Fundos de hedge ganharam US$ 7 bilhões em apostas contra bancos durante turbulência

Lucro dos vendedores a descoberto em março foi a maior do setor bancário desde 2008

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Laurence Fletcher
Londres | Financial Times

Os fundos de hedge obtiveram mais de US$ 7 bilhões em lucros apostando contra ações de bancos durante a recente crise que abalou o setor, a maior arrecadação do tipo desde a crise financeira de 2008.

Os ganhos abundantes ocorreram durante um mês sombrio para os bancos, com o colapso do Silicon Valley Bank e a venda emergencial do Credit Suisse afetando o setor como um todo. Em meio à queda dos preços das ações, o chanceler alemão Olaf Scholz foi forçado a desmentir os temores sobre a saúde do Deutsche Bank, e o First Republic, com sede na Califórnia, foi socorrido por rivais maiores.

Trader trabalha no pregão da Bolsa de Valores de Nova York, EUA - Brendan McDermid/REUTERS

Os vendedores a descoberto –que tomam ações emprestadas e as vendem, na esperança de comprá-las de volta a um preço mais baixo– obtiveram lucros totais estimados em cerca de US$ 1,3 bilhão com as posições vendidas contra o SVB, de acordo com o grupo de dados Ortex. Outros US$ 848 milhões em ganhos vieram de apostas contra o First Republic, cujas ações caíram 89% em março.

Os investidores ganharam US$ 684 milhões vendendo a descoberto o Credit Suisse, pois uma crise de confiança no credor suíço fez com que suas ações caíssem 71%, de acordo com os dados. Os lucros das posições vendidas no setor bancário dos Estados Unidos e da Europa como um todo totalizaram US$ 7,2 bilhões.

"Março foi o mês mais lucrativo para vendedores a descoberto no setor bancário desde a crise financeira de 2008", disse o cofundador da Ortex, Peter Hillerberg. Embora as ações dos bancos também tenham caído acentuadamente no início de 2020, no começo da pandemia de coronavírus, menos fundos estavam vendendo a descoberto no setor na época, limitando os ganhos, disse ele.

Barry Norris, diretor de investimentos da Argonaut Capital, disse que teve um mês "estelar", graças a apostas contra bancos como Credit Suisse e First Republic. Seu fundo Argonaut Absolute Return ganhou mais de 6%.

O Marshall Wace, com sede em Londres, um dos maiores grupos de fundos de hedge do mundo, também estava entre os apostadores, vendendo 0,7% das ações do Deutsche Bank. Os fundos obtiveram ganhos líquidos de cerca de US$ 40 milhões em apostas contra o credor alemão.

Muitos fundos de hedge responderam à turbulência crescente aumentando suas posições vendidas.

As apostas contra o Credit Suisse, por exemplo, estavam em apenas 3,5% das ações em circulação do banco no início de março, segundo a S&P Global Market Intelligence, conforme medido por ações emprestadas, mas saltaram para 14% em 20 de março, um dia após a venda do Credit Suisse para o UBS.

O short interest do First Republic disparou de apenas 1,3% no início de março para 38,5% no dia 30.

Outros gestores que se beneficiaram incluem o grupo de fundos de hedge americano Azora Capital, de Ravi Chopra, que lucrou com apostas contra bancos regionais americanos, segundo uma pessoa informada sobre suas posições. A Azora não respondeu a um pedido de comentários.

Os ganhos dos vendedores a descoberto no Deutsche, no entanto, foram mais fracos. Embora as apostas contra o banco tenham subido rapidamente de 1,4% no início de março para até 6,1% no dia 28, as ações do banco já haviam atingido o fundo do poço no dia 24 –o dos comentários de Scholz– e desde então recuperaram algum terreno, corroendo os ganhos dos fundos.

Os fundos de hedge parecem esperar que novos problemas surjam no setor. O short interest no First Republic permanece apenas marginalmente abaixo da alta de março, em 37,3%, enquanto as apostas contra o Deutsche também caíram apenas ligeiramente.

Norris, da Argonaut, destacou o programa de assistência à liquidez do Federal Reserve dos Estados Unidos anunciado no mês passado. Este reduz o risco de os bancos regionais americanos mais fracos quebrarem por falta de liquidez, disse ele, mas a alta taxa de juros cobrada pode levar a "um impacto catastrófico nas margens líquidas de juros, criando um risco de solvência".

"A crise de liquidez provavelmente acabou, mas a crise de solvência está prestes a começar", disse ele.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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