ao SVB.

Opinião:


Startup da Semana: Barte

O quadro traz às segundas o raio-x de uma startup que recebeu aporte recentemente.

A startup: com menos de um ano de operação, a Barte tem um modelo B2B (sigla para business to business, negócios entre empresas) e diz atuar para simplificar a gestão de caixa e facilitar o acesso a crédito.

  • Seus clientes são PMEs (pequenas e médias empresas) em que o fluxo de pagamentos é parte essencial da operação, como marketplaces, consultorias, fabricantes de equipamentos etc.

Em números: a startup anunciou na semana passada ter captado R$ 16 milhões em uma rodada seed (entenda aqui as etapas de investimento em startups).

  • O aporte se soma aos R$6,5 milhões anunciados há seis meses, quando a Barte dava seus primeiros passos.

Quem investiu: a rodada foi liderada pelo fundo NXTP –que tem na carteira pesos pesados como Nuvemshop e Cargox– e pelo fundo Force Over Mass, que estreia no Brasil com o investimento na Barte.

Que problema resolve: a startup automatiza as transações de seus clientes, para que elas se preocupem menos com a gestão de caixa. Por sua plataforma, ela também facilita o acesso a crédito, que costuma ser um gargalo para as PMEs.

Por que é destaque: além de a empresa ter registrado a maior captação seed da última semana, chama a atenção o volume captado –R$ 22,5 milhões– com menos de um ano de operação.

  • Nesse período ela atraiu mais de 2 mil clientes e movimentou mais de R$20 milhões pela plataforma. Para este ano, a meta é multiplicar de tamanho em dez vezes.
O brasileiro Raphael Dyxklay e o português Caetano Lacerda, fundadores da Barte
O brasileiro Raphael Dyxklay e o português Caetano Lacerda, fundadores da Barte - Divulgação


A semana em resumo

Foram 11 rodadas anunciadas por startups da América Latina, com US$ 50,6 milhões (R$ 262 milhões) em investimentos.

Os dados foram fornecidos pela plataforma Sling Hub.


Fundos imobiliários sentem crise das varejistas

A crise no varejo que atingiu Americanas, Marisa e Tok&Stok acabou resvalando nos FIIs (fundos de investimentos imobiliários).

Entenda: esses ativos têm contratos de aluguéis de galpões logísticos e lojas com as empresas, que deixaram de honrar com o pagamento.

  • O calote acabou afetando a distribuição de rendimentos aos cotistas, que, por serem isentos de IR, são o principal diferencial desse tipo de ativo.
  • Os FIIs, porém, têm a prerrogativa de entrar com uma ação de despejo. Se o imóvel for bem localizado e de alto padrão, devem conseguir encontrar novos locatários sem grande dificuldade.

Os principais fundos afetados pela crise no varejo

Vinci Logística Fundo de Investimento Imobiliário (VILG11): informou em 15 de fevereiro que entrou com uma ação de despejo contra a Tok&Stok depois de ela não ter pago o aluguel de um galpão logístico em Extrema (MG).

  • O ativo representa 14% da receita do fundo e os cotistas acabaram recebendo como rendimento R$ 0,53 por cota em fevereiro, uma queda de 21% em relação à distribuição de janeiro (R$ 0,67). O pagamento do aluguel de fevereiro foi feito.

Kinea Renda Imobiliária (KNRI11): informou não ter recebido o valor do aluguel devido pela Marisa do mês de janeiro de um centro de distribuição em Itaquaquecetuba (SP).

  • O contrato da varejista representa só 4% da receita do fundo e não impactou na distribuição de rendimentos.

Brasil Varejo (BVAR11): não recebeu aluguel de janeiro da Marisa, com a empresa respondendo por 80% da receita imobiliária do fundo, o que teve um impacto na distribuição de R$ 5,95 por cota.

Os fundos VBI Logístico (LVBI11), Bresco Logística (BRCO11), VBI Real Estate, (LVBI11) e Max Retail (MARX11) têm exposição à Americanas, empresa em RJ (recuperação judicial).

  • Enquanto as dívidas do período pré-RJ serão negociadas durante o processo, os pagamentos devidos após a RJ seguem o trâmite normal.

Opinião:

  • Fundos imobiliários são investimentos mais adequados que imóveis, mas a maioria prefere o pior. Entenda no blog De Grão em Grão.
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