Descrição de chapéu Banco Central juros

Juro do rotativo do cartão de crédito atinge em março 430,5% ao ano, mostra BC

Esse é o maior patamar em seis anos; em março de 2017, a taxa estava em 490,3% ao ano

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Brasília

Na mira do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a taxa média de juros cobrada pelos bancos de pessoas físicas no rotativo do cartão de crédito atingiu em março 430,5% ao ano –o maior patamar em seis anos–, segundo dados do Banco Central divulgados nesta quarta-feira (26).

O número representa uma alta de 13,1 pontos percentuais na comparação com fevereiro, quando o juro estava em 417,4% ao ano. Em março de 2017, a taxa da modalidade era de 490,3% ao ano.

Essa é a linha de crédito mais cara do mercado, recomendada por especialistas apenas em casos emergenciais. O rotativo do cartão é acionado quando o cliente não paga o valor integral da fatura na data de vencimento.

Cartão de crédito
Rotativo do cartão é uma modalidade de crédito emergencial - Pixabay

"O cartão de crédito rotativo tem taxas de juros extraordinariamente elevadas. É uma modalidade que os clientes, sempre que possível, têm que fazer o máximo esforço possível para sair e buscar outras linhas de crédito na instituição financeira, que oferecerão prazos maiores e taxas de juros menores", afirmou o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.

Desde 2017, os bancos são obrigados a transferir após um mês a dívida do rotativo do cartão de crédito para o parcelado, que possui juros mais baixos. Nessa modalidade, o juro subiu para 192% ao ano em março, ante 189,6% ao ano no mês anterior –alta de 2,4 pontos percentuais.

Em março, a inadimplência de pessoas físicas no rotativo atingiu 48,2% –o maior nível da série histórica do BC. "Ninguém toma uma modalidade de crédito diretamente no cartão rotativo", disse o técnico da instituição. "O cliente do cartão de crédito rotativo já é um cliente que inadimpliu uma parcela de crédito de alguma outra modalidade do cartão."

O elevado patamar do juro do rotativo vem sendo debatido pelo governo Lula. Em 17 de março, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) se reuniu com o presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Ferreira, e o presidente da CNF (Confederação Nacional das Instituições Financeiras), Rodrigo Maia, para discutir o atual modelo. Nenhuma proposta foi apresentada, segundo os participantes do encontro.

"Hoje [dia 17] nós passamos uma hora estudando o modelo atual para que haja uma compreensão dos problemas que todos enfrentam em relação a isso. São muitos interlocutores, tem a bandeira, tem a maquininha, tem o banco, tem o lojista, tem muitos atores nesse processo", afirmou Haddad após a reunião.

"Pedi celeridade porque é uma preocupação do presidente Lula, e eles pediram para envolver o Banco Central em virtude da regulação do produto", acrescentou.

De acordo com o presidente da Febraban, o governo e integrantes da indústria do cartão de crédito vão constituir um grupo de trabalho com o BC para aprofundar as causas do spread [diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa cobrada do cliente] no rotativo.

Para Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), a questão central na discussão sobre o rotativo do cartão de crédito é como promover educação financeira, além de emprego e renda, para que as pessoas não recorram a modalidades tão arriscadas.

Quanto ao patamar dos juros, o especialista acha difícil estimar quais mudanças podem se concretizar e quando elas seriam implementadas.

"Depende do entendimento do governo brasileiro, Banco Central e sistema financeiro em busca de soluções para ter outras modalidades de crédito emergencial que sejam mais de longo prazo e mais baratas", disse.

Em entrevista à Folha, em meados de abril, o diretor de Regulação do Banco Central, Otávio Damaso, afirmou que a autoridade monetária não discutia até então a possibilidade de impor qualquer tipo de limite no rotativo ou de tabelamento de taxa de juros. Segundo ele, isso poderia trazer instabilidade para o mercado.

"Não está na pauta do Banco Central algum tipo de tabelamento de taxa de juros, o que a gente sempre busca são mecanismos de tornar todos os tipos de instrumentos financeiros mais eficientes. Tem alguma coisa prevista? Não tem, mas a gente está sempre analisando esse mercado", afirmou.

"Mas não está no pensamento do Banco Central qualquer tipo de cap [limite], porque isso poderia trazer algum tipo de instabilidade para um mercado superrelevante, importante, que alimenta a economia e todos os setores da economia, principalmente o varejo é extremamente dependente desse instrumento importante de pagamentos."

O parcelamento de compras sem juros no cartão de crédito virou tema de debate no setor financeiro brasileiro, depois que grandes bancos apontaram essa modalidade como um dos culpados pelas altas taxas de juros do rotativo dos cartões.

Representantes dos grandes bancos também se reuniram com Haddad para tratar de alternativas que possibilitem a redução dos juros no país. "Quando se fala do custo do cartão de crédito, não dá para dissociar do parcelado sem juros", afirmou o CEO do Santander Brasil, Mario Leão, na terça-feira (25), durante entrevista a jornalistas para comentar os resultados do Santander Brasil no primeiro trimestre.

Levantamento da Abranet (Associação Brasileira de Internet), que reúne empresas como PayPal, Mercado Pago e PagSeguro, em parceria com o Datafolha mostrou que cerca de 75% da população costuma parcelar as compras e, para 80% dos consumidores, a possibilidade de parcelar sem juros é determinante na escolha do estabelecimento em que será feita a compra.

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